Filtrando dados com inteligência científica

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Já vimos que a “competência científica” é algo que se cultiva desde a mais tenra idade. Também vimos que as “instituições de pesquisas” são o segredo para o desenvolvimento de um país. Discorremos então sobre o que é e qual a importância da tal da “inteligência científica”. Mas ficou algo em aberto, uma pergunta cabal: como colocá-la em prática?

Tudo começa com o que chamamos aqui de data mining ou, no universo acadêmico, mais propriamente “vigília informacional”. Deve-se monitorar apenas uma métrica: a produção científica dos pesquisadores e das instituições de pesquisas a que estes são afiliados. Mede-se pelo número de papers publicados em periódicos científicos que, por sua vez, são acessíveis através de bases de dados especializadas.

São as “bases de dados científicas”, portanto, o ponto de partida para todo e qualquer processo de inteligência científica. Não importa se ela é multidisciplinar ou específica, nem tampouco se a sua abrangência é nacional ou internacional. Importante mesmo é saber se é a top of mind na sua linha de pesquisas! Vejamos como isto se dá.   

Seleção das bases de dados científicas

Antes de mais nada, deve-se dispor de uma lista de bases de dados científicas de acesso aberto para validação pela maior produção científica no último ano com as TAGs (ou palavras-chave) mais importantes na sua “pesquisa de interesse” e na principal “pesquisa relacionada”. Vejamos um exemplo prático.

Supondo que você atue como pesquisador dentro de uma indústria farmacêutica, interessado evidentemente na descoberta de novas drogas. Muito possivelmente sua TAG de interesse seria drug candidates e a TAG relacionada drug design. Então, você deve efetuar as buscas pelo abstract (ou título) em cada uma das bases de dados da lista.

Ao final do processo, você deverá selecionar minimamente duas bases: a TOP 1 entre as internacionais e multidisciplinares, bem como a TOP 1 entre as nacionais e específicas. Essa é a melhor maneira de se garantir boa representatividade e abrangência ao mesmo tempo… Neste caso específico (veja abaixo) ficamos com a PubMed e a ScienceDirect.

Figura I. Lista de bases de dados científicas.

Identificando pesquisas relacionadas

Agora, vamos supor que você não soubesse quais são as pesquisas relacionadas com a sua pesquisa de interesse. Como poderias repidamente identificar as mair importantes? As técnicas de text mining são essenciais nesta tarefa e muitas outras… Vamos continuar com o nosso exemplo do pesquisador da indústria farmacêutica.

O primeiro passo é acessar a base de dados TOP 1 selecionada anteriormente (a ScienceDirect, por exemplo) e pesquisar com a TAG da sua pesquisa de interesse (no caso “drug candidates”) no abstract e identificar TAGs de pesquisas relacionadas nos títulos dos resultados dos artigos mais recentes ou mais relevantes.

O próximo passo é descobrir qual o Grau de Correlação (GC) de cada uma das pesquisas relacionadas com a pesquisa de interesse. Basta realizar uma busca simple pelo abstract empregando as duas TAGs ao mesmo tempo e, posteriormente, calcular a contribuição relativa (%) de cada uma delas. Na tabela abaixo pode-se observar facilmente que as drogas anti-inflamatórias são uma pesquisa relacionada bem importante! 

Figura II. Pesquisas relacionadas pelo Grau de Correlação.

Identificando instituições e pesquisadores

Aplicando-se a mesma técnica, é também muito simples para se identificar os pesquisadores e instituições com maiores esforços na pesquisa de interesse ou na pesquisa relacionada. Basta realizar as buscas na mesma base de dados com a TAG no abstract e identificar as instituições e pesquisadores dos resultados mais relevantes.

Então, você deverá repetir a pesquisa combinando a TAG da pesquisa de interesse (no caso drug candidate) pelo abstract ao mesmo tempo com o nome da instituição em affiliation (ex. Pfizer) ou do pesquisador em author (ex. Carlos A.M. Fraga). Após registrar a respectiva produção científica de cada um deles, ordene a lista decrescente para obter o ranking de relevância (figura III). 

Observe que a produção científica mede tão somente o número de papers publicados em determinado período. Não pode ser tomado como uma verdadeira medida do “impacto” das pesquisas na referida área acadêmica. Veremos mais a frente que outros parâmetros devem ser considerados para uma avaliação mais fidedigna para tomada de decisão. De qualquer forma, não deixa de ser um belo indício… Afinal de contas: não é à toa que a gigante da indústria farmacêutica Pfizer está em primeiro lugar e disparado!

Figura III. Instituições e pesquisadores pela produção científica.

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Vimos, afinal, que filtrar dados com inteligência científica não é um “bicho de sete cabeças”! Longe disso. Não importa qual seja sua pesquisa de interesse e pesquisas relacionadas. Depois de encontrar a base de dados científica mais apropriada, usando técnicas muito simples para realizar as buscas, você estará a um passo de obter as informações de que precisa para decidir com sucesso o rumo das suas pesquisas…

Imagine quão mais produtivo e efetivo você seria como pesquisador, independente da afiliação, se constantemente avaliasse as bases de dados científicas, identificando sempre novas oportunidades de investigação, bem como um “farol” sobre as instituições de pesquisas e pesquisadores de excelência em cada uma delas? Veremos então como ir além.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Obra no prelo: INTELIGÊNCIA DE VALOR: boas decisões sempre

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Inteligência científica

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Longe de mim querer evocar a importância ciência, aquela que pode ser considerada o “Santo Graal” da sociedade moderna! Deixemos estas questões para os acadêmicos, estes seres exultantes que perseguem obstinadamente suas teorias, por certo com a destreza e liberdade que só aqueles desprovidos de interesses espúrios o têm…

Acontece que sem ela não tem tecnologia. E sem tecnologia não tem invenção, muito menos inovação! Como já vimos noutro contexto,1 a inovação é o resultado de três pilares: ciência, tecnologia e mercado. E a inteligência é a ferramenta que dá “liga” no montante de informações que permeiam a busca pelo melhor desempenho, mais propriamente o “diferencial competitivo” em produtos, processos ou modelo de negócios.

Comecemos então pela tal da “inteligência científica”. O que seria?  Por que ela é ainda tão pouco conhecida e valorizada em nosso país? Vejamos que tudo começa pela formação das competências e são elas justamente o propulsores que revolucionam as nações mais desenvolvidas.   

Competência científica

Saber ciência não se aprende na universidade. Calma, não me crucifiquem ainda! Quero dizer que saber ciência é algo pra lá de cultural, ou seja, algo que deve ser cultivado desde cedo, em casa, no círculo mais próximo de amizades, em qualquer lugar do nosso convívio social ordinário e não somente no rebuscado ambiente acadêmico… Quem já leu a biografia completa do Eisntein tem uma noção exata do que estou falando.2

Toda criança deve guardar a recordação daquela luneta “mágica” no alpendre do quarto em que o pai lhe guiava nos primeiros degraus do conhecimento do cosmos. Ou daquele fatídico dia em que ganhou sua primeira medalha na olímpiada de ciências do ginasial. Enfim, a ciência deve permear até mesmo aqueles momentos únicos da conquista do primeiro amor, como a metáfora euclidiana que usou ao chegar no topo da montanha naquela romântica tarde de outono…

Pois bem. Espero que agora tenha ficado mais claro o que é a “cultura científica” e o porquê que ela leva aos grandes cientistas. Certamente é por isso que o Brasil ainda não se encontra no hall dos laureados pelo prêmio Nobel, oxalá! Enquanto, vivermos numa sociedade onde apenas jogadores de futebol ou cantoras pop estão na “boca do povo”, tenham certeza de que bem distantes ainda estamos do grau de maturidade científica das grandes nações.

Nem por isso podemos dizer que somos de todo um fracasso. Longe disso! O Brasil tem uma produção científica “respeitável” no contexto mundial, muito embora a relevância dos trabalhos publicados não seja das maiores. Veja, ao fazermos uma consulta do número de artigos científicos publicados (conhecidos no meio como papers) no ano de 2019 pela Wiley Online Library,[*] veremos que o Brasil, com 5.390 papers, não fica tão distante assim de países desenvolvidos como o Japão (com 12.670 papers) e a França (com 9.903 papers). Voilà! Se não nos falta competência científica, o que pode estar errado?   

Instituições de pesquisas

Claro, sempre deve haver um motivo relacionado à política pública… São as instituições de pesquisas, mais propriamente as universidades que estão minguando. Não se pode formar um Bill Gates, um Thomas Piketty ou um Richard Dawkins sem fomentar, em primeiríssimo lugar, os verdadeiros celeiros de todo o conhecimento!

É dali, meus caros leitores, que nascem o pensamento crítico, a capacidade de fazer associações menos óbvias, o raciocínio analítico aguçado que brota somente naqueles que passam anos a fio, percorrendo bibliotecas, debruçados em livros massivos e vasculhando as bases de dados de papers para apresentar algo que o valha para os seus orientadores, os professores acadêmicos, desde a iniciação científica ainda na graduação, até os exames mais avançados da pós-graduação nos mestrado e doutorado. Quem já fez sebe que o buraco é mais embaixo!

Acontece que, no Brasil e na quase totalidade das nações subdesenvolvidas ou em desenvolvimento ao redor do mundo, são pouquíssimas as universidades que possam verdadeiramente ser consideradas como centros de excelência acadêmica. Elas são medidas normalmente por um conjunto de indicadores baseados na performance da sua pesquisa acadêmica, nos desdobramentos gerados em termos de inovações tecnológicas e no impacto social para a comunidade onde se encontram inseridas.

O Scimago Institutions Rankings,[**] pertencente ao Scopus e que faz parte de uma das maiores editoras científicas do mundo (a Elsevier), nos mostra que seis das melhores universidades do mundo (as TOP 10) são americanas. Evidentemente que Harvard, MIT e Stanford estão no topo da lista! E onde estão as brasileiras? Bem, a única que está entre as TOP 100 é a nossa USP – Universidade de São Paulo, mais precisamente na sexagésima primeira posição. Pasmem: o Brasil tem apenas 6 instituições entre as 500 primeiras colocadas enquanto os EUA têm 250!!

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Fica claro, portanto, que existe um verdadeiro “abismo” entre nós e eles! E a única solução seria um “Plano Nacional de Desenvolvimento da Ciência”, nos mesmos moldes que os Estados Unidos o fizeram no período do pós-guerra. Isto levará anos, ou melhor, décadas de muita boa vontade política… E tomará rios de dinheiro do orçamento público, o qual espera-se que um dia possa finalmente ser destinado para educação. Mas será que existe algo que possa agregar ou pelo menos encurtar um pouquinho este árduo caminho?

Sim. É a tal da “inteligência científica”. Segundo Tavares (2008-2009),3 pesquisador pioneiro ao cunhar este termo, sua conceituação envolve a capacidade de um profissional aplicar os princípios da “metodologia científica” em suas decisões, mais propriamente o seguinte:

A competência de interpretar os dados gerados pela pesquisa acadêmica para decidir racionalmente sobre métodos e procedimentos que comprovem a eficiência, a eficácia e a efetividade das ações desenvolvidas no trabalho realizado.

Trocando em miúdos, o que ele quis dizer é que todo conhecimento científico deve ter um propósito definido e que este esteja perfeitamente alinhado com a missão e visão de onde se pretende chegar! Ou seja, se o nosso ilustríssimo Ministro da Ciência e Tecnologia (e seus sucessores) mobilizarem a comunidade em prol do tal Plano Diretor da Ciência, explorando a competência brasileira em certas ilhas de excelência como, por exemplo, a energia renovável e biotecnologia, certamente galgaremos patamares científicos nunca antes perscrutados. Nunca deixarei de ser um entusiasta da ciência, desde que ela mire, no final do dia, para a inovação!


[*] Considerada uma das maiores editoras do mundo e congrega mais de 1.600 periódicos científicos no seu portfólio. Conheça AQUI .

[**] Colsulte gratuitamente os filtros detalhados de pesquisas na base de dados do Scimago Institutions Rankings AQUI.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Obra no prelo: INTELIGÊNCIA DE VALOR: boas decisões sempre

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Saiba mais:

1. Barreto, de L. Ricardo. IttiNomics: um guia especial para inovação aberta, Valinhos-SP, Editor-Autor, 2ª ed. 2016.

2. Isaacson, Walter, Einstein: sua vida, seu universo, São Paulo: Companhia da Letras, 2007.

3. TAVARES, C. A. Visão holística da avaliação de competências à luz da metodologia científica. Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, Recife, v. 5/6, p. 79-102, 2008-2009.