CONHECIMENTO versus IGNORÂNCIA § 43 – 45

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§ 43

Conhecimento e inteligência. Por que será que há ainda tanta confusão acerca do significado de conhecimento e inteligência? Entendo que, em grande parte, devido à confusão que muitos fazem ao considerar inteligentes aqueles que meramente praticam o “ato puro” de pensar, com o mínimo de lógica, diga-se de passagem nada diferente dos computadores, muito embora estes ainda de maneira rudimentar em comparação com a maravilhosa máquina que é o cérebro humano! O conhecimento, por sua vez, seria mais propriamente o arcabouço de todas as experiências pregressas, adquiridas em virtude da capacidade de cognição, aliada à correta aplicação da inteligência, e acessíveis através da memória integral.1 Importante destacar que estas experiências podem se dar no plano físico e sutil, independente do estado de consciência, mas dependentes, outrossim, do pleno funcionamento da mente que envolve não só o pensar, mas também processar e difundir a informação através da linguagem. Não adiantaria de nada saber detalhes de fenômenos complexos da natureza, em camadas de informação registradas de longa data, talvez de outras existências no plano terreno, caso na presente vida careça o ser do formalismo científico necessário para expressar e compartilhar tal conhecimento.

§ 44

Erudição, falácia do saber. Quer dizer, então, que poderia um simplório lavrador, nascido e criado na roça, até mesmo analfabeto, ter conhecimento superior ao de um douto erudito que sorveu de tudo, nos mais sofisticados ambientes acadêmicos? Não tenho dúvidas. Pode inclusive demonstrar não só inteligência superior, mas também conhecimento de maior valor para humanidade. Você nunca se deparou com uma pessoa que muitos até a classificariam de “ignorante”, somente a julgar pelas aparências e jeito de falar, mas que o surpreendeu com tamanha sabedoria, aplicada em circunstâncias inesperadas da vida? Eu vivenciei um episódio assim recentemente em Ouro Preto (MG), ao conhecer aquele que carinhosamente apelidei de “Dr. Chicão”. Talvez tenha sido ele um reconhecido cientista ou literato numa época longínqua, quem sabe até numa outra existência! Não podemos limitar nossa visão ao curto espaço de tempo de uma vida… Este é um erro que muitas crenças ainda insistem em cometer. Graça a ele, hoje tenho por certo que o conhecimento é o que diferencia de fato todas as consciências. Este pode ser acumulado ao longo de toda a sua existência, independente do plano em que você se encontra inserido. Melhor de tudo: vai vida, chega vida, sai corpo, entra corpo, e continua gravado, indelevelmente, no grande repositório cósmico que é a consciência divina.

§ 45

Uma primorosa lição de sabedoria (parte I). Era pleno verão, num fatídico janeiro de 2016, mas a cidadela histórica de Ouro Preto (MG) mais parecia uma “Durham inglesa” em meio à penumbra daquela chuvinha fina que não cessava há dias, sem falar do friozinho de 15 graus centígrados, impensável para aquela época do ano. Em meio ao sobe e desce dos morros íngremes e ao entra e sai das igrejas que marcaram época no Brasil colonial, eu não sucumbia ao cansaço, tamanha minha obstinação por encontrar um sebo, onde pudesse adquirir algumas obras literárias raras (por sinal, meu principal hobby favorito em toda e qualquer viagem). Já tinha vasculhado os recônditos mais conhecidos da cidade sem sucesso. Parecia que os “gringos”, claro, já tinham esvaziado tudo o que existia de valoroso nestes redutos de velharias e também de algumas preciosidades… Pois bem. Foi quando adentrei na última indicação feita pelo guarda da Igreja do Carmo: o tal do “Sebo do Chicão”. Confesso que não esperava grande coisa. Bati na porta insistentemente, mas parecia que não havia ninguém naquela casa secular, abandonada e merecedora de uma restauração daquelas. Eis que de repente, a porta se abriu e apresentou-se diante de mim um senhor careca (na verdade tinha alguns poucos cabelos brancos suados, ala Paulo Coelho), de poucos dentes, não muito cheiroso, fisionomia sofrida e literalmente “surrado” pelo tempo… Transmitia, ao mesmo tempo, um “ar” de humildade e melancolia em cada uma das suas palavras, mas ao ouvir minha curiosidade literária, abriu suas portas (fechadas para o público já há algum tempo) para que eu pudesse conhecer, mesmo que de relance, o que restava do seu bom e velho sebo que, vim a descobrir, já fora um dos mais conhecidos da cidade! Em meio aos diversos objetos antigos amontoados, desde ferraduras de cavalos de militares famosos do “Brasil colônia”, até peças de louça inglesa pertencentes a fidalgos que viveram ali nos tempos áureos de Tiradentes, nem parecia que o sebo tinha encerrado suas atividades após longos anos. Mas o que me intrigava mesmo era o olhar do Chicão: mesmo cansado e absorto, despertou interesse descomunal quando o indaguei sobre o motivo da minha busca… Dali viria um diálogo arrebatador: o diálogo com Chicão! (vide parte II)

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1. O Conhecimento e a Inteligência, LIVROVIVO 2000 – 2002, publicado pelo autor em 2003.

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