Consciência crística e natureza búdica

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Após discorrer pelos 156 aforismos que compõem essa obra, diga-se de passagem: nem tão curtos como se gostaria, desvendando a tal “coisa” como ela é: essa busca inaudita de todo Ser pela compreensão das grandes questões existenciais, sobretudo pela significância aliada à prática da cultura de valor, quais sejam as manifestações nos planos físico e sutil, espero convicto, caro leitor, que esteja agora enxergando ao menos “algo” de forma mais clara… Somente assim, já me darei, peremptoriamente, por satisfeito!

Sobretudo, deve-se exaltar um fato inconteste, independente do credo: de que chegamos até aqui graças a uma perfeita combinação entre a filosofia oriental e ocidental. E concluímos, ainda, afirmando que são três os caminhos para esta ditosa “busca”:

  1. Caminho sinuoso: este é o caminho do pecado, do sofrimento, das vicissitudes… Encontra-se no nível da mente, arraigado ao ego. É longo porque depende da autodepuração, da inexorável lei do carma que só o tempo remedia. Neste longo caminho se encontra a grande maioria das pessoas em nosso mundo; 
  2. Caminho do meio: este é o caminho do estudo, do autoconhecimento, da racionalidade. Encontra-se, portanto, no nível da consciência, superior aos percalços do ego. Não é nem tão curto, nem tão longo porque suscita desvios, oriundos do orgulho, da vaidade e do poder que nos iludem, até encontrar a direção correta: a da “consciência crística”, aliada à “natureza búdica”, condição sine qua non para autorealização; 
  3. Caminho direto: este é o caminho da fé, da moralidade, da santificação. Encontra-se no nível mais elevado da essência divina, do espírito, da nossa alma melhor dizendo… É direto porque é claro, incisivo, tão simplório quanto raro! São pouquíssimos os Seres que têm a dádiva de um guru que os auxilie na autoiluminação dirigida.

A presente obra foi concebida para nos apoiar no estudo do caminho, aqui sutilmente distinto do “caminho do meio” budista, mais propriamente a conciliação do Buda e Cristo como os grandes mestres espirituais da humanidade, sem desmerecer os demais profetas de outras tradições religiosas.

Um nos ensinou a viver o presente, em conexão com a natureza, o divino que existe em cada um de nós – a natureza búdica – libertando-nos do sofrimento que padecem aqueles escravizados pelo apego e aversão. O outro nos ensinou a prática da caridade que se revela na geração de valor ao próximo – a consciência crística – tão lindamente manifestada pela lei do amor pregada nos evangelhos.

Independente do caminho, é na meditação que ambos encontraram a ferramenta evolutiva universal que nos une a Deus, conectando a natureza divina com a prática de valor. É nela que reside a fórmula para enfrentarmos nossos medos mais profundos, desvencilhando-nos do que nada agrega e assimilarmos o verdadeiro conceito da autoiluminação. Isto é o que chamamos de uma vida consciente!

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo VALOR: desvendando conceitos e quebrando mitos

VOLUME II – CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

VERDADE versus EGOCENTRISMO – 133 – 135

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§ 133

De perseguidos a perseguidores. Em muitas das passagens da vida de Jesus, registradas no Novo Testamento, ele se dirigia aos apóstolos ou aos gentios, com a autoridade do Messias: “Em verdade, em verdade vos digo…”. Segundo a ortodoxia da Igreja Católica Apostólica Romana, esta é a autoridade do Espírito Santo, o próprio Deus na figura humana, base do dogma da santíssima Trindade, sacramentado com o aval do imperador Constantino no concílio de Nicéia. Independente das histórias que relatam um sonho inspirador que o levou à vitória no campo de batalha, estava ele certamente mais interessado é na unificação do império, de modo que outra estratégia não seria mais apropriada do que aceitar e propalar o cristianismo como a “única Verdade imperial”, unificando os povos de diferentes culturas sob a égide de uma crença que os distinguia do paganismo vigente na época. Deu tão certo, que de perseguidos os bispos, em nome do poder eclesiástico e num curtíssimo espaço de tempo, se tornaram perseguidores e dos mais sanguinários de toda a história! Foge ao nosso propósito discorrer sobre a história do cristianismo, mesmo que nos ajude a entender como a “verdade” de outrora foi travestida de heresia, em nome do santo graal,1 mas que sirva ao menos de exemplo para que nos atentemos ao verdadeiro significado de verdade.    

§ 134

As nobres verdades. Na verdade, não há uma única verdade e sim, segundo o Buda histórico, são 4 as nobres verdades…2 Ele chegou a essa conclusão após sua suprema iluminação, quando teve plena compreensão daquele que seria o pilar de todos os seus ensinamentos, a saber:

I. Viver é sofrer. Como seres sencientes, sujeitos a apegos e aversões, sofremos desde o instante em que nascemos, amadurecemos, envelhecemos e morremos. Então, renascemos e o ciclo de sofrimentos se repete. Esta é a primeira nobre verdade do Buda.

II. Sofrer é desejo e ignorância. Mas tudo que nos acontece de ruim só pode se originar do anseio em satisfazer prazeres ou, por assim dizer, da falta de conhecimento que dá guarida à ilusão. Esta é a segunda nobre verdade do Buda.

III. Satisfazer é abster-se. Somente pela renúncia de todos os prazeres e ilusões que se é possível atingir a cessação do sofrimento. Claro, isto quer dizer que a independência do ser perpassa pela liberdade dos estados criados pela própria mente. Esta é a terceira nobre verdade do Buda.

IV. O caminho leva à renúncia. Só existe um caminho que nos leva à renúncia, o qual deve ser percorrido com perfeição. O resultado é um só: o Nirvana, em sânscrito, a libertação ou absoluta sabedoria. Esta é a quarta nobre verdade do Buda.

§ 135

O caminho óctuplo. O que mais encanta no budismo é a simplicidade. Tudo se resume numa única fórmula para se alcançar a moralidade, meditação e compreensão intuitiva. Seria muito fácil apenas enunciar as 4 nobres verdades, sem apontar como colocá-las em prática. Buda foi além! Vivia seus preceitos e, ao mesmo tempo, era um exímio professor. Seus ensinamentos eram pautados por histórias que cativavam seus discípulos e, ao mesmo tempo, levavam a uma profunda reflexão. Também gostava de sintetizar os conceitos na forma de guias, como o fez ao traçar o caminho óctuplo para se atingir a quarta nobre verdade, qual seja:

  1. Entendimento correto;
  2. Pensamento correto;
  3. Linguagem correta;
  4. Ação correta;
  5. Modo de vida correto;
  6. Esforço correto;
  7. Atenção plena correta;
  8. Concentração correta.

Seus ensinamentos eram tão poderosos que no seu último ano de vida Buda já acumulava centenas de discípulos diretos. A simples presença de um ser iluminado em nosso planeta é um evento tão grandioso quanto a maior de todas as verdades.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo VALOR: desvendando conceitos e quebrando mitos

VOLUME II – CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

Saiba mais:

1. Bruce Shelley, História do cristianismo: Uma obra completa e atual sobre a trajetória da igreja, Thomas Nelson Brasil, 1ª ed. 2018.

2. Dhammapada: caminho da lei, doutrina budista ortodoxo em versos, trad. Dr. Georges da Silva, 1a ed. 1979.

PAZ versus CONFLITOS § 88 – 90

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§ 88

Do propósito da autoiluminação. Vimos que a total ausência de “ego” nos impele ao estado de consciência búdica chamado de “vacuidade”, em que o ser não mais se condiciona a nada que existe. Está deveras liberto. Sem karma. No entanto, de que adiantaria voltar-se a tal estado se não puder contribuir com a evolução de outros seres? Algo “egoísta” poder-se-ia atribuir como qualidade primordial de tal processo evolutivo. Ao mesmo tempo, como poderiam servir de exemplo para outras consciências sem interagir diretamente com elas? Mais uma das dicotomias de que a metafísica está repleta e por isso mesmo é assim tão instigante… Uma consciência autoiluminada que não se detenha a um propósito evolutivo não pode ter atingido, de fato, a autoiluminação. Buda e Cristo tiveram muitos discípulos, diretos e indiretos. Foram eles os grandes responsáveis pela disseminação das suas doutrinas e se tornaram, assim, seus apóstolos. Ou seja, o propósito maior da autoiluminação é tornar-se uma referência espiritual para iluminar os demais. Não pode haver outro porquê. Neste ponto, diz-se que o ser se tornou uma “consciência-guia”. São consideradas mestres espirituais e somente elas estão aptas a retornarem para o “núcleo” da criação, integrando-se novamente à superconsciência e, ao mesmo tempo, somando esforços a uma coletividade de consciências-guia que continuam a monitorar permanentemente todos os eventos que regem a existência de uma plêiade de consciências a elas conectadas pelo poder do pensamento, único veículo para o qual espaço e tempo não são limítrofes, desde que haja suficiente foco e concentração: o combustível da mente meditativa.

§ 89

Discípulo e mestre. Tal o dilema: é o discípulo que escolhe seu mestre ou o mestre que escolhe seu discípulo? Precisamos, antes de mais nada, descobrir qual seria o critério para uma consciência-guia selecionar seus discípulos e seguidores. Bem difícil especularmos sobre tais premissas que ainda estão muito distantes do nosso atual estágio evolutivo. De qualquer forma, o rigor filosófico nos permite ao menos algumas inferências… Uma delas já foi vista e reside justamente na tendência natural de olharem necessariamente por aqueles aos quais estão conectados pela força do pensamento. Imagine você quantas consciências ao redor do planeta não emitem vibrações diariamente para o Buda ou Jesus Cristo? Me parece muito improvável que estes seres de luz permanecessem indiferentes a tais vibrações, mesmo libertos da egoidade. Evidentemente que não precisam se limitar às coletividades de onde provieram. Podem emanar vibrações geradoras de valor para coletividades inteiras em todo universo e em diferentes estágios evolutivos. Não necessariamente uma coletividade deve ser amparada diretamente por consciências-guia autoiluminadas. Em realidade, consciências de padrões vibratórios inferiores são via de regra direcionadas por planos intermissivos concebidos por consciências-guia mais evoluídas, porém não ainda libertas do ciclo de reencarnações naquele mundo. Ou seja, uma consciência-guia que acabou de libertar-se da necessidade de interação no plano fisíco terrestre pode carecer de interações em outros mundos cuja realidade física seja distinta e cada vez mais sutil. Ao mesmo tempo, ainda distantes da estabilidade plena de que já falamos, podem continuar zelando por consciências dos mundos de onde emigrou. Tais “transmigrações” são a chave dos processos evolutivos dos mundos no intercurso do progresso consciencial rumo à consciência cósmica.

§ 90

Da origem dos conflitos. Que o conflito se origina da ausência de paz é óbvio. Difícil mesmo é descobrir o que de fato nos confere a tão sonhada paz de espírito… Somente ela pode nos livrar do mal e somente ela prescinde de outras coisas para existir. Encontre, portanto, o que nos confere a paz de espírito que assim se extirpará toda e qualquer sorte de conflito. Após muito refletir sobre o tema, cheguei a uma conclusão inusitada: só existe uma origem para todo e qualquer conflito, a ausência de um mestre espiritual. O conflito se dá pela ausência de direção, pela confusão mental, pela falta de rumo na vida! É por isso que Cristo falava que se a sua fé fosse do tamanho de um grão de mostarda conseguiria até mesmo remover montanhas. Isto mesmo, caro leitor. A conclusão tão óbvia é que somente quando encontramos nossa consciência-guia, nosso verdadeiro mestre espiritual, é que cessará a confusão mental, a intempestividade no agir e a letargia e arrependimento no que está por vir. A paz, portanto, advém da fé e a fé só existe se houver alguém que nos aponte o caminho. Fora disso seremos sempre um ser em busca de algo que não sabe exatamente o que é. Um eterno “buscador”, cujo “mundo interior” é tomado pelos arcabouços da mente, num verdadeiro turbilhão de pensamentos, refém dos sentimentos, mais assemelhando-se a um “vulcão” em constante erupção, com ações e hábitos incoerentes com a sua verdadeira essência que nos aproxima de Deus.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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PAZ versus CONFLITOS § 85 – 87

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§ 85

Da paz. Para mim esta palavra tão pequena, e ao mesmo tempo tão poderosa, encerra o significado mais importante de todos os valores no plano sutil. Parece óbvio, mas certamente o leitor, ao iniciar esta reflexão, deve ter pensado, mesmo que de relance, na tão famosa insígnia da hora derradeira: “descanse em paz”. Mas será que este é realmente o único atributo de quem está em paz? Também ficamos aqui a pensar: será que não seria possível atingir a paz em vida??? Adianto que podemos respirar aliviados: por certo que não é preciso morrer para encontrá-la! Muito pelo contrário… Buda e Cristo, bem como muitos de seus seguidores, e outros profetas de diversas crenças religiosas, já a encontraram e em vida. Uns a chamam de nirvana, outros de comunhão eucarística, ou samádi, mas no fundo a essência é uma só: um estado de profunda conexão com Deus, cujos atributos são revelados pela imutabilidade de condicionantes, vacuidade dos pensamentos e bondade compassiva nas ações.

§ 86

A natureza de Deus. A imutabilidade é algo inatingível? Sim e não. A total ausência de condicionantes nos parece algo surreal porque somos demasiadamente mundanos, apegados aos sentimentos e cheios de preconceitos, aversões e medos oriundo das experiências mal sucedidas do passado. Ou seja, remoemos o passado e receamos o futuro, deixando de lado a única realidade acessível que é o presente. Paradoxalmente, a única verdade é justamente contrária: todas as consciências irão sim atingir algum dia o estado fundamental de estabilidade, a tão sonhada imutabilidade. A única diferença é que o Criador sempre existiu, imutável e absoluto. Nós, não. Dele proviemos em algum ponto no “espaço-tempo”, nos desviamos através de ações geradoras de karma e para ele regressaremos algum dia, regidos pela “lei de atração”. A física e a química quântica também não nos ensinam este mesmo conceito pelos elétrons que eventualmente, após muito orbitarem em suas “meia-vidas”, colapsam novamente ao núcleo e reencontram prótons, nêutrons e quem sabe mais?! As respostas, mesmo das questões filosóficas ou metafísicas consideradas insondáveis por muitos, estão invariavelmente na própria natureza que reflete a perfeição das leis que a regem.1  

§ 87

Um dilema de identidade. Todos aqueles que já se enveredaram nos estudos do budismo original,2 passando pelas primeiras escrituras do cânone em Páli,[*] compiladas por monges que viveram na Índia antes da Era Cristã, bem como do entendimento de escolas mais modernas como a do zen budismo que têm no conceito de “vacuidade” um dos seus pilares, muito provavelmente se depararam com o questionamento fundamental de que, para a total ausência de ego seria realmente preciso abster-se até mesmo da identidade do ser, da alma, dessa nossa unidade indivisível e universal que nos conferi a singularidade da existência. Confesso que, para mim, este foi um ponto de cisão filosófica, considerado um tanto quanto ambíguo para uma doutrina que também se pauta pela lei de causa e efeito: o karma. Voltando à questão da “liberdade infinita” adquirida pelas consciências auto iluminadas, qual seria o sentido de tanto esforço evolutivo se disso resultasse o nada panteísta, ou seja, perde-se a identidade após tanto esforço evolutivo? Mesmo apregoando-se contrários ao niilismo, o estado de liberdade infinita não significa que estas consciências que atingiram a imutabilidade e a vacuidade não irão mais interagir de forma alguma com outros seres. Na verdade, elas passam a interagir permanentemente, mas de forma indireta exercendo o terceiro dos atributos: a bondade compassiva. Tenho de concordar que estes “seres de luz” dificilmente retornam ao plano físico, salvo raríssimas exceções como a vinda do Cristo com o curso intermissivo, em momento crítico para impulsionar a humanidade por demais subjugada.


[*] O páli é uma língua litúrgica utilizada na escola Teravada do budismo. Pertence ao tronco linguístico indo-europeu. É uma língua antiga indiana, próxima daquela falada pelo Buddha. Pode-se dizer que o páli é uma forma simplificada de sânscrito.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

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Saiba mais:

1. Barreto, R. L. LIVROVIVO: 2000 – 2002, Campinas: Editor-Autor, 2003.

2. Bodhi, Bhikkhu, In the Buddha´s words: an anthology of discourses from the Pali canon, 1st ed., Somerville, USA: Wisdom Publications 2005.