Ética política

Para muitos nada poderia ser mais enfadonho do que discutir política. Dou-lhes pleno crédito, pois ninguém gosta de falar sobre algo que só nos traz aborrecimentos, ainda mais no país do samba, carnaval e do futebol!!

Mas deixando seu aspecto demeritório de lado, que já estamos demasiado habituados a ver nos noticiários do cotidiano, vamos analisar a política por outra faceta, por sinal bem mais interessante…

Ademais, valeria ainda uma reflexão mais profunda a respeito das palavras do filósofo Franklin Leopoldo, sobre a “banalização da política”:

“Essa espécie de rejeição ética da política configura a profunda contradição em que estamos enredados. Pois se definimos o indivíduo como social, então a separação entre ética e política configura a ruptura entre indivíduo e sociedade, o que no limite significa a ruptura do indivíduo com ele mesmo”.

Portanto, para não deixar que isto aconteça conosco, vamos tentar enxergar a política sobre outro prisma: o da ética.

A sociedade humana, organizada sobre a égide estatal, muito embora ainda esteja bem longe de ser considerada justa, teve consideráveis avanços filosóficos, científicos e sócio-culturais desde o seu surgimento, há alguns poucos milhares de anos. Entretanto, no campo da política, em alguns aspectos, parece ter havido, outrossim, muitos retrocessos…

Nos tempos da Grécia antiga, a democracia não permitia segredos, forçando a transparência total das práticas políticas, o que inibia, em grande parte, a corrupção. Ou seja, não havia como se separar a “virtude moral” da “virtude política”, ou melhor, o princípio do respeito ao próximo e os meandros do poder.

Com o advento do Maquiavelismo, abriu-se as portas da modernidade pelo abandono das virtudes morais, com o intuito de manter o poder a qualquer custo e derrotar os inimigos. Marca-se o início do individualismo na política, visando obter vantagens pessoais, sucesso na carreira e, principalmente, benefícios financeiros…

Infelizmente, Rousseau não conseguiu derrubar estes conceitos nem tampouco a Revolução Francesa. A adoção de valores modernos consagrados, tais como a isonomia legal, o sufrágio universal e a lógica de mercado não deveria nunca tomar o lugar dos valores tradicionais e morais!

Acerca deste assunto, o antropólogo Roberto da Matta ressalta muito bem que:

“A ética como instrumento de gestão lança luz na complexa e difícil dialética entre o princípio da compaixão (para os ‘nossos’) e da justiça (para os ‘outros’)”.

Até mesmo o Lula, nosso ex-presidente, já deve ter percebido – espero – que este jeito de tratar seus “companheiros” não dá muito certo, ou melhor, só poderia dar em “mensalão”.  [o tempo comprovou que ele realmente não se apercebeu…]

Basta analisar o status quo do Brasil de hoje: reflexo do rito eleitoral imperante, em que o voto é encarado, segundo esta cultura do “desencantamento político” e a visão minimalista da democracia, como via crucis do povo.

Fica cada vez mais claro, dentre os incontáveis escândalos decorrentes da falta de princípios éticos, como exemplo marcante deste tipo de conduta na política, o caso de mais um ex-presidente brasileiro – o Fernando Collor – que depois de confiscar a poupança de toda população, sofreu um processo de impeachment devido às acusações do próprio irmão: Pedro Collor.

Sua ambição de ser presidente, antes de estabelecer seu caráter, não foi responsável somente por sua derrocada política, provocou também, mesmo que de forma indireta, a morte de um irmão, sua mãe e seu comparsa Paulo César Farias: o famoso PC. Sem falar dos milhares de casos de suicídio em todo o país, por causa do inadvertido confisco…

Continuando nossa análise, só para se ter uma ideia, uma pesquisa do Ibope que analisava justamente nesta época a questão da ética na política, revelou um dado alarmante: apesar do eleitor ser muito crítico em relação às suas lideranças políticas em termos de ética e corrupção, 75% dos entrevistados confessaram que cometeriam os mesmos impropérios se estivessem no poder.

A autora da pesquisa explicou ainda que:

“As pessoas não vêem a ética como um valor absoluto, mas com gradações, em que é possível ser mais ou menos ético”.

O mais assustador é que não vêem sequer que, em sua essência, a política é uma poderosa ferramenta da ética, isto porque, pelo menos em princípio, deveria visar sempre o bem coletivo em detrimento do individual…

Em termos conceituais, a política é exercida pelo Estado, o qual se vale das leis para regulamentar as relações entre as instituições e os cidadãos. Isto é política interna, contudo, existem também os tratados internacionais que regulamentam as relações entre os países, o que é chamado de política externa.

Nas sendas das relações internacionais, não tenho dúvidas de que ainda estamos muito longe do sonho utópico de um dia ser consolidado um governo de caráter mundial, regido pela Organização das Nações Unidas (ONU), em que todas as leis seriam uniformizadas por meio de tratados multilaterais, ficando todos os Estados subjugados a um Conselho Único que visasse manter os equilíbrios sociais, econômicos e políticos a nível global.

Só assim seria possível vislumbrar uma distribuição mais eqüitativa de recursos, possibilitando a consolidação da justiça gradualmente, sem que para isso incorrêssemos nos graves erros do passado, quando ainda se pensava que o uso das forças armadas, através de guerras sangrentas, poderia sortir algum tipo de resultado positivo…

E ainda dizem por aí com orgulho que a Bomba de Hiroshima pôs fim na 2a Guerra Mundial, poupando milhões de vidas a custo de milhares de outras…

Infelizmente, estamos bem longe desta condição tão almejada, tendo em vista o nível de aprovação absurdo aferido pela sociedade americana quanto à reação do Governo Bush aos atentados de 11 de setembro.

Até quando a intemperança reinará entre aqueles que estão no poder? [e olha que do Bush passamos ao Trump… rss] Não seria a hora da ONU assumir uma postura mais firme e não tão condescendente perante as questões internacionais mais pungentes?

Tenho a certeza de que um dia, afinal, o posto de Secretário-Geral da ONU será mais cobiçado do que o de presidente dos Estados Unidos, ou de qualquer outra nação que venha a ser a mais rica e poderosa… Quando este dia chegar, e receio que ainda tardará, estaremos dando um grande passo na evolução da humanidade!

Neste cenário, urge que se faça justiça à relevância da diplomacia, especialmente no mundo globalizado, em que seu papel é cada vez mais preponderante. Como vimos, um país se governa não só pela resolução de seus problemas internos, mas sobretudo pela sua política externa, a qual deve reger sua relação com as demais nações.

Os reflexos positivos dessa relação são determinantes para o equilíbrio político, financeiro e social, mantenedores da soberania nacional. Tamanha responsabilidade deve recair, necessariamente, sobre mãos tenazes, que sejam capazes de sustentar habilmente este jugo.

No Brasil, assim como na grande maioria dos países de governo democrático, existe um órgão responsável por esta tarefa: o Ministério das Relações Exteriores (MRE). Ele é composto, como pressuposto, por um corpo diplomático da mais alta competência, constituído pelos melhores profissionais de diversas áreas do conhecimento, os quais são selecionados através do concurso mais difícil da carreira pública: o Exame de Ingresso para o Itamaraty.

Estes profissionais, a rigor, são chamados de diplomatas e devem primar pelo conhecimento geral: história, direito, geografia, economia, línguas, política externa, tecnologia, etc. Seu escopo profissional é o de servirem-se destes conhecimentos para poderem informar, representar e negociar os interesses do país e de seus concidadãos.

Nesse sentido, faço questão de louvar o nome do diplomata brasileiro Vieira de Mello, morto num atentado terrorista à sede da ONU, no Iraque pós-Sadan. Este homem, cujo nome muitos desconhecem, talvez tenha sido uma de nossas autoridades mais respeitadas em todo mundo, não somente pelo seu ideário de justiça, mas sobretudo por sua luta incansável pelos direitos humanos. Tanto que o seu nome era cotado para sucessão de ninguém menos do que Kofi Annan como secretário-geral da ONU e Prêmio Nobel da Paz!

Como o mundo seria diferente se, nas sendas da política, existissem muito mais Vieiras´s e não Collor´s de Mello e Lula´s… [aqui pequena atualização do ensaio mediante o “terremoto” que passou pelo país com a admirável Operação Lava jato]

 

Crédito:

Autoria por Ricardo Barreto

Agradecimento ao BUZZ nas redes sociais

Permitida reprodução referenciando ricardobarreto.com

 

Para saber mais:

  1. Barreto, R. L. ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed., Editor-Autor, 2008.
  2. Haag, Carlos, “Entre a Virtude e a Fortuna”, Pesquisa Fapesp, outubro de 2006, No 128, 76-81.

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