Decidindo eventos com inteligência tecnológica

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Se você está pensando no próximo grande lançamento da Apple em Cupertino ou na corrida espacial que está sendo travada neste exato momento entre os 2 homens mais ricos do mundo (Musk versus Besos), está redondamente enganado! Não estamos falando aqui da próxima grande revolução tecnológica, muito menos do próximo “aparelhinho” que vai cair na graça das grandes massas…

Falo, outrossim, das “inovações de base”, daquelas que movem as indústrias de diferentes setores e que dão sustentação a toda uma cadeia de processos produtivos que permitem, enfim, obter os produtos que encontramos nas prateleiras no nosso dia a dia, deste o papel que se produz a partir da celulose da madeira e embala a pizza entregue pelo iFood até a tinta do avião da Boing em que você acabou de decolar e que economizará alguns milhares de litros de combustível fóssil por conta do seu “pigmento oco” levíssimo de última geração!

Definitivamente tais inovações não estão na “boca do povo”. Por quê? Simplesmente o usuário final não as enxerga e nem faria sentido um Ad no YouTube! Entretanto, são elas que movem os times de P&D nas empresas que mais inovam ao redor do mundo, sendo responsáveis pelos milhões de pedidos de patentes que os escritórios oficiais recebem anualmente. Somente na China foram 3.650.591 em 2020!  

Vamos conhecer aqui algumas das situações típicas que estas empresas enfrentam e que muitos ignoram.

Davi e Golias da tecnologia

Nas batalhas do mundo moderno, assim como nos tempos bíblicos, nem sempre os gigantes se saem bem… Muitas vezes é a agilidade e astúcia dos menores que fazem toda a diferença na corrida pelo diferencial competitivo. Acreditem: muitas empresas conceituadas preferem adquirir uma tecnologia já desenvolvida por uma startup ou spinoff universitária para acelerar o seu time to market!

Foi o Prof. Henry Chesbrough da Universidade de Berkeley quem deu o devido tratamento teórico ao que chamou genericamente de “inovação aberta”.1 Esta estratégia é muito comum no Vale do Silício e outros ecossistemas de pólos tecnológicos mundo afora em que a interação entre a universidade, órgãos de fomento e indústria é praticamente uma premissa.

No Brasil tivemos um caso clássico de uma tecnologia na indústria de tintas que foi literalmente abduzida. Tratava-se de um novo pigmento nanotecnológico chamado “Biphor”, desenvolvido pelo renomado Prof. Fernando Galembeck da Unicamp. Sua patente foi licenciada por uma bagatela para a gigante americana Bunge e nunca mais ouviu-se falar da tecnologia que rivalizava o dióxido de titânio num mercado de cerca de 5 bilhões de dólares…

Figura. Tecnologia brasileira incorporada por um grupo estrangeiro.2

Veja, no mundo corporativo de hoje em dia, em que as organizações inovadoras se digladiam com tecnologias cada vez mais “afiadas”, o coitado Davi é mais propriamente “engolido” pelo poderoso Golias…

Barreiras de entrada tecnológicas

Não é preciso ser economista, ter feito MBA na Kellogg School of Management ou fazer parte do board de uma grande empresa para se preocupar com uma das estratégias de negócios mais clássicas e bem-sucedidas de todos os tempos! Tanto que o próprio Prof. David Besanko discorre sucintamente sobre ela em seu clássico dos clássicos…3

Se a sua empresa “navega” num mercado distindo das commodities, qual seja aquele em que o produto ou serviço precisa apresentar atributos de valor constantemente superiores aos da concorrência, então, sem sombra de dúvidas, não sei o que você está esperando para estruturar um time de P&D em sua organização, injetando anualmente pelo menos 1% das suas receitas ali, nem que seja de início com um único inventor ativo!

Para vender soja ou minério de ferro, vá lá! Agora, se a parada for microprocessadores ou novos medicamentos a “pegada” é outra… E como se faz para se garantir nesta verdadeira “briga de foices”? O segredo está num simples documento de algumas páginas: as patentes. São elas que garantem o que chamamos de “barreira tecnológica” para as empresas que inovam. São, na verdade, uma reserva de direito (propriedade intelectual), a qual praticamente todos os países respeitam através de tratados internacionais.

Se você submete e tem concedida uma patente nos principais mercados que pretente explorar com a sua nova tecnologia (exs. Estados Unidos, Europa e América Latina), isto significa que os concorrentes não poderão “copiar” os seus diferenciais tecnológicos, a não ser que consigam desenvolver algo totalmente novo e que supere a sua performance (“estado da arte” versus “estado da técnica”). Evidentemente, que isto não é impossível!

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A essa altura o leitor já deve ter capturado bem mais do que imaginou ao ler o título levemente desinteressante deste capítulo… Deve também ter pensado sobre o posicionamento do seu país e da sua empresa neste grande “jogo tecnológico”… Refletido sobre quem é o Davi e o Golias… E, claro, chegado a uma conclusão pra lá de importante: que as boas decisões tecnológicas carecem de investimentod e rápido!  

Entretanto, neste jogo de mercado, existem diversos outros fatores que influenciam na decisão de compra e todos sabem que, uma vez conquistados, leva-se tempo e bastante esforço para conseguir “mudar a cabeça do” cliente (o Prof. Besanko chama isso de “shifting costs”).3  

Mas, sem me estender por demais, o que mais me encanta mesmo nas “barreiras tecnológicas”, é a largada na frente da corrida tecnológica. Ganha-se tempo! E talvez o tempo suficiente (e precioso) para você dominar o mercado e impor outros tipos de barreira de entrada… Capiche?!

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Obra no prelo: INTELIGÊNCIA DE VALOR: algoritmos para boas decisões (volume I)

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Saiba mais: 

1. Chesbrough, H.W. Open business model: how to thrive in the new innovation landscape, Boston, MA: Harvard Business School Press, 2006.

2. Rachel Bueno, Pesquisadores desenvolvem pigmento para tintas a partir de nanopartículas, Jornal da Unicamp, 3 a 9 de outubro de 2005.

3. Besanko, David. A economia da estratégia, 3ª ed., Porto Alegre: Bookman, 2006.

Recomendando informações com inteligência tecnológica

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Anteriormente vimos o “poder” da metodologia utilizada para geração dos documentos de inteligência científica. Agora, chegou a hora de estendermos este conhecimento para gerar os documentos de inteligência tecnológica.

Da mesma forma, temos aqui a divisão em 3 categorias: análises, monitoramentos e prospecções. Também vamos utilizar a mesma estratégia de nos aprofundar de forma gradativa nos diferentes níveis informacionais, desde o campo tecnológico mais abrangente, passando pelas aplicações específicas até, finalmente, identificar as empresas e inventores de destaque.

Eis a questão: como estes documentos podem contribuir no ambiente competitivo das empresas? Certamente ajudam os profissionais envolvidos em Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (PD&I) na tomada de decisão sobre as melhores estratégias de inovações tecnológicas a serem adotadas no médio e longo prazo. Vejamos, mesmo que de relance, como isto se dá na prática.

Análises tecnológicas

Sempre é a opção de escolha quando se trata de identificar macrotendências. Mais do que acompanhar o perfil da curva “S” do seu campo tecnológico, você deve estar atento à velocidade das evoluções. O campo “video streaming”, por exemplo, em 2002 tinha 376 patentes publicadas, crescendo ano a ano até fechar 2016 com 1.267 publicações. Ou seja, encontrave-se ainda em franca expansão!

No entanto, ao abrir este número no mapa, observa-se algo inusitado. Em verdade, o crescimento entre os países competidores (Estados Unidos, China, Japão, Reino Unido e Coréia do Sul) é praticamente “flat” ao longo deste período, o que demonstra que a tecnologia se encontra na fase de disseminação para outros países entrantes. Ou seja, já se foi a primeira onda de desenvolvimento!

Figura. Exemplo de competição tecnológica entre países.

Monitoramentos tecnológicos

Vamos lá. Você já sabe onde a coisa tá literalmente “bombando” no campo tecnológico video streaming, mas seu interesse é bem mais específico. Você quer saber, em realidade, quem tá “mandando ver” na área das EduTechs, mais propriamente das “learning platforms”: seu core business, ou melhor, sua core technology!!

É preciso, portanto, varrer a literatura de patentes para monitorar constantemente os movimentos dos seus competidores. Eis o propósito dos documentos de monitoramento tecnológico. É assim que você poderia descobrir que a empresa “Inventec Technology” tinha acabado de lançar uma plataforma com um diferencial tecnológico muito parecido com o da sua plataforma, obrigando-o a realizar um pivot de salvaguarda…

Sim, é possível este tipo de antecipação ao manter a disciplina e diligência para alimentar o radar tecnológico que apresenta uma listagem das patentes mais recentes ou mais relevantes da empresa ou do inventor em foco. Pois bem: quem iria imaginar que raios o chinês “Guo Zhinan” estava criando o mesmo sistema de certificação da sua plataforma de ensino?!

Prospecções tecnológicas

Não sofra do “complexo de avestruz”. No mundo da tecnologia não se pode “enterrar a cabeça” somente na sua área! As conexões interdisciplinares são cada vez mais frequentes e a experiência ensina que, normalmente, as inovações mais disruptivas vêm dos mercados adjacentes. Quem iria imaginar, na década de 80, que as câmeras fotagráficas seriam substituídas pelos telefones celulares?!

Sendo assim, o propósito da prospecção tecnológica é justamente identificar assuntos emergentes e novos entrantes. É possível levantar rapidamente uma listagem das aplicações relacionadas. Basta realizar pesquisas com a TAG da sua aplicação de interesse e selecionar TAGs dos títulos dos resultados mais relevantes. Então, realiza-se a pesquisa novamente com ambas as TAGs e calcula-se o grau de correlação. Sem dificuldades, você encontrará a importância da aplicação “video recommendations”.

Em verdade, tal capacidade de se recomendar vídeos de acordo com o perfil do usuário revela o universo dos algoritmos de inteligência artificial, de modo que já se esperava na competição tecnológica, comparando-se o desempenho ano a ano em termos do número de patentes publicadas, que aparecesse o Google como um dos players TOP 5, produzindo tecnologias de ponta na área. É claro que o YouTube despontou justamente daí!  

Vimos, portanto, que ao se analisar com cuidado a informação escondida por trás de bases de dados públicas de patentes, temos condições de tomar decisões que podem representar até mesmo a sobrevivência de toda uma indústria!

Fazendo-se uma analogia nem tão esdrúxula assim, podemos dizer que não são somente os lutadores de artes marciais que gostam de estudar seu adversário antes de desferir o primeiro golpe… Acontece que, quando se trata de inovação tecnológica, não se sabe ao certo quem é o seu adversário!

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Obra no prelo: INTELIGÊNCIA DE VALOR: algoritmos para boas decisões

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Filtrando dados com inteligência tecnológica

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Vocês evidentemente já devem estar imaginando que a “competência tecnológica” é algo bem distinto da científica. Não se trata aqui de acumular mais e mais conhecimentos. Os inventores, ao contrário dos acadêmicos, precisam ter antes de mais nada o “tino pro negócio”! Precisam saber “farejar” oportunidades nos produtos (ou serviços), perseguir os clientes insatisfeitos, as assimetrias de mercado, encontrar atributos não percebidos, enfim, diferenciar-se nos meios altamente competitivos em que estão inseridos.   

Acontece que, muitas das vezes, ao se projetar os atributos do “produto ideal”, esbarra-se na tecnologia que ainda está muito aquém daquele patamar de desempenho tão almejado… Veja o caso do iPod que só nasceu quando se tornou possível armazenar 1.000 músicas numa caixinha metálica não muito maior, e nem tão pesada, quanto uma caixa de fósforos!

Pois bem, fato é que o universo tecnológico é tão vasto se não for ainda maior que o universo acadêmico. A vigília informacional, portanto, é necessária não só para inovar nos produtos e processos, mas sobretudo uma questão de sobrevivência, dado que um novo “entrante” no seu mercado pode simplemente dizimar a concorrência em questão de meses, tornando os demais players irrelevantes…

Por sua vez, a unidade de informação elementar para “inteligência tecnológica” é a patente, documento que serve para preservar o direito de propriedade intelectual da invenção. São as bases de patentes dos escritórios de países espalhados ao redor do mundo que nos reservam grandes segredos… Vamos desbravá-los?  

Seleção das bases de dados tecnológicas

Apesar da maioria dos países signatários dos tratados internacionais de propriedade intelectual serem obrigados a dispor publicamente das suas bases de dados, vemos que ainda hoje poucos oferecem, de fato, plataformas de busca modernas e amigáveis aos usuários como um “Google” da vida…

Aliás, o próprio Google percebeu a “brecha” e lançou sua base de patentes (a Google Patents), compilando incialmente só os dados do escritório americano de patentes (o USPTO), mas com anseios de compilar, gradativamente, todos os escritórios de patentes ao redor do mundo. Sempre ousados estes caras! Fica a dica: não deixe de testar esta base antes de consultar as públicas…

Pois bem. Vamos aos exemplos. Imagine que você é um engenheiro de software e está concluindo a graduação em Stanford. Claro, os anseios acadêmicos não o apetecem neste momento, dado que o seu trabalho de conclusão de curso foi um sucesso e o próprio professor de empreendedorismo o encorajou a buscar investidores para montar uma startup na Vale do Silício. Qualquer analogia é mera coincidência… [hehe]

O primeiro passo, claro, é levantar a lista de bases de dados tecnológicas que você deverá monitorar diuturnamente… Defina suas TAGs: uma principal da aplicação de interesse (ex. internet platform) e outra secundária, porém não menos importante (ex. social network). Efetue as buscas das patentes publicadas no último ano pelo abstract (título ou qualquer campo) em cada uma das bases de dados.

Então, afinal, ordene a lista e escolha evidentemente a base TOP 1. Ah, claro, mantenha sempre uma nacional e outra internacional no seu “farol”. Assim, são mínimas as chances de passar algo relevante desapercebido… Abaixo vemos que a Patent Lens bateu até mesmo o Google entre as bases internacionais para as TAGs selecionadas!    

Tabela

Descrição gerada automaticamente
Figura. Lista de bases de dados tecnológicas.

Identificando aplicações de interesse

O desafio, agora, é proceder com a técnica de data mining (mais especificamente text mining) visando obter informação tecnológica relevante. Voltemos ao nosso exemplo prático. Vamos supor que nosso engenheiro de software estivesse apenas iniciando sua monografia… Como saber onde “meter as caras”, ou seja, qual aplicação dentro desse vasto campo tecnológico (software) que mais o interessa?

A mente ordinária iria pelo caminho mais fácil, do viés, da parcialidade ou, porque não dizer, da opinião colegiada. No entanto, um inventor que se preze detesta o senso comum! Num primeiro momento, ele deve sempre abrir as possibilidades em busca da tão sonhada “brecha” tecnológica, aquela que pode lhe propiciar um breve momento de epifania, parafrasendo Steve Blank, nosso grande mestre da inovação acelerada!

Para tal, o procedimento de busca nas bases de dados tecnológicas é muito simples: basta pesquisar com a TAG do campo tecnológico no abstract e identificar TAGs de aplicações de interesse nos títulos dos resultados das patentes mais recentes ou mais relevantes. Por fim, resta pesquisar somente com a TAG da aplicação de interesse escolhida no abstract e computar o resultado do esforço tecnológico: o número de patentes publicadas na área.

Identificando empresas e inventores

Ok, nosso formando (o Zuckerberg, certo?!) já descobriu que a área que estava bombando, neste espaço-tempo, era realmente “internet platform”. Como poderia ele agora descobrir rapidamente quem seriam os players tecnológicos em questão de minutos? Não se engane, pagar consultorias caríssimas para obter de antemão dossiês tecnológicos não cabe no bolso de um fundador de startup!   

Veja bem: primero devemos descobrir as empresas e depois os inventores. Na mesma tela que você estava, pesquise com a TAG da aplicação de interesse “internet platform” no abstract e extraia os applicants (que são normalmente empresas) dos resultados das patentes mais recentes ou mais relevantes. Certamente, ao fazer a pesquisa hoje, irá se deparar com vários resultados do facebook, mas não naquela época… [hehe]

Então, proceda com a mesma pesquisa só que utilizando somente o nome da empresa e terá o esforço de desenvolvimento da referida empresa na área. Este dado é lindo, especialmente quando você o projeta num período de 15 a 20 anos… Detalhe importante: aplique exatamente o mesmo procedimento para identificar os inventores que “bombam” na área e, quem sabe, pode chegar num possível partner ou futuro employee!

Evidentemente que existem diversas técnicas complementares de data mining que nos ajudam a encontrar padrões e tendências nestas pesquisas. Uma delas, que eu chamo de competição tecnológica, é muito bacana para verificar o esforço par e passo dos players TOP 5. Você verá, claramente, o aflorar de “novos entrantes” e o esmorecer de gigantes!

Outra visão que me encanta é a constatação inequívoca de quando estamos diante de verdadeiros “breakthroghs tecnológicos”. Nada se compara a uma curva “S” muito bem delineada, mostrando o salto de desempenho de um determinado produto e muitas tecnologias nascerem ou morrerem. Foi assim que vi a Sony despontar e a Kodak esmorecer do mercado de câmeras fotográficas. Hoje é só história de aulinha de inovação… [rss]  

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Obra no prelo: INTELIGÊNCIA DE VALOR: algoritmos para boas decisões

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