BELEZA versus FEIURA § 64 – 66

#ricardobarreto #culturadevalor #valores #cultura #aforismos #beleza #feiura #obelo #estética #googletopia

§ 64

A fórmula do belo. Já tratamos o tema de forma sutil e até mesmo um pouco despretensiosa, mas tenho certeza de que valeu ao menos pela quebra do paradigma encerrado na questão.1 Agora vamos nos ater aos “traços” que definem a beleza, restringindo-nos ao plano físico palpável aos olhos de quem vê com olhos de ver… Não tenho dúvidas de que existe sim uma fórmula estética para “o belo”. Basta perscrutá-lo! Os verdadeiros artistas a sentem quase que intuitivamente, mas nossa proposição aqui se pauta pela lógica, até mesmo onde parece não haver espaço para ela… Resume-se à seguinte equação:

B = R2 . 5(S + H) + 2(13T – 7I)

Onde,

                        B = Beleza (somente a física);

                        R = Recursos (qualidade dos mesmos);

                        S = Simetria (grau de reflexão especular);

                        H = Harmonia (não cansar a visão);

                        T = Talento (capacidade inata de combinar elementos);

                        I = Imperfeições (grau de singularidade dos elementos).

§ 65

Estética do absurdo. Brincadeiras à parte, tal fórmula não existe e seria uma elucubração do empirismo estético! Apesar de existir coisa ainda pior na literatura especializada, nos recônditos acadêmicos dos pseudo-sábios que justificam sua posição por teorias sem relevância prática, seria capaz, outrossim, somente de incitar a curiosidade dos matemáticos e pouco agregaria ao entendimento das raízes que levam aos padrões mais elevados de beleza. O fato é que o belo deve partir de uma seleção apurada dos recursos, buscando a combinação perfeita de elementos para conferir, em igual proporção, tanto simetria como harmonia. Claro que o design perfeito ainda requer uma boa “pitada” de talento, mas a “pegadinha” aqui é a seguinte: sempre deve haver uma sutil imperfeição que sirva apenas para revelar nossa “baixeza” perante o Criador. Aquela tão sutil que passa praticamente imperceptível aos olhares menos atentos. Quase como se fosse um teste para averiguar a habilidade de quem a aprecia. Da Vinci era o mestre destes truques do ilusionismo em suas pinturas e, diga-se de passagem, de muitas outras coisas.2 Pena que ao longo da história muito poucos terão olhares tão apurados como um Steve Jobs ou um Michelangelo.  

§ 66

Googletopia. Vamos a um exemplo prático e atual de aplicação desta tal “fórmula utópica” do belo. Nada mais simples e efetivo do que a primeira página do mecanismo de busca que revolucionou a internet: o Google. Todos conhecem a “brincadeirinha” com a logomarca da empresa na barra de buscas, em especial nas datas comemorativas. Vejam com atenção o exemplo a seguir. Notem os padrões de simetria da letra, a harmonia dos tamanhos, as imperfeições ao fundo, a sutileza de posicionamento dos objetos do cenário e, claro, o talento para combinar tudo isto de forma única numa logomarca que simplesmente não sai da nossa cabeça! Alguém por acaso conseguiria ficar enjoado ao abrir seu navegador de internet todo santo dia e se deparar com uma figurinha tão bela e instigante como esta?!

Figura. Exemplo de beleza das coisas: a homepage do Google.

            Confesso que, por algum motivo de caráter mais subliminar, sinto até um certo toque de felicidade ao contemplar tal figurinha, mais precisamente aquela usual e toda coloridinha… Tamanha simplicidade, mesclada com um tremendo nível de perspicácia na combinação de elementos e cores, realmente é para poucos. Reflete muito bem a ideologia de vida de Larry Page, um de seus fundadores e criador do algoritmo que pode ser considerado um dos mais importantes dos nossos tempos!

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1. Ibid.

2. Walter Isaacson, Leonardo da Vinci, 1a ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.

CULTURA versus SUPERFICIALIDADE § 61 – 63

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§ 61

Um jogo de estatísticas a dois: projetos de valor. E se o foco da grande maioria das pessoas estiver justamente no sentido contrário ao das “experiências de valor”? Não importa. A validade está justamente na experiência contínua de tentativa e erro. Se eventualmente destruir valor, isto mais cedo ou mais tarde será percebido e haverá chances de se compensar com outras experiências de valor, desde que continue sempre tentando. Pense, por exemplo, nos relacionamentos conjugais. Foi-se o tempo em que o matrimônio era indissolúvel. Muitos sabem o quão difícil é acertar de primeira… Sofremos e fazemos os outros sofrerem, até amadurecer e encontrar aqueles com quem a “equação de valor” torne-se finalmente positiva. Quando trabalhamos em “projetos de valor”, no médio e longo prazo, também é imperioso saber este jogo de estatísticas. Quantos projetos fracassados precisam acontecer até chegar naquele que transforma o rumo das coisas? Foco, portanto, é literalmente “jogar a favor” da experimentação. Só assim poderá nos levar a um novo patamar de desempenho em qualquer tipo de relacionamento!

§ 62

A falácia da lei de atração. Por acaso não existe uma técnica para melhorarmos os resultados destes “experimentos de valor”? Algo assim mais científico como a química, em que misturamos os reagentes, preparamos o meio reacional e só esperamos para isolar os produtos. Se eu não fosse químico orgânico sintético, ficaria ainda mais surpreso com a aparente facilidade de se gerar tantos “produtos mentais” no dia-a-dia das nossas vidas… Mas qual foi o rendimento? E a pureza?? Essas “fórmulas” invariavelmente escondem a complexidade de se reproduzir os resultados, haja vista o universo que se encadeia por múltiplos fatores. É como a teoria de “O Segredo”, propalada como se fosse uma revelação dos sábios de várias épocas. Dizem até que filósofos, pesquisadores e líderes a esconderam por muito tempo em sociedades secretas e que, na verdade, é uma fórmula extremamente simples, definida simplesmente pela “lei de atração”. Diferentemente da física, neste caso a atração é literalmente a “fórmula do sucesso”, em que as grandes conquistas dependem única e exclusivamente da força dos nossos pensamentos. Confesso que já assisti ao famoso documentário; já li o não menos famoso livro; e já pratiquei um bocado. De fato, obtive alguns acertos decisivos em minha vida. No entanto, confesso que muitas vezes me deparo com dificuldades para manter o controle e a força dos pensamentos direcionados. Percebi que os três passos de “O segredo” (pedir, crer e receber) são ainda mais simples do que os sete passos do nosso ciclo de cultura de valor, no entanto cheguei à conclusão de que, filosoficamente, não estão corretos apesar dos inúmeros resultados práticos.

§ 63

Céticos materialistas: uma aparente dicotomia. Acabamos de ver que o “generalismo” nos leva ao erro da superficialidade. Mas estes três ou até mesmo sete passos, a dita “fórmula” da sabedoria, não generalizam a profundidade dos conhecimentos de milênios de estudos e teorias religiosas e filosóficas? Pensar assim seria outro grande erro. Não devemos confundir “generalismo” com “minimalismo”. Até hoje grandes cientistas como Albert Einstein e Stephen Hawking buscam a unificação das leis da física, conectando o universo macroscópico com o universo quântico.1 Por que será então que os grandes pensadores também não poderiam buscar uma fórmula única que fosse capaz de sintetizar todas as crenças e que explicaria os fenômenos da consciência nos planos físico e sutil ao mesmo tempo? Ao que tudo indica, nesta corrida pela compreensão do universo cósmico, os “céticos materialistas” estão ficando cada vez mais para trás… Acontece que, desta aparente dicotomia, o caminho por eles percorrido levará exatamente ao mesmo ponto! Mas voltaremos exatamente neste ponto lá no finalzinho desta obra. Aguardem.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1. Stephen Hawking, A Brief History of Time, New York: Bantam Books, 1988.

CULTURA versus SUPERFICIALIDADE § 58 – 60

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§ 58

O perigo da “espiral de curtição”. O supérfluo é imposto às pessoas sem que elas se apercebam. No mundo de hoje, ao curtir um post no facebook ou assistir a um video no Netflix, [*] ninguém fica imaginando que existe um sutil mecanismo de inteligência artificial, literalmente um “robozinho” por trás da tela avaliando continuamente nosso perfil, através de complexos algoritmos de machine learning que nos sugerem conteúdos relacionados numa espécie de “espiral de curtição” que acaba por limitar nossa “visão” de outras postagens que poderiam até ser bem mais interessantes… 1 É exatamente este fenômeno que tem acontecido no dia a dia da vida das pessoas. Seguimos padrões de comportamento que são perfeitamente previsíveis e dão cada vez mais força aos tais “robozinhos”. Na verdade, nos tornamos muito parecidos com eles! Se um jogador de futebol pinta o cabelo de amarelo e dá uma “lambida” para frente, toca todo mundo a fazê-lo… Não existe mais senso crítico. Estamos à mercê da superficialidade.

§ 59

Os “evangelistas” dos tempos modernos. Não pense você que são eles pregadores religiosos. Longe disso. Os encontrará ao contabilizar milhares de seguidores no facebook, seus interesses no Twitter e, o mais importante, se é declaradamente um entusiasta das novas tecnologias. O “evangelista moderno” gosta de ser sempre o primeiro a experimentar as últimas inovações, num ritmo tão acelerado quanto a própria competição nestes mercados, em que as organizações que “brilham” são ágeis, porém temporárias. São chamadas de startups e primam pela alta capacidade de mudança, promovendo verdadeira revoluções no modo como os produtos e serviços são percebidos, em espaços de valor nunca dantes imaginados… Quem iria imaginar que um Uber acabaria com os taxistas e um Netflix acabaria com o “estrelato” de Hollywood! Foi Steve Blanck, o verdadeiro “guru” do Vale do Silício, quem cunhou o termo earlyvangelist que já é considerado um dos mais importantes neologismos do século XXI. 2

§ 60

Importância das experiências de valor. As redes sociais, ao aglutinar pessoas num debate “virtual” de ideias, representam hoje aquilo que as Ágoras o foram na Grécia antiga. O único problema é que, na falta de boas ideias, o que se discute muitas vezes é a fofoca mais quente do momento, enquanto deveriam estar falando da mais nova tecnologia que irá revolucionar a vida das pessoas! Como podemos então nos livrar desta verdadeira “anticultura” que aniquila a geração de valor? A cultura que nos importa verdadeiramente se constrói pela sucessão de inúmeras interações com earlyvangelists. O desafio é romper com a escassez de conteúdo relevante na medida que somos constantemente desviados pelos “generalistas”, perdendo o foco daquilo que nos levaria a um patamar de conhecimento inimaginável. Não deixe sua vida se tornar um laboratório vazio de ideias. Cultive experiências de valor. Viva no ecossistema das startups e será surpreendido por elas.


[*] Interessante a reportagem publicada na revista Wired de outubro de 2014 que relata um experimento realizado pelo jornalista Mat Honan que simulou ser o “usuário perfeito” do facebook, curtindo exatamente tudo o que visse na rede até o limite de dar um verdadeiro “nó” na cabeça do tal “robozinho” de avaliação de perfil…

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

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Saiba mais:

1. MacCormick, John, Nine algorithms that changed the future, the ingenious ideas tha drive today´s computers, Princeton University Press, New Jersey, 2012.

2. Blank, S. G. The four steps to the epiphany: Successful strategies for products that win. Califórnia, 2007.

CULTURA versus SUPERFICIALIDADE § 55 – 57

#ricardobarreto #culturadevalor #valores #cultura #aforismos #superficialidade #JaneAusten #mudançadehábitos

§ 55

YouTube versus Jane Austen. Insana comparação! Mas qual seria a melhor explicação para tanta coisa supérflua que nos rodeia hoje em dia? Difícil mesmo de entender… Somente quando lemos um romance de Jane Austen transparece a brutal mudança de hábitos num espaço de tempo de um pouco mais de 200 anos. 1

Foto em preto e branco de rosto de pessoa visto de perto

Descrição gerada automaticamente
Figura. Jane Austen: escritora inglesa de incomparável percepção.

Nem é preciso ir tão longe assim. Tente lembrar-se dos hábitos familiares na sua infância. Com certeza notará muitas diferenças! Na minha casa, por exemplo, era “sagrada” a reunião na sala, todos a postos no sofá para curtir o Fantástico da TV Globo no domingo. Hoje, se o leitor me visitar por volta das 21h de um domingo qualquer, certamente encontrará um ser em “posição de lótus” numa poltrona, pesquisando no Google algo que tenha chamado atenção na leitura dominical edificante, minha esposa estirada no sofá atualizando-se no iPhone e minha filhinha, claro, assistindo as últimas dicas de maquiagem da sua YouTuber preferida no iPad! Ora, qual seria o título que Jane Austen escreveria se estivesse entre nós neste momento? Ah, seria um vídeo bem curtinho: com uns 3 likes e apenas um “cheiro” de sense and sensibility… [hehe]   

§ 56

Ciência e tecnologia. A mudança de hábitos ocorreu, indubitavelmente, na mesma velocidade que vieram os progressos da ciência e as suas mais variadas aplicações tecnológicas no cotidiano das pessoas. Nunca, em toda história da humanidade, foram vistas tantas inovações tecnológicas aparecerem e desaparecerem, moldando nossas vidas e hábitos mais arraigados. Se me perguntarem qual seria o barato de ter um aparelho de fax, não titubearia em responder com a emoção daquele bipe… Já minha filhinha, ao mesmo tempo que edita uma foto para postar no Instagram, responderia com outra pergunta: mas este tal “bipe” serve pra quê?! Quanta tecnologia vai e vem, mas pensem comigo: será que precisamos mesmo de tudo isso? Não pensem vocês que a culpa é da ciência ou dos empreendedores. De forma alguma. Sempre as respostas remontam a questões mais filosóficas…

§ 57

Dinheiro ou poder? Ambos. Vamos primeiramente refletir sobre o que leva o homem a desenvolver tais tecnologias. Sim, o que os move, via de regra, é a saga por conquistar dinheiro e poder. Assim, garante-se praticamente todos os seus anseios no plano material. Mas Fernando Pessoa diria que “sempre falta uma coisa: uma frase, um copo, uma brisa”, forçando-nos a descer mais um degrau na análise. Por que o homem precisa de tanto dinheiro? Será mesmo que precisamos ir além do minimamente necessário para sobrevivência, conforto e a segurança da família?? Tudo que nos ilude se resume em comodidade, prazer e previdência. Nada mais. A humanidade é materialista por natureza. Seguem seus instintos de forma consciente ou inconsciente. Muitas vezes não se apercebem que suas ações e hábitos estão sendo moldados de acordo com os costumes da época que estão vivendo, mais propriamente das tecnologias em voga que ditam as formas de relacionamento. Isto não quer dizer que toda e qualquer tecnologia é desnecessária. Não tenho dúvidas de que o aparelho de fax deveria ser algo vital para uma corretora de seguros nas décadas de 80 e 90, assim como o Instagram o é hoje para cultivar as amizades… No fundo, o que dita os avanços tecnológicos, são as próprias necessidades e desejos humanos. São eles que mudam e não o contrário. Pronto, falei.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1Jane Austen, Pride and Prejudice (Orgulho e Preconceito) terminado em 1797 e publicado somente em 1813.

CONHECIMENTO versus IGNORÂNCIA § 52 – 54

#ricardobarreto #culturadevalor #valores #cultura #aforismos #ignorância #conhecimento #desinformação #funildevalor

§ 52

Soluções para escalabilidade de informações. Como podemos lidar com esta geração desenfreada de informação? Da ânsia exagerada por conhecimento em que a sociedade está se afogando, gerando mais desinformação que outra coisa: a forma mais lamentável de ignorância… São duas as alternativas que se reforçam concomitantemente: ora põe-se “amarras” ao pensamento, ora sistematiza-se o pensar para limitar os registros na memória. Uns até chegaram a defender o tal do ócio para propiciar tempo à eclosão da criatividade.1 Outros preferem a reclusão aos estados meditativos para acalmar a mente, perseguindo o equilíbrio entre o corpo e a mente.2 Ainda existem aqueles que propalam que a mente deve ser organizada, da mesma forma que organizamos o armário das nossas casas ou a agenda de compromissos.3 São tantas as alternativas que não podíamos deixar de propor mais uma…

§ 53

Funil de valor: para quê? Não tem jeito. Precisamos aprender a viver e a “conviver” na chamada economia da informação. Do fluxo de dados que se nos apresenta a todo instante, precisamos de encontrar uma forma de “separar o joio do trigo”. Vejamos. Acredito piamente que não existe uma fórmula única para lidar com o verdadeiro “caos informacional” que bombardeia nossa consciência a todo instante. No entanto, vamos nos arriscar a criar uma “regra de ouro” alinhada ao propósito de disseminar a Cultura de Valor: algo simples e que possa orientar nossas atitudes de forma prática e eficaz. Esta regra, na verdade, é um tipo de “filtro” que chamamos de funil de valor.

Uma imagem contendo copo, copo descartável

Descrição gerada automaticamente
Figura. Regra do funil de valor.

A cada estímulo informacional recebido, devemos fazer uma única indagação: isto estimula em mim pensamentos que geram ou destroem valor? Será, assim, muito mais fácil de identificar aquilo que é aproveitável em pelo menos algum aspecto das nossas vidas ou “pura” perda de tempo! À primeira vista, pode parecer muito estranha esta conversa íntima a todo instante, mas aos poucos perceberemos que esta é, na verdade, a chave do autocontrole e, arrisco-me a dizer: do próprio sucesso das nossas ações. Lembrem-se que o fluxo de pensamentos que bombardeiam a nossa mente, a cada novo estímulo informacional, são os propulsores de uma cadeia de ações e hábitos, determinantes para o resultado final em nossas vidas: a tão almejada geração de valor.

§ 54

Game versus Desassossego. Imaginemos a seguinte situação: ao acordar num feriado, enquanto uma adolescente toma seu leitinho com chocolate, recebe o telefonema de uma amiga do condomínio convidando-a para uma sessão de videogame em sua casa. Sabe, aquele joguinho novo que todos estão comentando nas redes sociais… Ela se lembra, após desligar a ligação, que a sua professora de literatura tinha dado a dica de aproveitar o feriado para ler o primeiro capítulo do chamado “Livro do Desassossego” de Fernando Pessoa e escrever uma resenha sobre ele.4 Qual a fonte de informação que ela deverá optar neste caso? Não há dúvidas de que ambas geram fortes estímulos na garota. No entanto, se utilizasse o “funil de valor”, o heterônimo de um Fernando Pessoa traria muito mais luz aos seus pensamentos desta manhã ensolarada…     

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1De Masi, D. O Ócio Criativo, Rio de Janeiro: Sextante, 328 p., 2000.

2. Benson, H., Proctor, W. Relaxation Revolution: the Science and genetics of mind-body healing, 2010, New York: Scribner, p. 3-20

3Ibid.

4. Pessoa, Fernando, Livro do Desassossego por Bernardo Soares, vols. I e II. Lisboa: Ática, 1982.

CONHECIMENTO versus IGNORÂNCIA § 49 – 51

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§ 49

Humildade de pensamento. Eis um exemplo da boa aplicação da inteligência. Cursava ainda o primeiro ano do colegial técnico (num curso de química industrial da região de Campinas, SP) e o professor de matemática era daqueles barbudos, de ar judaico-cristão, com alguma empáfia, porém simpático o suficiente para cativar a atenção dos alunos mais exíguos por, ao menos, alguns minutos… Tal figura costumava lançar desafios ao final da aula, daqueles que servem só para desestimular ainda mais os que não tinham entendido sequer a matéria do dia, “cuspida” na lousa como se fosse algo trivial demais para sua posição intelectiva. Isto porque eram problemas extraídos das últimas edições das olimpíadas de matemática, muito longe de um enigma de Poincaré! [*] Acontece que, ao meu lado sentava-se um certo aluno genial. Sem que ninguém notasse, ele resolvia todos os problemas em questões de segundos e ficava bem quietinho para que os demais não percebessem. Dá para acreditar?! E aquele professor ainda se regozijava ao copiar a solução na lousa como se fosse uma conquista de Apolo diante do Oráculo de Delfos… Santa ignorância! A humildade de pensamento é certamente uma das mais belas conquistas daqueles que galgaram o verdadeiro saber.

§ 50

Dataísmo: o novo paradigma. Já parou para pensar como a inteligência artificial está tomando conta de tudo que nos rodeia? Se você ainda não sabe que raios é um algoritmo e para que serve, então chegou o momento de correr atrás do prejuízo porque o mundo que se descortina já é daqueles que dominam a capacidade de compreender e desenhar algoritmos. Foi o historiador israelita de Oxford, Yuval N. Harari, quem nos brindou com uma visão mais prática e ao mesmo tempo fatalista do dataísmo,1 mostrando sua emergência de duas das principais torrentes do conhecimento científico: primeiro a eclosão pós-Darwin dos “algoritmos bioquímicos”, seguida algum tempo depois com Alan Turing desvendando o fenômeno da computação e o nascimento dos “algoritmos eletrônicos”. Independente do que você pensa ou possa vir a pensar sobre o tema, ninguém pode negar que a barreira entre máquina e os animais já foi transposta. E o que muitos religiosos ortodoxos temiam já aconteceu: os algoritmos eletrônicos decifraram e já estão superando os algoritmos bioquímicos em muitas aplicações! Eis a síntese do novo paradigma a que todos deverão se submeter, independente de visão religiosa:

O universo consiste num fluxo de dados e o valor de qualquer fenômeno ou entidade é determinado por sua contribuição ao processamento de dados.

§ 51

Desvendando a hiperconsciência. Acredito piamente na existência de certos conhecimentos avançados que a humanidade sequer perscrutou. Neste século despertamos para a cultura da colaboração em massa,2 articulados por meio de redes sociais, os seres humanos dispõem de mecanismos de interação nunca antes vistos para a propagação de informações. Inúmeras plataformas colaborativas foram criadas na internet num ritmo que põe em risco a nossa própria capacidade de processamento. Fato é que este fenômeno está promovendo uma verdadeira revolução do conhecimento! E ainda estamos somente no início desta que tem sido chamada a Era da Informação. No entanto, este foi só mais um passo na busca da tão almejada transcendência. Um dia não serão mais necessários dutos de fibra ótica para trafegar a informação e muito menos protocolos formais para navegar no emaranhado de dispositivos computacionais. Outrossim, a limpidez do pensamento, alcançada só nos estados meditativos que propiciam a conexão instantânea entre consciências. Pasmem: fato é que o primeiro caso de telepatia entre seres humanos já foi relatado recentemente na literatura científica através de sofisticados mecanismos de interface cerebral.3 Ao estado de “conexão consciencial”, quando estabelecida uma rede de comunicação em larga escala com o propósito de gerar, receptar e propagar conteúdos relevantes para formação do conhecimento cósmico ou imanente, chamamos hiperconsciência. A “Internet das Coisas” (IoT – the internet of things) é só um passo rumo à grande revolução da IoC ou a “Internet das Consciências”. Para que precisamos de computadores se podemos nos conectar uns aos outros pela mente e na velocidade do pensamento? Voilá!


[*] Conhecida como a conjectura de Poincaré, foi formulada em 1904 pelo matemático francês Henri Poincaré e resolvida, anonimamente, pelo matemático russo Grigory Perelman em 2002.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1Harari, Yuval Noah, HOMO DEUS: uma breve história do amanhã, 1a ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

2. Tapscott, Don, Wikinomics: como a coloboração em massa pode mudar o seu negócio, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 2007.

3. A Direct Brain-to-Brain Interface in Humans, Rajesh P. N. Rao et al. PLOS one, 9 (11), 2014.

CONHECIMENTO versus IGNORÂNCIA § 46 – 48

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§ 46

Diálogo com Chicão (parte II). E naquele sebo, digno do Chicão, antes de frustrar quaisquer expetativas literárias, me  disse ele mais ou menos assim:

_ Espere um minuto, meu caro. Não é comum, nos dias de hoje, aparecer por aqui um jovem interessado nestas coisas…

Saiu do recinto por um instante e voltou com um punhado de livros empoeirados, dentre os quais fui surpreendido por preciosidades como uma coleção de Júlio Verne do século XIX e um tratado de medicina alternativa publicado no Uruguai muito tempo atrás… Puxa, mas que maravilha viajar no tempo assim, pela literatura e a saga pelo conhecimento! Meu orçamento não estava à altura do verdadeiro valor daquelas obras, mas o Chicão viu o brilho dos meus olhos e propôs uma “marota” e gostosa brincadeira:

 _ Você levará estes e todos aqueles outros ali se acertar ao menos uma das perguntas que lhe farei… [hehe]

Claro que ele começou com a mais fácil. Veja só:

_ Qual foi o primeiro livro publicado em solo brasileiro?

Não preciso dizer que passei bem longe da resposta certa… [*] Então, fui bombardeado por uma série de perguntas, uma mais difícil e ao mesmo tempo interessante que a outra. Acho que valeria uma “tese acadêmica” a busca pelas respostas detalhadas para cada uma delas… Eu, pasmo, percebi o tamanho da minha “ignorância” diante daquele homem tão maravilhoso de se ouvir, tamanha sabedoria! Conversamos um bom bocado (na verdade minha vontade era passar o resto do dia ali, mas a esta altura minha mulher e filhinha, sentadas na frente daquela casa antiga, já me olhavam com uma cara pra lá de azeda). Moral da história: levei comigo muitos livros preciosos por uma bagatela e digo a vocês, foi uma das experiências mais indescritíveis sobre o tema: um douto d´alma, um “espírito livre”, digno de estar num pedestal junto de Bertrand Russel ou, por que não, de um Nietsche… Sim, fiquei apaixonado por aquele homem, pelo Chicão. O resto, por Deus, está cravado em minha memória!

Figura. Marília de Dirceu: primeiro livro editado no Brasil.

§ 47

Ninguém sabe o que julga. Poderíamos inferir, por conseguinte, que a ignorância é resultante apenas da falta de conhecimento, certo? Nenhuma conclusão diferente desta seria mais apropriada! O ignorante é aquele que, por algum motivo ignóbil, priva-se de descobrir e acumular novos conhecimentos. Assume, por assim dizer, certas “verdades” e não aceita nada que as contraponha. Ou seja, como diria Sócrates: é aquele que “sabe o que julga, mas ignora o que não sabe”. São, portanto, dogmáticos puros. Talvez seja este o pior tipo de “cegueira”, aquela em que se vive num mundo cerceado por crenças infundadas. Pense em alguém que não escuta e fala desenfreadamente. Não aceita ideias alheias de sorte alguma. Seus pensamentos são literalmente “blindados” à construção do saber. Isto quer dizer que não há renovação das crenças: o aspecto que melhor caracteriza uma consciência virtuose!

§ 48

Cientologia ou dataísmo? Cite um exemplo prático de como a ignorância pode atrapalhar a evolução consciencial. Normalmente estas pessoas “ignorantes” vão se isolando, limitando-se ao convívio com um grupo restrito de consciências que tenham crenças minimamente semelhantes às suas… Veja o caso dos “cientologistas”. Muitos dissidentes desta seita, travestida de apelos de ficção muito além das telinhas (o ator Tom Cruise é o mais conhecido fiel), relatam que perderam o contato até mesmo com os familiares mais íntimos. Este tipo de credo normalmente acompanha rígidas práticas aos adeptos à medida que avançam no processo que denominam de “auditoria”, sem falar das perdas financeiras impostas para mudarem de estágio de desenvolvimento. A “igreja da cientologia” é propalada como religião em muitos países desenvolvidos,[**] mas os exemplos de extremismos “exóticos” estão se tornando muito frequentes entre as camadas mais instruídas da população mundial, desde o clássico embate dos criacionistas versus evolucionistas, até a mais recente onda que chega com a promessa de poder mudar a nossa visão de mundo: o dataísmo.1 


[*] O Brasil começou a editar livros em 1808 com a fundação da Imprensa Régia por D. João VI. A primeira obra a ser impressa foi Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga. Nesta época, era o imperador quem decidia que livros seriam ou não publicados… A impressão fora das oficinas reais era proibida! Por isso, só era divulgado o que não “ofendia” o Estado, a religião e os costumes da época.

[**] A Cientologia é um conjunto de crenças e práticas criada por L. Ron Hubbard (1911–1986), começando em 1952, como sucessor ao seu sistema de autoajuda chamado Dianéticas. Hubbard caracterizou a Cientologia como religião e em 1953 incorporou a Igreja da Cientologia em Camden, Nova Jersey.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1Harari, Yuval Noah, HOMO DEUS: uma breve história do amanhã, 1a ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

CONHECIMENTO versus IGNORÂNCIA § 43 – 45

#ricardobarreto #culturadevalor #valores #cultura #aforismos #conhecimento #ignorância #inteligência #sabedoria #saber #erudição #sebodoChicão #ouropreto

§ 43

Conhecimento e inteligência. Por que será que há ainda tanta confusão acerca do significado de conhecimento e inteligência? Entendo que, em grande parte, devido à confusão que muitos fazem ao considerar inteligentes aqueles que meramente praticam o “ato puro” de pensar, com o mínimo de lógica, diga-se de passagem nada diferente dos computadores, muito embora estes ainda de maneira rudimentar em comparação com a maravilhosa máquina que é o cérebro humano! O conhecimento, por sua vez, seria mais propriamente o arcabouço de todas as experiências pregressas, adquiridas em virtude da capacidade de cognição, aliada à correta aplicação da inteligência, e acessíveis através da memória integral.1 Importante destacar que estas experiências podem se dar no plano físico e sutil, independente do estado de consciência, mas dependentes, outrossim, do pleno funcionamento da mente que envolve não só o pensar, mas também processar e difundir a informação através da linguagem. Não adiantaria de nada saber detalhes de fenômenos complexos da natureza, em camadas de informação registradas de longa data, talvez de outras existências no plano terreno, caso na presente vida careça o ser do formalismo científico necessário para expressar e compartilhar tal conhecimento.

§ 44

Erudição, falácia do saber. Quer dizer, então, que poderia um simplório lavrador, nascido e criado na roça, até mesmo analfabeto, ter conhecimento superior ao de um douto erudito que sorveu de tudo, nos mais sofisticados ambientes acadêmicos? Não tenho dúvidas. Pode inclusive demonstrar não só inteligência superior, mas também conhecimento de maior valor para humanidade. Você nunca se deparou com uma pessoa que muitos até a classificariam de “ignorante”, somente a julgar pelas aparências e jeito de falar, mas que o surpreendeu com tamanha sabedoria, aplicada em circunstâncias inesperadas da vida? Eu vivenciei um episódio assim recentemente em Ouro Preto (MG), ao conhecer aquele que carinhosamente apelidei de “Dr. Chicão”. Talvez tenha sido ele um reconhecido cientista ou literato numa época longínqua, quem sabe até numa outra existência! Não podemos limitar nossa visão ao curto espaço de tempo de uma vida… Este é um erro que muitas crenças ainda insistem em cometer. Graça a ele, hoje tenho por certo que o conhecimento é o que diferencia de fato todas as consciências. Este pode ser acumulado ao longo de toda a sua existência, independente do plano em que você se encontra inserido. Melhor de tudo: vai vida, chega vida, sai corpo, entra corpo, e continua gravado, indelevelmente, no grande repositório cósmico que é a consciência divina.

§ 45

Uma primorosa lição de sabedoria (parte I). Era pleno verão, num fatídico janeiro de 2016, mas a cidadela histórica de Ouro Preto (MG) mais parecia uma “Durham inglesa” em meio à penumbra daquela chuvinha fina que não cessava há dias, sem falar do friozinho de 15 graus centígrados, impensável para aquela época do ano. Em meio ao sobe e desce dos morros íngremes e ao entra e sai das igrejas que marcaram época no Brasil colonial, eu não sucumbia ao cansaço, tamanha minha obstinação por encontrar um sebo, onde pudesse adquirir algumas obras literárias raras (por sinal, meu principal hobby favorito em toda e qualquer viagem). Já tinha vasculhado os recônditos mais conhecidos da cidade sem sucesso. Parecia que os “gringos”, claro, já tinham esvaziado tudo o que existia de valoroso nestes redutos de velharias e também de algumas preciosidades… Pois bem. Foi quando adentrei na última indicação feita pelo guarda da Igreja do Carmo: o tal do “Sebo do Chicão”. Confesso que não esperava grande coisa. Bati na porta insistentemente, mas parecia que não havia ninguém naquela casa secular, abandonada e merecedora de uma restauração daquelas. Eis que de repente, a porta se abriu e apresentou-se diante de mim um senhor careca (na verdade tinha alguns poucos cabelos brancos suados, ala Paulo Coelho), de poucos dentes, não muito cheiroso, fisionomia sofrida e literalmente “surrado” pelo tempo… Transmitia, ao mesmo tempo, um “ar” de humildade e melancolia em cada uma das suas palavras, mas ao ouvir minha curiosidade literária, abriu suas portas (fechadas para o público já há algum tempo) para que eu pudesse conhecer, mesmo que de relance, o que restava do seu bom e velho sebo que, vim a descobrir, já fora um dos mais conhecidos da cidade! Em meio aos diversos objetos antigos amontoados, desde ferraduras de cavalos de militares famosos do “Brasil colônia”, até peças de louça inglesa pertencentes a fidalgos que viveram ali nos tempos áureos de Tiradentes, nem parecia que o sebo tinha encerrado suas atividades após longos anos. Mas o que me intrigava mesmo era o olhar do Chicão: mesmo cansado e absorto, despertou interesse descomunal quando o indaguei sobre o motivo da minha busca… Dali viria um diálogo arrebatador: o diálogo com Chicão! (vide parte II)

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1. O Conhecimento e a Inteligência, LIVROVIVO 2000 – 2002, publicado pelo autor em 2003.

RIQUEZA versus LUXÚRIA: § 40 – 42

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§ 40

Da distribuição da riqueza. Assim como na natureza, onde os estados extremos buscam sempre a condição de equilíbrio, assim também deveria ocorrer nas micro e macroeconomias. Assimetrias no fluxo de capitais geram situações instáveis que, cedo ou tarde, acabam por ruir de alguma forma. E, diga-se de passagem, nem sempre da melhor forma. A história está repleta de exemplos… Não é preciso nos esforçar para encontrar guerras ou revoluções promovendo “ajustes” sociais que não ocorreriam pela ganância daqueles que detém os recursos e a falta de petulância daqueles que não o têm. Por mais que economistas brilhantes como um Anthony B. Atkinson proponham soluções criativas para que as sociedades minimizem a concentração das riquezas nos “quartis” superiores da pirâmide social,1 dificilmente observaremos sociedades mais justas e igualitárias enquanto o modus operandi daqueles que detém o poder for pautado por artifícios para mantê-lo, abusando das mais engenhosas dimensões de perpetuidade. Eis aí uma típica questão do antivalor da luxúria!          

§ 41

Bilionários em ascensão. E por que então deveríamos considerar mais “louváveis” os recursos no plano sutil? Todos os recursos têm a sua função, independente do plano e dos propósitos dos seres que transitoriamente os detém. Existem seres gerando valor significativo aqui mesmo na realidade física e isto não tem nada de errado! O que dizer dos benefícios materiais gerados por bilionários “conscientes” como os fundadores da Bill & Melinda Gates e, mais recentemente, a criação da Chan Zuckerberg Initiative com o compromisso público de doação de 99% das ações de uma das maiores empresas de internet do mundo (o facebbok)? Numa sociedade madura, onde este tipo de iniciativa começa a se tornar mais frequente, não há dúvidas de que as soluções criativas do Prof. Atkinson para mitigar a desigualdade encontrarão terreno fértil para se propagarem como germes do verdadeiro valor da riqueza.

§ 42

Um sistema de valores conscienciais. Eis o prenúncio de uma migração gradativa de valores: de uma “economia de capital” para uma “economia consciencial”. Imaginem se empresas gigantes como uma Microsoft ou o próprio facebook, cujos orçamentos superam muitos países, distribuíssem parte significativa dos recursos para projetos socioambientais e não somente se voltassem para os interesses dos acionistas. Que tipo de retorno, na forma de vibrações, poderíamos esperar de uma paciente terminal de câncer quando recebesse a notícia da descoberta de um novo tipo de tratamento descoberto por um projeto de pesquisas apoiado pela fundação Bill & Melinda Gates? Ou senão o que dizer dos sonhos que não passavam antes pela cabeça de uma criança carente do Congo que acaba de conseguir uma vaga disputadíssima numa das escolas modelo de Palo Alto (California, US) financiada pela Iniciativa Chan Zuckerberg? Apesar destes exemplos ainda serem muito raros no atual estágio de evolução da humanidade, são passos decisivos para um novo “sistema de valores conscienciais”, capaz de promover avanços que vão muito além das políticas públicas, direcionados por uma missão libertária, despretensiosa e genuína, típica daqueles que trabalham em iniciativas colaborativas, distributivas e geradoras do verdadeiro valor da riqueza.   

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1. Atkinson, Anthony B. Desigualdade: o que pode ser feito? São Paulo: Leya, 2015.

RIQUEZA versus LUXÚRIA: § 37 – 39

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§ 37

Das realizações da riqueza. Se a felicidade não é o determinante, existe alguma outra razão para a riqueza ser considerada um dos valores mais almejados por todos, independente do gênero sexual, posição política, raça ou religião? Ainda são muito poucos os que não desejam dispor de abundância de recursos materiais nos dias de hoje… Sem dúvida, ela propicia inúmeras realizações, desde um passeio vespertino numa Ferrari pelas estradas da Toscana até a viagem dos sonhos para contemplar a beleza e simplicidade do Nepal! Mas por falar em capacidade de realização, nos remete àquele que é também considerado um valor fundamental, ainda que o mais perigoso de todos devido à dicotomia que o precede: o valor do poder. Apenas um detalhe: tudo o que a riqueza nos traz são conquistas “externas”, restritas ao plano físico. Alguma dúvida de que a felicidade não é deste mundo? Bem, acho que aí reside um belo problema de referencial…

§ 38

Dos recursos da riqueza. Cite agora alguns destes recursos propiciados pela riqueza. Estes são muito fáceis de se lembrar… Temos os recursos financeiros, bens móveis e imóveis, empresas, propriedades agrícolas, títulos diversos, minas, poços de petróleo e outros direitos de exploração com cessão dos governos, metais e pedras preciosas, obras de arte, licenças diversas, direitos autorais, patentes, entre outros. Mas lembre-se de que estamos tratando aqui somente dos recursos no plano físico. Existem certamente outros tipos de recursos, muito mais louváveis e valorosos no plano sutil, os quais veremos em detalhe noutra parte desta obra. Por ora, basta saber que não há mal algum em acumular-se riquezas materiais, desde que não atrapalhe sua busca pela verdadeira felicidade. Não pensem que é fácil deixar de se iludir com a luxúria e o poder. Algumas tradições religiosas da Índia antiga a chamam de maya. Veja, nem todos os “príncipes” deste mundo são com um Buda ou lord Shiva! 1

§ 39

Empresas: a fonte principal das riquezas. Por que será que as empresas são consideradas um recurso tão especial para gerar o valor da riqueza? Quando bem administradas podem representar, inequivocamente, uma fonte significativa de renda através da distribuição dos seus lucros e dividendos aos acionistas, bem como a remuneração do capital humano nela envolvido através dos salários pagos aos funcionários pelo trabalho realizado, sem falar da propagação da riqueza por toda a cadeia de fornecedores e clientes, não nos esquecendo ainda dos impostos recolhidos pelo governo, que sustentam a classe política e são, finalmente, repassados à sociedade na forma de serviços públicos. Bem, pelo menos esta é a lógica por trás do capitalismo, ou mais recentemente do tão bem-sucedido neoliberalismo. Acontece que nem sempre esta distribuição de riqueza é igualitária, não somente nas empresas, mas também nas economias dos países em geral. Este assunto foi recentemente abordado com genialidade pelo economista Thomas Piketty,2 destacando a inexorável preocupação com a desigualdade.

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Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1. Não deixemos de citar a obra basilar das escrituras da filosofia vedanta, o Bagavad-Gita: as iti is, 1968, Bhaktivedanta Book Trust, Los Angeles: California, 1968.

2. Para um merecido mergulho sobre o tema que é vasto, não deixe de conhecer e degustar a obra definitiva do economista francês Thomas Piketty: O Capital, 2014.