EMPREENDEDORISMO versus COMODISMO: § 16 – 18

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§ 16

Da vitalidade do ócio criativo. O cômodo é aquele que se faz limitado, criando paredes que não existem e separam, assim, a busca da solução, ao invés de cultivar os catalisadores de todo empreendimento: o “stress positivo” e o “ócio criativo”. E acreditem: pior que o cômodo é o comodismo! Verdadeira praga que assola quaisquer impulsos de vitalidade ou reflexão em prol da tecnologia, ou seja, de uma aplicação que se valha. A arte de empreender nasce, portanto, desta sutil dicotomia existente entre o fazer incessantemente e o constante nada fazer… Isto mesmo, tanto a atividade frenética e criadora das pessoas que não sossegam enquanto não realizam sua ideia tida como revolucionária porém inatingível, como aquele ser do tipo pacato que parece gostar de contar os dias, as horas, os minutos… Sempre refletindo sobre o propósito das coisas, o por que dos porquês, a busca da maravilha a todo instante! Não chega a ser prolixo, mas profilático em explicações ao encadeamento dos fatos… Sim, o ato de empreender requer por um lado o stress que nos move, nos tira das limítrofes zonas de conforto, nos desafia, nos leva ao ápice, onde, exaustivamente, se propicia a superação característica dos espíritos inovadores. Por outro lado, no “ócio criativo” se esbaldam os intelectos introspectivos, que precisam se voltar para dentro de si, na busca dos verdadeiros insights, aqueles lampejos que só se fazem presentes na quietude da mente que não cala… Portanto, nem de stress nem de ócio se faz uma grande invenção. O empreendedor precisa, outrossim, de ambos!

§ 17

Benesses do stress positivo. Como você se sentiu ao receber aquela notícia de admissão no novo emprego tão almejado? E quando finalmente desencantou o primeiro beijo no ser amado?? Ou senão, ao terminar uma atividade de esforço físico intenso como aquela corrida desafiadora de 20k num domingo ensolarado??? Certamente em todas estas situações, são as reações bioquímicas que se processam em nosso organismo que liberam hormônios e substâncias neurotransmissoras relacionadas às sensações de prazer como a testosterona, a dopamina ou serotonina. São elas as responsáveis, no nível molecular, pela sensação de prazer, confiança e alegria que nos mantêm motivados e literalmente energizados, o tal do “stress positivo”… Agora pense comigo: você acredita que um empreendedor nato como Steve Jobs (o cofundador da Apple) teria revolucionado a Era Digital se estivesse sempre deprimido, desmotivado e de cabeça baixa, enquanto os nerds da Xerox ou da IBM à sua volta reinventavam a maneira como os computadores seriam utilizados pelas pessoas? Certamente que não e ainda estaria na garagem da casa dos seus pais em Cupertino…Vejam: este cara vivia “ligado 24h no 440”, conforme comprova sua célebre biografia por Walter Isaacson.1 O grande desafio está, portanto, em controlar os nossos pensamentos para induzir propositalmente esta resposta fisiológica tão desejável (chamada cientificamente de “eustress”) sem ativar os sistemas relacionados ao vício que são tipicamente afetados nestas mesmas circunstâncias…

§ 18

A liderança que “remove montanhas”. Por que a característica inata da liderança é assim tão fundamental para se empreender? Os líderes são invariavelmente tidos como “referências”, mesmo que nem sempre no bom sentido… São aqueles que servem de exemplo pela prática, em pelo menos algum aspecto da existência para outros seres. São, por este mesmo motivo, considerados como “guias corporativos” para se atingir determinado objetivo. Ao empreendedor que não exercer a liderança, dificilmente conseguirá difundir a cultura essencial de seu empreendimento, aspecto este considerado crítico para mobilização de coletividades em prol do crescimento acelerado. As pessoas, para serem lideradas conscientemente, precisam ter a noção exata do caminho a trilhar para atingir o estado vislumbrado pelo empreendedor. E ainda mais, incorporam elas esta missão como algo que fosse apropriado literalmente, como se fizessem (e o fazem) parte desta importante realização… Vejam o exemplo relativamente recente do Larry Page, CEO e cofundador de uma startup de sucesso arrasador, que conseguiu transformar o campus do Google no espaço mais almejado para se trabalhar entre os atuais nerds programadores, agora reconhecidos pelo termo bem mais apropriado de “criativos inteligentes”.2

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

Gostou? Mãos ao BUZZ nas redes!

Saiba mais:

1. Walter Isaacson, Steve Jobs: a biografia, São Paulo: Companhia da Letras, 2011.

2. Eric Schimidt e Jonathan Rosenberg: Como o Google funciona, 1a ed. Rio de Janeiro: Intrísnseca, 2015.

Netica – parte II

#ricardobarreto #filosofia #netica

Vimos no primeiro post da série (vide Netica – parte I) que estão abertos, com todos estes avanços advindos da rede mundial de computadores, tempos altamente profícuos à disseminação da cultura.


Todavia, urge que estas questões passem pelo crivo da ética na internet, a qual chamamos aqui de netica, e que deve estar presente de forma ubíqua e sem distinções…


Este é um assunto altamente estratégico ao desenvolvimento das nações, sendo que a “inclusão digital” pode significar o acesso amplo e irrestrito à “educação autodidata”, rompendo os liames que ao longo de toda a história da humanidade separaram as classes sociais…

Alguns países mais avançados já estão inclusive dando para as crianças um laptop (ou tablet e, daqui a pouco, sei lá!) e oferecendo acesso gratuito à internet em praças e prédios públicos. Fica patente, portanto, a importância do momento social que estamos vivenciando, de modo que vamos procurar nos ater um pouco mais sobre um dos principais “agentes” destes novos tempos: os hackers.

 

Hackerismo

Segundo o próprio Linus Torvalds, prefaciador de um interessante livro de Pekka Himanen, um hacker é:

Uma pessoa para quem o computador já não é um meio de sobrevivência. 

Esta definição foge completamente ao sentido vulgar, empregado com tanta frequência nos meios de comunicação, segundo o qual o hacker seria uma espécie de “pirata da Internet” que se aproveita das suas habilidades em programação para invadir sistemas, roubar informações confidenciais e delas se beneficiar financeiramente, infringindo as leis vigentes ou não…

Este é um novo tipo de crime que vem ganhando proeminência nos últimos anos em nossa sociedade com o advento da internet e a sua popularização. Muitos países já até adaptaram suas leis de modo a incluir em seus códigos penais as infrações por falta de conduta ética no “mundo das relações virtuais”.

Muito embora todos estes esforços sejam louváveis e, até certo ponto, naturais, quero mover o objeto das nossas reflexões para o sentido mais amplo da palavra hacker… Vejamos.

A nova ética do trabalho

Fiquei surpreso ao descobrir que esta palavra também pode se referir a qualquer outra atividade e não somente ao “universo dos programadores de computador”… Seria, assim, muito melhor considerar o seu significado como sendo uma “postura de trabalho” e não uma atividade específica.

Segundo Pekka, o trabalho deve ser encarado como algo interessante e desafiador. Deste modo, ele se torna uma diversão, bem diferente da forma como era encarado por Max Weber no seu clássico A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Também não significa que as pessoas devam se tornar verdadeiros workaholics


Só se ganha “valor de verdade” ao minimizar o tempo que jogamos no “lixo” com coisas fúteis… E como tem coisa fútil hoje em dia! 


Esta nova “ética do trabalho” tem uma relação direta com o tempo livre, ou o chamado “Ócio Criativo” já mencionado anteriormente. O mais importante é saber que todo hacker assume, via de regra, uma postura de liberdade com relação ao tempo e dinheiro, o que lhe confere maior autonomia, motivação e criatividade.

Epa! Agora o famoso ditado que diz “tempo é dinheiro”, já não soa tão mal… Parece até contraditório falar de “tempo livre” numa sociedade tão dinâmica e imediatista quanto a nossa, em que as pessoas não têm tempo sequer para curtir a família! Isto porque a “cultura capitalista”, sem sombra de dúvidas, requer agilidade nas decisões.

O Taylorismo, como método clássico de otimização do tempo, nunca teve tamanha força, visto que a competição num mercado global, movido pelo desenvolvimento tecnológico e o marketing digital, é das mais acirradas em toda a história da civilização, mesmo que a emergência da “economia colaborativa” tenha mudado um pouco a sua cara… Salve o conceito de growth hacking!


O hacker, portanto, se tornou uma figura vital ao progresso da sociedade pós-moderna, praticamente seu ícone! Diriam alguns mais empolgados como eu… [rss]


Sem preocupar-se sobremaneira com a “questão do dinheiro” que para ele é uma simples ferramenta para o progresso e não o motivo das suas ações, o hacker se exime, em grande parte, de um dos maiores bloqueios do homem moderno: a ansiedade.

Livra-se, assim, da insegurança e ganha confiança para trabalhar sem amarras, livre das tensões reprobatórias, responsáveis diretas pelos estados depressivos que têm afligido cada vez mais vítimas na sociedade pós-moderna, abarrotando os consultórios psiquiátricos, quando não o consolo em terapias ilusórias de auto-ajuda…

 

Tudo isso nos remete a uma séria indagação: será que tanta informação contribui efetivamente para nossa felicidade?

Bem, esta é uma reflexão pessoal a que todos deveriam se submeter para melhor inserção na chamada “Era da Informação” que está repleta de oportunidades…

Mas, enquanto não temos estas respostas, nem tampouco apareça alguma outra grande revolução tecnológica (como foi a internet) que venham então mais Linux, Torvalds!

Créditos:

Autoria por ricardobarreto.com

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Aprecie sem moderação

Saiba mais:

  1. Barreto, R. L. ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed., Editor-Autor, 2008.
  2. Pekka Himanen, A Ética dos Hackers e o Espírito da Era da Informação, 2001, Editora Campus.
  3. Weber, Max, A ética Protestante e o Espírito Capitalista, São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
  4. De Masi, D. O Ócio Criativo, Rio de Janeiro: Sextante, 328 p., 2000.