COMPETIR OU COLABORAR

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Eis um dos grandes dilemas dos tempos atuais: quando competir ou colaborarar? Enganam-se redondamente aqueles que emitem um julgamento aprioristicamente sem antes passar por uma reflexão profunda sobre o tema que é tão vasto quanto as áreas de interação do ser humano nas esferas pessoal, profissional e social.

Num mundo cada vez mais automatizado e repleto de informação, é preciso antes de mais nada saber qual estratégia assumir, visando ao mesmo tempo a evolução pessoal e os resultados organizacionais. Certamente não é uma “escolha” fácil. Requer muita perspicácia para avaliar qual estratégia deve gerar maior valor no longo prazo, lembrando que a “escolha” é só o começo da jornada que também dependerá das ferramentas disponíveis e, sobretudo, da expertise de como aplicá-las na execução do plano. Vamos lá?!

A ESTRATÉGIA COMPETITIVA é a mais evidente por motivos até mesmo antropológicos, ligados à sobrevivência de uma entidade, segundo o conceito mais amplo que vimos anteriormente, dos processos algorítmicos. Por outro lado, a ESTRATÉGIA COLABORATIVA, requer condições bem específicas e propícias aos “fenômenos de rede”, mais propriamente das redes de valor que têm ganhado cada vez mais importância em algumas áreas do conhecimento de base e aplicado.

Via de regra, em toda e qualquer análise estratégica, independente do campo de aplicação, é preciso primeiramente encontrar os pontos de divergência e/ou confluência. Veremos que o primeiro está relacionados à “destruição criativa”, cerne da inovação schumpteriana de meados do século passado e que revolucionou a forma de se criar vantagem competitiva. 1

Figura. Joseph Schumpeter, economista austríaco precursor da teoria da inovação.

Já o segundo é bem mais recente (eu dato o seu nascimento mais precisamente em 2006 com a publicação do livro Wikinomics) e chamamos aqui mais propriamente de “síntese restritiva”, resumindo o propósito do conceito propalado por Tapscott & Williams. 2

Para chegarmos à origem genésica das estratégias competitivas (o que são, para quê servem e como formulá-las) precisamos de entender primariamente o conceito mais abrangente, para não dizer filosófico, do termo “competição”. Eis os 3 questionamentos basilares que não podem deixar de ser pautados antes de avançarmos:

                                    1. O que se entende por competição?

                                    2. Quais as formas de se competir?                          

                                    3. Ela é mesmo salutar?

 Não se pode negar algo que nos é uma característica intrínseca. O ser humano é naturalmente competitivo e, por consequência, as instituições humanas a que ele pertence. Lutamos constantemente pela busca da melhor performance, pela superação dos nossos pares e as conquistas advindas, sejam elas monetárias, sociais, políticas, religiosas, etc.

Acontece que vivemos na atualidade uma “hipercompetição” generalizada em quase todos os campos de aplicação possíveis e imagináveis. Praticamente já não existem áreas do conhecimento humano inexploradas. Em tempos de globalização econômica e da tal ubiquidade computacional e informacional, o “kit de ferramentas” convencional da competição do Prof. Michael Porter já não é mais suficiente para os indivíduos e organizações se reinventarem continuamente.

Acreditem: neste contexto, a “inovação schumpeteriana”, antes vista como a salvação pelos gurus da estratégia, pelo menos no seu formato original, está em cheque! Mas será que existem novas e inusitadas formas de “destruição criativa” que não estejam diretamente vinculadas à inovação?

Bem, veremos que sim e trata-se justamente da tal “síntese restritiva” que conjuga a evolução de uma série de tecnologias que propiciaram a coloboração em massa numa escala antes inimaginável! Precisamos, mais do que nunca, entendê-la e decifrá-la porque sua lógica é bem diferente do que estávamos habituados…

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Obra no prelo: INTELIGÊNCIA DE VALOR: tome boas decisões sem esforço

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Saiba mais:

1. Shumpeter, J. Capitalism, socialism and democracy, London: Allen & Urwin, 1943.

2. Tapscott, D., Williams, A.D. Wikinomics, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

Como estruturar um processo de inovação?

Não há dúvidas de que o processo de inovação é a força-motriz para consecução dos resultados em qualquer tipo de organização. Como todo processo, ele é cíclico sendo fundamental que flua muito bem em todas as etapas, desde o levantamento inicial de informações (científicas, tecnológicas e de mercado) até o devido reconhecimento dos inventores que tiverem suas ideias implementadas com sucesso (a política de recompensas).

Começa-se estrategicamente pela opção de qual metodologia utilizar para conduzir todo o processo. O chamado “funil de inovação” deve ser mais apropriado em geral para as empresas cuja competência essencial seja a própria inovação, ou seja, aquela que um percentual significativo da sua receita seja oriunda de produtos ou serviços lançados nos últimos anos. Já o design thinkingdeve adequar-se melhor para empresas de commodities que priorizam desenvolvimentos ágeis com foco em redução de custos, mas que ficam restritos às áreas diretamente envolvidas no processo de inovação. Detalhe: isto não é uma regra e sim fruto da experiência que pode ser quebrada sempre com novas experiências!!!

Independente da metodologia, o importante é que as companhias tenham uma carteira de projetos bem balanceada, priorizando um maior número de projetos de inovação incremental para reduzir o risco e garantir os resultados num prazo mais curto. Estes resultados são perenes e irão subsidiar alguns poucos projetos mais arriscados, de inovação radical, cujo retorno de longo prazo pode ser mais do que compensatório…

Com relação à escolha dos indicadores para melhor retratar o desempenho da inovação nas empresas, não resta dúvidas de que o percentual de faturamento referente a novos produtos e o percentual de incremento do EBTIDA, oriundo de novos processos, são os indicadores mais diretos que retratam de forma concreta o valor econômico gerado pela inovação. Se ainda não o fez, você deve começar de imediato traçando estes indicadores para sua própria empresa e implementando um trabalho sistemático de monitoramento trimestral dos mesmos. Nunca deixe esta tarefa somente para o financeiro!

Vale mencionar ainda, como forte tendência nas empresas para acelerar os processos de desenvolvimento e reduzir o risco inerente à atividade inovativa, a adoção de modelos de gestão da inovação que explorem oportunidades externas às empresas através do modelo de open innovation.

Assim, urge que novas questões sejam analisadas: quais tecnologias devem ser desenvolvidas internamente e quais podem ser trazidas de fora? No caso de buscar fora da empresa, onde procurar? Como avaliar de forma eficaz estas oportunidades? Estas são, sem dúvida, algumas das questões emergentes daqueles que lidam com a inovação no dia a dia das organizações.

Cabe destacar ainda o surgimento mais recente das metodologias de desenvolvimento ágeis, inspiradas no conceito just in time da fabricante japonesa de veículos (a Toyota), que estão revolucionando a forma como as startups devem ser geridas. A metodologia de lean startup, criada por Eric Ries, se fundamenta na experiência do “aprendizado validado” para construir modelos de negócios sustentáveis.

No entanto, foi o empreendedor serial do Vale do Silício e atual professor de empreendedorismo na Stanford University, Steve Blank, quem desencadeou esta visão, fundamentando o arcabouço de conhecimentos de gestão necessários para praticar o customer development. Esta teoria foi sintetizada num manual que é considerado hoje leitura imprescindível aos fundadores de startups ou qualquer pessoa que pretenda superar as barreiras para inovar!

Vamos finalizar constatando o que outro guru (o da administração neste caso), Peter Drucker, disse sabiamente sobre os empreendedores, contradizendo a visão da grande maioria:

“Everyone who can face up to decision making can learn to be an entrepreneur and to  behave entrepreneurially. Entrepreneurship, then, is behavior rather than personality trait. And its foundation lies in concept and theory rather than intuition… the entrepreneur always searches for change, responds to it, and exploits it as an opportunity”

 

Autoria por Ricardo Barreto

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Para saber mais:

  1. Ries, Eric. The lean startup. New York: Crown Publishing, 2011.

  2. Blank, S. Dorf, B. The Startup Owner´s Manual: The Step-by-step Guide for Building a Great Company, Pescadero, California: K&S Ranch Press, 2012.

  3. Drucker, P. Innovation and entrepreneurship, New York: Harper Collins Publishers, 1985.

A importância do marco regulatório

No Brasil todo o arcabouço de regulamentações e incentivos à inovação é relativamente recente. A Lei de Patentes (Lei No 9.279) só entrou em vigor em 1996, criando as bases de um sistema patentário que permitiu, somente 8 anos mais tarde, que a primeira Lei de Inovação encontrasse “terreno fértil” para ser sancionada…

A partir deste marco, vários outros mecanismos têm sido regulamentados, tal como a criação de fundos setoriais e leis complementares com o intuito de estimular cada vez mais os investimentos em PD&I no setor privado.

A Lei de Patentes foi fundamental para regular os direitos e obrigações relativos à propriedade intelectual, com o intuito de obter uma patente. Segue uma definição que explicita claramente o interesse estratégico neste tipo de proteção:

“A patente, por meio de um monopólio, delimita as fronteiras de direito de exclusividade do inventor, no que se refere à exploração do objeto em questão, impedindo que terceiros aufiram os benefícios dessa exploração desautorizada”.

Este foi, sem dúvida, um marco decisivo para mudar os rumos do cenário nacional da inovação. Até então, a instabilidade jurídica desestimulava boa parte das empresas a investir em PD&I no país, pois havia um receio de que as criações fossem copiadas (prática comum na época em países que desrespeitavam tratados internacionais de propriedade intelectual como a China e Índia).

Dentro desta nova perspectiva, depois da assimilação dos impactos da mudança do sistema patentário, as empresas e instituições começaram a sentir a necessidade de criar regras mais claras para regular as relações das partes envolvidas no sistema de inovação como um todo, tanto do lado das universidades quanto das indústrias e agências de fomento. Surge finalmente, em dezembro de 2004, a tão esperada Lei de Inovação brasileira!

Dentre os diversos aspectos tratados nesta lei, sancionada pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva, e que dispõem principalmente sobre os incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, vale mencionar o seu propósito essencial de “capacitação tecnológica e autonomia para o desenvolvimento industrial do país”.

Abaixo são destacados alguns pontos mais relevante do Ato:

  • Apoio à constituição de alianças estratégicas e projetos de cooperação envolvendo empresas nacionais e Instituições Científico-Tecnológicas – ICTs com o objetivo de geração de produtos e processos inovadores;
  • Fica facultada à ICT a celebração de editais para poder efetivar o licenciamento de patentes com exclusividade e a posterior transferência da tecnologia;
  • Obrigam-se as empresas que licenciaram patentes de ICTs a comercializarem a invenção dentro do prazo e condições definidas em contrato;
  • Além da garantia dos royalties, que podem chegar a até um terço dos ganhos econômicos resultantes de contratos de transferência de tecnologia e de licenciamentos, pesquisadores públicos podem ainda receber adicionais variáveis referentes à prestação de serviços tecnológicos, ou, se necessário, licenciar-se por até três anos para constituição de Empresa de Base Tecnológica – EBT;
  • As agências de fomento, através da destinação de um percentual mínimo do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico-Tecnológico – FNDCT, foram liberadas para concessão de subvenção econômica mediante contrapartida pela empresa beneficiária, sendo priorizadas as micro e pequenas empresas nacionais.

Estas medidas começaram imediatamente a sortir efeitos. Agências de inovação foram criadas dentro de universidades públicas, as quais concretizaram diversos contratos de licenciamento de patentes que começaram a gerar receitas adicionais para as mesmas através do pagamento de royalties.

Por outro lado, as empresas passaram a dispor de uma opção estratégica para dar um salto significativo através do modelo da “inovação aberta”, sem falar da disponibilidade de recursos de fomento à inovação em linhas reembolsáveis e não-reembolsáveis, que viabilizaram o financiamento da atividade inovadora com taxas de juros subsidiadas ou compartilhando os custos, ficando os riscos assim mitigados.

Estes mecanismos de estímulo à inovação já são amplamente empregados em países desenvolvidos, segundo as normas da OMC. No Brasil, como exemplo de linha de fomento reembolsável, pode-se citar o programa Pro-Inovação da FINEP que trabalha com um custo de TJLP inferiores a 2% a.a., sendo que a diferença é coberta pelos recursos do FNDCT. Ainda da FINEP, pode-se destacar os programas de Subvenção Econômica à Inovação que são lançados através de chamadas públicas. A FAPESP, por sua vez, também tem uma importante linha não-reembolsável que financia projetos em diferentes estágio de maturidade: o PIPE.

Outra vertente que ainda tem sido pouco utilizada pelas indústrias é a utilização dos incentivos fiscais à inovação, propiciados pela chamada Lei do Bem (Lei No 11.196/05). Esta lei prevê o abatimento de gastos com inovação sobre o lucro tributável, a possibilidade de redução de 50% do IPI incidente sobre equipamentos, máquinas, aparelhos e instrumentos destinados para P&D, redução do IRPJ e 60% de subvenção econômica na remuneração de mestres e doutores.

Em divulgação do Ministério da Ciência & Tecnologia – MCT, relativa à utilização dos incentivos fiscais da Lei do Bem no ano de 2006, foi informado que 130 empresas se beneficiaram, totalizando mais de R$ 229 milhões. Pela distribuição setorial destes recursos, observa-se ainda um grande desconhecimento por parte de muitos setores importantes tal como, por exemplo, o de papel e celulose, que contabilizou somente cinco empresas beneficiadas neste ano.

 

Para Manuela Soares, coordenadora de projetos da Incentivar Consultoria, empresa do grupo Inventta, é muito importante que as EBTs criem uma estrutura propícia para aplicação dos incentivos fiscais, conforme frisado a seguir:

“Indiretamente, esta preparação permite que a empresa tenha recuperação de grande percentual de gastos com atividades inovativas, além de benefícios intangíveis com o conhecimento e visibilidade do potencial inovador da empresa, melhoria no processo de gestão da inovação e a viabilização de novos projetos de P&D”.

Apesar da Lei do Bem ser uma iniciativa louvável, ela surgiu com certa discriminação entre as empresas. Isto decorre do fato de somente atingir aquelas que adotam a apuração de lucro real, o que beneficia prioritariamente as empresas de grande porte. As empresas de médio e pequeno porte declaram lucro presumido e não têm acesso aos benefícios da Lei do Bem. Deste modo, os privilégios estão sendo concedidos, em grande parte, para empresas estrangeiras.

No final de 2007, numa tentativa de contornar esta dissonância, foi regulamentada a Lei Rouanet da Pesquisa (Lei No 11.487/07), que modificou a Lei do Bem e incluiu a isenção fiscal para as empresas que atuam em parceria com ICTs. Esta distorção deve ser corrigida com brevidade para não prejudicar empresas do tipo startups e spinoffs que são certamente as maiores propulsoras de inovações radicais (já vimos que as empresas de grande porte tradicionalmente arriscam menos e concentram-se nas inovações incrementais).

Com todos estes instrumentos de incentivo à inovação, que compõem o marco regulatório brasileiro e que vão desde a disponibilidade de recursos de fomento até os incentivos fiscais e a disseminação da cultura da inovação, pode-se afirmar que nosso país dispõe finalmente de uma política de CT&I de longo prazo.

Só nos resta observar os efeitos nas próximas décadas e atuar segundo os pilares da “inovação aberta”, beneficiando-se deste ambiente que, apesar de ainda muito precoce, promete incentivar irreversivelmente a competitividade das empresas e instituições de pesquisas brasileiras: um ambiente muito mais propício para inovar!

 

Autoria por Ricardo Barreto

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Para saber mais:

  1. Rodrigues, A. de O. Química Nova, 21(2), 1998, 228-242.

  2. Atos do Poder Legislativo, Edição No 232 de 3 de dezembro de 2004.

  3. Furtado, J. Entrevista concedida sobre legislação da inovação para revista CONECTA, junho de 2008.

O papel das agências de inovação

Alguns indicadores de C&T no Brasil, referentes às últimas décadas, nos deixam especialmente preocupados. Apesar do número de artigos científicos publicados anualmente por autores nacionais ter subido abruptamente neste período, passando de 1.889 para 9.511, o número de patentes brasileiras registradas nos EUA em 2000 foi de apenas 98 patentes, enquanto que a Coréia do Sul, com uma produção científica semelhante à brasileira, depositou 3.300 patentes neste mesmo ano. Deve-se salientar que o USPTO é o principal escritório de patentes do mundo!!

Fica claro que o Brasil já sabe fazer ciência, mas ainda não aprendeu a transformá-la apropriadamente em crescimento econômico.

Para ajudar o país a superar tal entrave, uma iniciativa pioneira entre as universidades brasileiras foi a criação da Inova: a agência de inovação da Unicamp. Criada em 2003 pelo então reitor Carlos Henrique de Brito Cruz, a Inova conseguiu atingir em apenas um ano de existência a incrível marca de 9 contratos firmados com a iniciativa privada, que resultaram no licenciamento de 22 patentes destinadas ao desenvolvimento de produtos nas empresas. Este número de licenciamentos, por si só, foi três vezes maior do que o registrado em toda a história da universidade e constituiu um recorde nacional no meio acadêmico.

Como estes acordos prevêem a exploração comercial da tecnologia por um período entre 10 a 15 anos, através do pagamento de royalties que podem variar de 2 a 7% sobre o faturamento líquido, foi estimado que em 5 anos a receita oriunda destes acordos poderia chegar a R$ 14 milhões. O mais importante é que a Inova já nasceu com uma meta bastante ousada para a época: precisaria atingir uma carteira de 100 licenciamentos, igualando a Unicamp às grandes universidades ao redor do mundo como Oxford e o MIT.

Neste quadro, deve-se ressaltar que, segundo a Lei de Inovação em vigência no Brasil, os lucros auferidos pelos royalties devem ser distribuídos em um terço para os inventores e dois terços para a universidade. No caso de uma patente com um mercado potencial de US$ 5 bilhões, como a tecnologia para produção de pigmentos para tintas brancas batizada de Biphor® que foi criada na universidade pelo grupo de pesquisas do Prof. Fernando Galembeck. Pode-se, assim, calcular facilmente as importantes cifras que poderiam ser geradas em benefício da instituição e da sociedade, com a geração de empregos e riquezas para o país…

No ranking das universidades que mais depositaram patentes no Brasil durante a década de 90, segundo dados levantados pelo economista Eduardo Assumpção, do INPI, a Unicamp estava na liderança com 125 pedidos de prioridade. Não há dúvidas de que atualmente o número de patentes das universidades deve ter aumentado consideravelmente, bem como mudanças significativas neste ranking, sendo que parte destas patentes já deve ser resultado dos convênios de cooperação entre a iniciativa privada e universidades: as chamadas patentes derivadas.

Estas patentes, pelo menos em teoria, devem apresentar valor financeiro potencial muito maior, fugindo ao estigma das “tecnologias de prateleira” devido à maior possibilidade de se tornarem produtos viáveis em seu mercado-alvo num curto espaço de tempo.

O mais animador neste cenário é que o modelo iniciado pela Inova começou a sortir efeitos em todo país, desencadeando um verdadeiro movimento de ruptura dos velhos conceitos da pesquisa acadêmica, com a abertura de agências de inovação similares nas principais universidades.

Também é importante destacar que as empresas passaram a enxergar o incrível potencial de inovação contido dentro das universidades, que dispõem de pesquisadores altamente qualificados, sem falar da sofisticada infra-estrutura de laboratórios e equipamentos, suprindo suas principais necessidades de PD&I especialmente nas pesquisas de risco que são as mais onerosas.

 

As agências de inovação são, portanto, atores fundamentais do processo de inovação e o conceito da inovação aberta estimula a interação contínua das empresas com estas agências, como meio de fomentar a pesquisa não somente no seu estágio embrionário, mas também nas etapas subsequentes que permitem o sucesso de novos produtos no mercado.

 

Autoria por Ricardo Barreto

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Para saber mais:

  1. Viott, E. Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil, Campinas-SP: Ed. UNICAMP, 2004.
  2. Assumpção, E. O sistema de patentes e as universidades brasileiras nos anos 90, CEDIN-INPI, 2000.

A estratégia da inovação aberta no Brasil

Comecemos analisando as implicações do seguinte fato (Conecta, 2007), que apesar de já não ser tão recente ainda retrata a realidade brasileira:

A importância do setor empresarial no financiamento de P&D acadêmica no Brasil apresentou pequeno aumento entre 2003 e 2005, mas continua bem abaixo dos índices registrados nos Estados Unidos e Europa”.

Segundo dados do IBGE, no âmbito da pesquisa PINTEC, o número de empresas no Brasil que formalizaram parcerias com universidades para cooperação de desenvolvimento tecnológico dobrou entre os triênios de 2001 a 2003 e 2003 a 2005, passando de 413 para 812 empresas (ou de 1,5% para 3,0% das empresas).

Apesar de não ser um valor significativo, em comparação com os países desenvolvidos, sinaliza uma forte tendência de crescimento deste importante tipo de interação entre a universidade e o setor produtivo.

De qualquer forma, observa-se uma iniciativa para incrementar as atividades de P,D&I nas Empresas de Base Tecnológica – EBTs, segundo os conceitos de inovação aberta, que buscam pesquisadores externos para realização de projetos de pesquisa aplicados. Só assim, o Brasil terá chances de se equiparar futuramente a países como a Coréia do Sul, Turquia e Hungria, em que esta participação das empresas pode chegar a até 10%.

Outro aspecto importante, ressaltado pelo economista Ruy Quadros da Unicamp, é que as parcerias firmadas no Brasil não são duradouras como acontece nos países desenvolvidos e, em particular, nos EUA. Este fato denota a ocorrência geralmente de demandas de desenvolvimento emergenciais e não de projetos estratégicos duradouros visando a prospecção tecnológica.

Ademais, se ponderarmos sobre os dados obtidos na base do INPI, ver-se-á que o número de patentes oriundas de universidades e centros de pesquisas no Brasil é pequeno em comparação com o total de 20.000 pedidos no ano de 2001. Tendo-se em vista que 700 destes pedidos de patentes foram de cinco instituições de excelência brasileiras, ainda existe um longo caminho a ser percorrido com o intuito de elevar o número de patentes em que o setor produtivo e as universidades são co-titulares.

Vale ressaltar, no entanto, um fato destoante: em 2007 a Unicamp depositou sua patente de número 500, assumindo a liderança nacional no ranking do INPI, superando inclusive a maior empresa brasileira na época: a Petrobras.

Deve-se buscar o equilíbrio entre o incentivo à pesquisa aplicada, mantendo foco nas competências fundamentais das universidades que são a pesquisa de base e o ensino.

Deve-se ressaltar a importância do esclarecimento para os pesquisadores universitários, que a contribuição em atividades geradoras de conhecimento tecnológico nas empresas não compromete, de forma alguma, os compromissos institucionais de ensino e pesquisa de base. Estas colaborações são fundamentais, outrossim, para agregar uma fonte extra de recursos financeiros, o que já é, per se, uma importante motivação.

Urge, portanto, que este temor de transformar a universidade em uma “instituição de serviços tecnológicos”, voltada para resultados aplicados e contaminada pela “visão de lucro”, seja superada irreversivelmente. Este é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores desafios no cenário tecnológico brasileiro atual.

Deve também ser levado em consideração que até 2002 apenas 30% das universidades e centros de pesquisas brasileiros apresentavam políticas formais de proteção e comercialização da propriedade intelectual.

Este é um grave empecilho para as iniciativas de parceria com o setor produtivo, haja vista que boa parte dos convênios de cooperação tecnológica é firmada a partir do licenciamento de patentes, que protegem as tecnologias em diferentes estágios de maturidade, desde aquelas ainda na escala de bancada ou até mesmo as que já estejam prontas para serem lançadas no mercado.

Certas empresas, como a suíça Roche do ramo farmacêutico, aplicam entre 15 a 20% dos seus recursos anuais em P&D no licenciamento de tecnologias de universidades e centros de pesquisas através do pagamento de royalties.

Um exemplo basilar deste tipo de estratégia de P&D, no Brasil, foi galgado pelo professor Fernando Galembeck do Instituto de Química da Unicamp. Ele criou uma tinta branca (conhecida comercialmente como Biphor®) a base de fosfato de alumínio, utilizando conceitos de nanotecnologia. O esforço deste desenvolvimento demorou 15 anos, porém o mercado-alvo era mais do que recompensador: cerca de 5 bilhões de dólares a.a. Esta valiosa patente foi, no entanto, licenciada pela universidade para um grupo estrangeiro.

Apesar de ratificar que a “pesquisa é uma atividade de risco, em que nem tudo sai como planejado”, o prof. Galembeck também pondera o seguinte:

“Há necessidades a serem atendidas, e quem sabe fazer alguma coisa importante para satisfazer estas necessidades pode movimentar a economia e ganhar um bom dinheiro”.

Cientistas assim, que têm uma visão mais aplicada do conhecimento, até pouco tempo atrás, eram raridade no meio acadêmico brasileiro. Tanto que ele próprio demonstrou sua preocupação ao afirmar que o “país contribuiu cada vez mais para o patrimônio mundial de conhecimento, sem se preocupar em proteger o resultado de suas pesquisas”.

Neste novo contexto, aqueles pesquisadores universitários que não seguirem a tendência de aproximação entre universidade e indústria dificilmente terão verbas para suas pesquisas e o conhecimento acadêmico não será plenamente revertido para a sociedade na forma de produtos do conhecimento.

Por outro lado, a irrelevante taxa atual brasileira de 1% das empresas que faz inovação dificilmente atingirá os patamares dos países desenvolvidos, com impacto significativo no PIB, se não houver iniciativas de licenciamentos de patentes e parcerias com universidades.

inovação aberta (ou open innovation na língua original), propalada pelo Prof. Henry Chesbrough (de Harvard e atualmente na Haas School of Business, Berkeley), está fortemente pautada na busca de competências externas para redução de custos e riscos inerentes ao processo de inovação. Quem não considerar esta estratégia estará desperdiçando, inevitavelmente, recursos preciosos para sobrevivência da sua organização.

 

Autoria por Ricardo Barreto

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Para saber mais:

Barreto, R. ittiNomics: um guia especial para inovação aberta, 2016.

Dados apresentados no 1o Seminário de Inovação e Transferência de Tecnologia – CONECTA, 2007.

Levy, Clayton, Jornal da UNICAMP, 1 a 7 de outubro de 2001.

Santos, R.C. Jornal da UNICAMP, 17 a 31 de dezembro de 2007.

Medeiros, L. Pesquisa Fapesp, maio de 2002.

Costa, J. E. Você SA, março de 2007.

Levy, C. Jornal da UNICAMP, 28 de maio a 10 de junho de 2007.

A importância das inovações tecnológicas

Qual é o verdadeiro significado do verbo inovar? Segundo os dicionários, o termo vem do latim innovare e significa:

“1. Tornar algo novo; 2. Introduzir novidade”.

Fica uma reflexão: será que nos dias de hoje, após vivenciarmos séculos de revolução científica e tecnológica, ainda existe muito o que se inovar?

Para respondermos a esta indagação precisaremos entender, antes de mais nada, sua sistemática.

Ao considerarmos o processo de inovação como um todo, segundo a lógica do sistema econômico em que se encontra inserido, pode-se constatar que não existe mais mercado exclusivo, mesmo para os nichos recém criados, aqueles chamados por Chan Kim e Reneé Mauborgne de “oceanos azuis”.

Sempre aparecem outras empresas oferecendo produtos similares: a tão conhecida concorrência. Com ela gera-se a competição, sendo que esta pode ser regida por diferentes mecanismos, conforme abordado por Contador em sua obra sobre a competitividade nas indústrias:

  • Competição em preço;
  • Competição em produto;
  • Competição em prazo;
  • Competição em assistência;
  • Competição em imagem.

Outra forma de diferenciação, aplicada tanto a produtos quanto a serviços, foi classificada por Utterback, ao distinguir dois tipos de inovação tecnológica: a incremental e a radical.

benchmarking_computadores

A inovação incremental procura a melhoria de uma tecnologia já existente. Por outro lado, a inovação radical pressupõe uma descontinuidade na curva de desempenho de um produto ou serviço, gerando um novo patamar tecnológico.

Um caso clássico foi o Macintosh da Apple que surgiu com uma interface gráfica revolucinária e dominou o market share dos computadores pessoais que era império da gigante IBM no início da década de 1980.

Este conceito foi amplamente desenvolvido por Clayton Christensen, professor da conceituada escola de negócios americana, Harvard Business School, naqueles que considero os melhores livros de inovação de todos os tempos: The Innovator’s Dilema e The Innovator’s Solution.

Nestes trabalhos a inovação incremental e a inovação radical (também denominadas de inovação de sustentação e inovação disruptiva) são visualizadas através das chamadas “curvas S” pela comparação da evolução do desempenho de um produto estabelecido no mercado e de um produto invasor baseado numa nova tecnologia.

Pode-se ressaltar um outro exemplo do surgimento de uma tecnologia disruptiva que simplesmente destruiu a tecnologia predecessora. Foi o caso das câmeras digitais que se mostraram significativamente superiores às câmeras óticas convencionais.

O efeito desta novidade foi uma verdadeira revolução na maneira como as pessoas registram suas fotos, provocando demissões maciças nas empresas que antes dominavam o mercado, como é o caso da Kodak, ou até mesmo o fim de empresas consagradas como a Minolta (o pior é que mais recentemente as câmeras digitais foram, por sua vez, dizimadas pelos smartphones com seu megapixels embutidos).

kodak_smartphone

O elemento essencial que impulsiona a inovação nas organizações empresariais é a criação de algo novo em pelo menos um dos quesitos competitivos do produto com relação aos concorrentes, alterando de forma significativa sua curva de valor.

Strebel demonstra este princípio através de um processo cíclico de competição, fundamentado em mecanismos de diferenciação e igualação, o qual pode ser adaptado para competição em produtos tecnológicos.

O ciclo virtuoso do processo de competição, em que os lucros são muito superiores aos custos devido à baixa inserção concorrencial, é promovido inicialmente pela inovação tecnológica, capaz de diferenciar significativamente o desempenho.

A lucratividade é sustentada pelo marketing que explora o poder da marca até o limite imposto pela pressão dos concorrentes entrantes neste mercado. Os preços começam, então, a cair drasticamente, culminando numa redefinição estratégica, que pode resultar na venda da empresa (ou da tecnologia) ou no surgimento de um novo ciclo, se for introduzida uma nova inovação radical.

Uma analogia com a teoria da evolução de Darwin, propalada por Nelson & Winter, ressalta a importância da adaptação ao meio para sobrevivência por parte das empresas inovadoras. Neste sentido, pode-se identificar a ferramenta de benchmarking como um importante mecanismo de defesa.

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Um exemplo desta abordagem, ao procurar mimetizar tecnologias já existentes, foi praticado pela empresa americana Xerox, que buscou inspiração nos competidores japoneses para promover uma profunda mudança estrutural.

Conforme já apontado por Schumpeter em 1943, a inovação é uma constante fonte de turbulência e, por este motivo, as empresas devem investir maciçamente em mecanismos de diferenciação fundamentados na inovação tecnológica.

 

Autoria por Ricardo Barreto

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Para saber mais:

Barreto, R. ittiNomics: um guia especial para inovação aberta, 2016.

Os 6 pilares da inovação

A ansiedade de informação é uma obsessão que permeia todos os campos de atuação da sociedade atual. Com o advento da internet, as pessoas deparam-se diariamente com horizontes inesgotáveis de informação. Basta acessar a ferramenta de busca mais conhecida (o Google) para disparar centenas, milhares, milhões de possibilidades… Vejam como exemplo minha pesquisa na data de hoje com o TAG “inovação” e seus impressionantes 29.800.000 resultados!

Encontrar a informação precisa já não é mais o suficiente. Desafiador mesmo, na chamada era da informação, é agregar valor a esta informação, trocando experiências de forma colaborativa através do conhecimento gerado. Ao mesmo tempo, nunca foi vista tamanha competitividade entre as pessoas, as organizações, os países. A inovação, em suas mais variadas dimensões, tornou-se uma questão de sobrevivência! E a dúvida que paira no ar é a seguinte: será que estamos de fato preparados para inovar?

Antes de mais nada, o conceito de inovação deve ser muito claro e disseminado dentro das companhias. O melhor seria adotarmos a definição mais aceita e empregada na Lei de Inovação brasileira, muito embora o tema mereça uma análise mais aprofundada. Em termos práticos, vamos sempre pensar em inovação como sendo:

Toda mudança num produto, processo ou modelo de negócio que causa um impacto significativo na geração de valor de uma organização.

Lembrando que esta geração de valor não necessariamente precisa ocorrer nos atributos do produto. Ela pode se dar na estrutura de preços, na participação de mercado, na receita ou até mesmo nas economias de custos e redução de despesas.

Segundo a empresa de consultoria A.T. Kearney, uma abordagem atualizada para saber o quão inovadora é uma empresa passa basicamente pela análise dos 6 pilares da inovação:

  1. Estratégia para inovar: se é desenvolvida e implementada pela alta gestão; se está vinculada à estratégia da companhia; se há metas quantitativas e qualitativas que devem ser alcançadas;
  2. Organização e cultura: se está disseminada na companhia como competência essencial – cultura criativa – e quais as medidas para incrementá-la;
  3. Processos de inovação: como a empresa está estruturada para gerar ideias e para conseguir implementá-las; se utiliza métricas de avaliação para aumentar a eficiência dos processos e se utiliza fontes externas como universidades, fornecedores ou clientes para captar ideias – conceito de inovação aberta;
  4. Estrutura e suporte à inovação: como a empresa monitora o desempenho e quais as ferramentas de gestão que utiliza para este fim (a gestão da inovação), como sistemas de TI e de treinamento, reconhecimento e premiação;
  5. Sustentabilidade: alinhamento das características dos produtos, processos e modelos de negócio inovadores com os modernos conceitos de sustentabilidade ambiental e social;
  6. Resultados da inovação: mensura como o resultado dos produtos, processos e modelos de negócio inovadores se espelham na receita da empresa, na diferenciação em seu mercado de atuação, bem como em economias de custos e despesas.

Pois bem. Somente aquelas empresas que estiverem perfeitamente alinhadas com estes “6 pilares da inovação” poderão um dia estar entre as mais inovadoras do mundo, assemelhando-se a uma “fábrica de novo crescimento”, em que as ideias são o insumo básico, captadas por canais internos ou externos à organização, submetidas a diferentes fases e validadas pela alta gestão, até se materializarem finalmente em inovação!!

 

Autoria por Ricardo Barreto

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Para saber mais:

  1. BRASIL. Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País, nos termos dos arts. 218 e 219 da Constituição. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3.dez.2004. Seção 1, p. 2.

  2. KEARNEY, A.T. Best Innovator 2011: a competição de gestão da inovação: um prêmio elaborado pela A.T. Kearney e pela revista Época Negócios, 2012. Disponível na íntegra em: http://www.bestinnovator.com/c/br/l/pt/welcome.php. Acesso em 19/abr/2012 .
  3. Chesbrough, H. Open Innovation: the new imperative for creating and profiting from technology, 1a edição. Boston: Harvard Business School Press, 2003.
  4. Brown, B.; Scott, A.D. Como a P&G triplicou sua taxa de sucesso na inovação. Harvard Business Review Brasil, São Paulo, v. 89, nº 6, pp. 30-37, Jun. 2011.