PODER versus MEDO § 106 – 108

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§106

O dogma do aborto. Observemos uma distinção primorosa entre juízo ético, declarações factuais e orientações práticas.1 Como a religião se apoia no valor, tem um juízo ético muito arraigado no significado da vida humana que é considerada sagrada. Decorre daí a declaração de um único fato: de que a vida humana se inicia no momento da sua concepção. E, claro, esse resulta numa orientação prática: a de que o aborto, a qualquer momento, deve ser considerado um atentado à vida humana, contrário, portanto, à vontade do Deus, seu Criador.

Figura. Aborto: um exemplo de dogma religioso.

É absolutamente inútil achar que você irá convencer uma mulher devota ao catolicismo a abortar o “fruto biológico” de um estupro, mesmo com o amparo da lei!

Muitos países já admitem tal procedimento até o sétimo dia de gestação, mais precisamente antes que o sistema nervoso esteja formado. Tal orientação prática se baseia, outrossim, em fatos científicos capazes de anular os efeitos instauradores dos dogmas religiosos.

§107

O dilema da engenheira de software americana. O rompimento de um dogma religioso, pela ciência, nunca se dá, portanto, no campo do juízo ético. No caso do dogma científico o rompimento se dá no sentido contrário, ou seja, da declaração factual para o juízo ético. Veja o seguinte dilema. Uma engenheira de software americana que trabalha numa startup de sucesso por US$100 a hora precisa decidir como proceder com seu pai que acabou de ter um AVC. De duas uma: ou traz seu pai para morar com ela e reduz sua carga horária fazendo home office para poder cuidar do pai ou contrata uma cuidadora mexicana por U$12 a hora e resolve a situação com apoio profissional. O que você acha que ela vai fazer? O juízo ético é de cada um, mas o fato é que a ciência (neste caso a econômica), muita vezes, tem falado mais alto…

§108

A neuroquímica do medo. Ao sentir-se ameaçada pelo medo, nossa mente dispara uma dose cavalar de noradrenalina,[i] promovendo o aumento dos batimentos cardíacos que favorece a reação de fuga imediata à eminência do perigo. Acontece que, em geral, não temos mais que fugir para enfrentar os perigos. Não são mais os leões que nos amedrontam… Boa parte do estresse e infelicidade das pessoas é fruto exatamente da falta de compreensão e controle deste mecanismo. Ao longo do dia as pessoas passam constantemente por breves situações de perigo, seja pela freada brusca no farol que fechou, a bronca inesperada do chefe ou o bebê que escorregou e caiu da banheira. São todas fontes de medo: de perder a vida, de perder o emprego, de perder um ente querido, etc. Imaginem o acúmulo de noradrenalina que decorre destas constantes fontes de medo. Num limite isto está adoecendo as pessoas. Sendo assim, me parece bem razoável acreditar que, se o medo é gerado pela incredulidade, a única fórmula infalível de revertê-lo, aquela que atuará na sua causa-raiz, é o autoconhecimento. A busca da compreensão em si daquilo que sustentará seus pensamentos, ou seja, suas crenças. Não falo de qualquer crença. Falo de transcendência. Falo de Deus. Falo de energias sutis que, como vimos, ainda estão nos campos da ciência de fronteira… Chegaremos lá!


[i] A noradrenalina, também chamada de norepinefrina, é um dos neurotransmissores que mais influencia o humor, a ansiedade, o sono e a alimentação junto com a serotonina, dopamina e adrenalina.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena (volume II)

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Saiba mais:

1. Harari, Yuval Noah, HOMO DEUS: uma breve história do amanhã, 1a ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

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