EMPREENDEDORISMO versus COMODISMO: § 22 – 24

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§ 22

Das características de um novo empreendimento. Empreendedor é somente aquele que funda um novo negócio? Não, de forma alguma. Existem várias formas de empreender… O que caracteriza um empreendimento é a aposta de um “valor presente” para obtenção de um valor maior no futuro. Detalhe importante: este valor pode ser monetário ou não. Ou seja, para empreender é necessário assumir riscos, trocar o certo pelo duvidoso! Se opto hoje por uma alimentação saudável, estou abstendo-me do “prazer” momentâneo da gula (isto é, o valor presente) para gozar de melhor saúde quando chegar aos meus 100 anos (isto é, o valor futuro). Este é um exemplo típico de “empreendimento pessoal”, mas qual seria o risco neste caso? De morrer por outros motivos completamente distintos da qualidade da sua alimentação e não gozar da boa vida gourmet. Percebam que o conceito é realmente muito, muito mais amplo… Existe ainda o “empreendedor social”, aquele que abdica-se do seu tempo (isto é, o valor presente) para gerar uma perspectiva de inserção social a outrem, dando cursos profissionalizantes hoje para adolescentes de comunidades carentes aos domingos (isto é, o valor futuro). Vemos, portanto, que são muitos os tipos de empreendimentos que não se resumem apenas a uma empresa que emprega, gera renda, aufere lucros e paga impostos, tal como concebemos de imediato em nossas mentes… Uma organização qualquer que assume riscos com o objetivo de gerar de valor futuro, monetário ou não, através de ações presentes seria uma definição bem mais abrangente e apropriada de empreendimento, seja ele qual for!  

§ 23

Administrando o novo empreendimento. Mas sob esta ótica, quem então deveria administrar os empreendimentos empresariais ou sociais? Somente os empreendedores têm este dom??? Grave equívoco. Não devemos nunca confundir capacidade de administração com capacidade de empreender. Administradores são aqueles com a devida capacitação (digo formação e experiência) para conduzir negócios e/ou projetos a fim de cumprirem com os seus objetivos, de forma sustentável, independente de qual seja a forma de valor almejada. Uma empresa deseja, claro, obter lucro, mas para tal também acaba gerando empregos e recolhendo impostos que devem, por princípio, ser revertidos para sociedade. Um projeto social, por sua vez, pode ter como meta extinguir a fome em determinada região carente, mas vai acabar alavancando também o crescimento microeconômico. Aqui temos a forma mais prática de expressão do que é uma rede ou cadeia de valor. Foi o professor Michael Porter, da Harvard Business School, quem primeiro cunhou este termo nos idos da década de 80 para analisar as forças competitivas que regem as empresas. No entanto, devemos transpor aqui o mesmo conceito da estratégia de competição para a da colaboração, talvez fazendo mais jus à sua essência… Já os empreendedores, ao contrário dos que só administram, são aqueles que dão as cartas e mostram o rumo que as coisas devem tomar, sejam empresas, projetos sociais ou pessoais. Note que este conceito é bem diferente daquele apresentado pelo sociólogo francês Émile Durkheim, mas dele não podemos deixar de destacar uma frase em que exprime a sua repulsa da mediocridade e o propósito maior que todo empreendedor deve perscrutar, libertando-se do individualismo para construir obras coletivas, algo de valor que realmente faça a diferança para sociedade em qualquer época.1

A vida, diz-se, só é tolerável quando percebemos nela alguma razão de ser, quando ela tem um objetivo, e que valha a pena. Ora, o indivíduo, por si só, não é um fim suficiente para sua atividade. Ele é muito pouca coisa. Além de ser limitado no espaço, é estreitamente limitado no tempo.

§ 24

Holística do sustentável. Por que será que o conceito de “sustentabilidade” está tão em voga nos dias de hoje? Pelo simples fato de encarar as organizações de forma análoga aos organismos vivos, em que todas as interações com o meio – os stakeholders neste caso – devem ser equilibradas para manutenção da existência no plano físico.[*] Holisticamente, extrapolemos da empresa para o SEU mundo. Isto mesmo. Ficaria mais ou menos assim a definição de sustentabilidade: qualquer parte “interessada” na nossa existência, independente do plano em que se encontra: físico ou sutil. Seria a mulher que promete amar o marido (e vice-versa) até que a morte os separe; o funcionário que deseja manter o patrão que lhe paga o salário; o pica-pau que não deixa aquela árvore frondosa por nada… Note que são todas formas de cooperação que visam sustentar uma situação existencial específica. Pode ser a garantia de alimento, o ganha-pão da família ou a manutenção do equilíbrio emocional tão necessário à própria vida!


[*] Referente às partes interessadas que devem estar de acordo com as práticas de governança corporativa.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1. Weiss, R.A. Benthien, R.F. A redescoberta de um sociólogo: considerações sobre a correspondência de Émile Durkheim a Salomon Reinach, Novos estud. – CEBRAP, No.94 São Paulo, Nov. 2012.

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