Ética corporativa – parte II

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Na primeira parte deste ensaio, vimos os conceitos de ética corporativa e como a ambição pessoal pode moldar o comportamento profissional das pessoas rumo ao conflito de interesses.

Para ilustrar este ponto, rememoramos o escândalo mundial da Parmalat que se tornou caso emblemático. Vamos agora nos aprofundar no modus operandi das falcatruas para, quem sabe, encontrarmos uma saída…

O cuidado com a imagem corporativa

Nesta verdadeira “selva capitalista”, nem sempre as coisas são o que parecem. Sem dúvida, a imagem de uma empresa é o segredo para o seu sucesso! Acontece que justamente aí começam as grandes falcatruas… Nem toda empresa prima pelas boas práticas de governança corporativa.

Só para se ter uma noção mais clara da problemática, até o final de 2003 a maioria das agências de risco ao redor do mundo conferiam nota máxima à Parmalat em suas avaliações (vide parte I).

A tentativa de passar uma “boa impressão” ao mercado, sem lançar mão de artifícios como falsos esboços, constitui um dilema ético não só nas relações empresariais, mas sobretudo em nossas próprias vidas profissionais.

No Brasil o buraco sempre é mais embaixo!

Claro que o Brasil não poderia está isento destes grandes escândalos financeiros. Muito pelo contrário. Aqui, quando se trata de corrupção e lavagem de dinheiro, o buraco sempre é mais embaixo!

Quem não se lembra da falência da gigante do setor imobiliário: a Encol? Eu mesmo conheci duas pessoas, entre as 42.000 famílias lesadas pela empresa, que perderam as economias de toda uma vida!!!

Depois disso tomamos algumas providências para regularizar a nova lei de falências, muito embora persista a causa-raiz: de que adiantam as leis se não existe fiscalização preventiva e, o que é pior, se a impunidade impera sobretudo para os criminosos mais abastados?!

O único consolo é que a justiça, afinal, está começando a fazer sua parte, pelo menos no exterior. Os diretores financeiros, auditores e até mesmo o próprio fundador da Parmalat já foram parar no xilindró! *

Em depoimento, um diretor chegou até mesmo a confessar ter recebido a difícil tarefa de arrebentar um computador a marteladas ao final do expediente.

* Nesta época ainda nem sonhávamos com a nova realidade propiciada no Brasil pela Operação Lava Jato que também levou para cadeia inúmeros políticos e empresários.

Chamou-me especial atenção, no campo da responsabilidade sócio-ambiental, o caso da indústria química Shell do Brasil que chegou ao cúmulo, em meados de 2002, de se auto-denunciar por conta de uma contaminação no solo provocada numa área residencial localizada na cidade de Paulínia (SP).

Depois de intensa “batalha judicial”, envolvendo contestações completamente descabidas quanto aos laudos técnicos idôneos, a empresa foi condenada a indenizar as famílias lesadas. Mesmo assim, deve-se ressaltar que não existe dinheiro no mundo capaz de resgatar a saúde e a vida!

Últimas reflexões apropriadas

Eu, estupefato, me faço então quatro indagações e convido os leitores a refletirem sobre elas:

  1. O que as pessoas não se sujeitam a fazer para perseguirem suas ambições?
  2. Por que estes altos executivos não estabelecem seus valores e princípios antes das suas ambições?
  3. O que deve reger a ética nas relações empresariais?
  4. Existe alguma diferença entre a ética pessoal e a ética corporativa?

Julio Lobos responde com primor a todas estas questões em seu livro que se faz repleto de exemplos, reflexões e diretrizes de conduta ética e profissional.

Ele nos remete, então, a uma frase filosófica muito singular de Ovídio que diz sabiamente o seguinte:

A causa má torna-se pior quando queremos defendê-la.

Um funcionário moralmente correto age pelo bem da sociedade como um todo e, consequentemente, da sua própria empresa. Não se pode tomar atitudes isoladas para resolução de problemas imediatos sem antes pensar nas implicações mais abrangentes para sociedade e o meio-ambiente.

§

Vimos, portanto, que um escândalo financeiro ou sócio-ambiental pode comprometer irreversivelmente a imagem de uma empresa. Recordo-me aqui, forçosamente, de minha querida vózinha Marieta (in memorian) que sempre me dizia que a ética vem de berço.

Apenas complementaria que enquanto não houver uma conscientização moral estimulada internamente pelas próprias empresas, desde os processos seletivos até no trabalho de rotina, continuaremos assistindo, cada vez mais, a este tipo de escândalos.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Conteúdo exclusivo de ricardobarreto.com

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Saiba mais:
  1. Barreto, Ricardo de Lima, ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed. Editor-Autor, 2008.
  2. Lobos, Julio, Ética & Negócios, 1a ed., São Paulo: Instituto da Qualidade, 2003.

Ética corporativa – parte I

#ricardobarreto #livrovivo #éticaevolucionista #filosofia #ética #éticacorporativa #éticapessoal #escândalodaparmalat

FORMATO DO CONTEÚDO: blog post

TEMPO DE LEITURA: 00:02:59

GÊNERO LITERÁRIO: ensaio

Esta análise ética foi inspirada pelo artigo do articulista Stephen Kanitz, publicado na revista Veja em janeiro de 2001. Ele exprime, com primor, a problemática que nos propusemos a tratar.

Entretanto, seria imprescindível, ao abordarmos este delicado tema, que sejam traçadas algumas breves definições, as quais não ousaria modificar sequer uma vírgula com relação àquelas concebidas por Kanitz!

Ambição e ética

Primeiramente, ela generaliza o termo AMBIÇÃO como sendo:

Tudo aquilo que pretendemos fazer na vida: ganhar dinheiro, casar-se com uma pessoa legal ou viajar pelo mundo.

Logo em seguida, propõe que a ÉTICA trata dos padrões de convívio social, mais propriamente:

Os limites que as pessoas se impõem na busca de suas ambições.

Extrapolando sobremaneira, delineou uma conceituação filosófica simplesmente maravilhosa! Desvinculou-se, de forma indelével, a ética da moralidade, associando-a acertadamente às suas implicações pessoais e sociais.

Estendeu-se ainda, em sua conclusão, ao julgar a ambição de se ganhar dinheiro (certamente a da maior parte das pessoas) como a mais vil de todas as ambições. Entende que esta simplesmente não deveria ser encarada como uma ambição e sim um meio de atingir outras ambições bem mais valorosas, tal como uma obra assistencial de impacto!

Ética pessoal

Não há nada de errado em ser ambicioso na vida, contanto que seja definida a sua ética pessoal o mais rápido possível, antes de decidir as próprias ambições. Caso contrário, estar-se-á fadado à falta de rigor ético, o que rende o indivíduo ao “vislumbre maquiavélico”…


Um homem de princípios éticos não se faz pelas suas conquistas materiais, seus títulos ou posição profissional, outrossim por sua obra em prol da sociedade como um todo.


Bertrand Russel, nosso grande filósofo contemporâneo, já dizia que “a habilidade desprovida de sabedoria é a causa de nossos males”.

Em tempos de globalização financeira (esta irreversível, apesar dos recentes movimentos nacionalistas no sentido contrário), tem-se ouvido falar muito de escândalos corporativos. A falta de ética no “mundo dos negócios” tem impulsionado decisivamente a conduta de muitos executivos, em todos os escalões, das mais variadas e conceituadas empresas mundo afora!

O escândalo da Parmalat

Foi o que se observou, a propósito, com a gigante do ramo alimentício no final de 2003: a Parmalat. Uma empresa consolidada, com atuação em mais de 30 países, que empregava cerca de 36.000 funcionários e faturava anualmente por volta de 9,5 bilhões de dólares.

Fundada em Parma no ano de 1961 por Calisto Tanzi, a Parmalat foi acusada, entre os diversos crimes do “colarinho-branco”, de fraudar balanços, destruir documentos e falsificar assinaturas. O rombo em suas contas pode ter atingido a extraordinária cifra de 12 bilhões de dólares, maior ainda que os desfalques recordes de 9 bilhões das empresas americanas WorldCom e Enron. Como seria possível acontecer este tipo de escândalo financeiro? Veja o laudo da auditoria:

A empresa aparentemente sobrevaloriza seus bens de forma a obter lucros contábeis mais elevados que os verdadeiros. Em realidade, foi descoberta uma conta falsa com 4,9 bilhões de dólares só para se lastrear novos empréstimos.

§

Não obstante, o maior problema quando uma grande empresa deste porte vai à falência é que “detona uma quebradeira” geral no mercado, numa espécie de efeito em cascata, que atinge desde credores até os consumidores finais e o próprio Estado!

Por que será, então, que os executivos de empresas tão estratégicas para a economia de um país não são selecionados por critérios mais éticos do que propriamente técnicos? Continuaremos nossa análise no próximo post… Não perca.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Conteúdo exclusivo de ricardobarreto.com

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Saiba mais:
  1. Barreto, Ricardo de Lima, ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed. Editor-Autor, 2008.
  2. Kanitz, S. Veja, 2001, 1684, ano 34, No 3 (janeiro).
  3. Russel, B. A Sociedade Humana na Ética e na Política, 1956, Compahia Editora Nacional, 206.
  4. Pires, L.; Rydlewski, C. Veja, 2004, 1835, 74-77.