Sobre a ÉTICA EVOLUCIONISTA (parte I)

Extraído do posfácio da obra ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral

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Nada mais feliz foi a decisão do moço Ricardo de Lima Barreto, ao escolher para o pórtico desta obra a figura magistral de Rui Barbosa, um dos maiores pensadores brasileiros. Foi uma espécie de decisão mística, ao invocar inspiração para um trabalho literário repleto de locuções lítero-filosóficas.

Seria muito mais fácil apreciar esta obra se ela não tivesse nenhuma conotação com os mistérios da vida. Entretanto, não é o caso presente. A profundidade de suas pesquisas, principalmente na área da metafísica, da ética e da moral, obriga-nos aguçar nossa mente nas raízes dos conceitos. Se assim não fizermos, seremos arrastados pela torrente de seu raciocínio e, conseqüentemente, pelas suas conclusões.

Recomendo a leitura, com carinho, dos referidos capítulos, “Ética Científica e o capítulo neológico Nética, cujo valor está nas análises meticulosas que o autor fez, principalmente neste último onde fez várias indagações, duvidando que as informações obtidas possam contribuir para a nossa felicidade (Leia o meu poema “A Procura da Felicidade”, onde, como poeta a encontrei).

Sobre o livre-pensamento

O conceito mais profundo aqui examinado foi o metafísico do “Livre Pensamento” que eu, um antigo ATEU, passei para o materialismo para evoluir e me fixar, finalmente, na moderna filosofia do “Livre Pensamento”.

Não se trata, na realidade, de um “Pensamento Livre”, mas, sim, de um “Livre Arbítrio” para apreciação de cada preceito religioso sem interferir ou condenar os fundamentos filosóficos de cada um, desde que praticados fielmente e, principalmente, sem fanatismo que constitui um execrado mal de todas organizações sociais e religiosas.

Luto pela perfeição de todos os preceitos sadios que regem uma sociedade humana, sejam eles de caráter físico ou metafísico. Até um Código de Hamurabi, com seu princípio feroz do “olho por olho, dente por dente” poderia ser melhor interpretado e adaptado à velha Mesopotâmia sem a filosofia da “Justiça Vingativa”.

O que mais me impressionou, conforme já disse anteriormente, foi sua perspicaz análise do denominado “Livre Pensamento”, corrente filosófica que eu abraço e que combate o maior inimigo da liberdade religiosa – o fanatismo.

Sobre a matéria, Ferrater Mora, no seu Dicionário de Filosofia vol. II, pág. 57, muito bem a apreciou. Diz ele que o termo Livre Pensador pode tomar dois sentidos: um amplo e outro restrito.

No primeiro sentido chama-se “Livre Pensador” todo aquele que não aderiu a um determinado dogma. Nesse sentido são os libertinos, os libertários, ou seja, anarquistas, inimigos de todo governo, não entendidos como sectários, que segue uma seita. No segundo sentido se chama “Livre Pensador” os diversos grupos de pensadores dos séculos XVII e XVIII, especialmente na Inglaterra e na França.

A característica predominante dos “Livre Pensadores” franceses e ingleses era predicar a tolerância religiosa e aplaudir o racionalismo. Os livre pensadores em questão rechaçaram, quase sempre, os mistérios sobrenaturais e os dogmas das Igrejas oficiais; às vezes admitiam um cristianismo primitivo, em seu entender mais puro. “A veces opusieron el Estado a la Iglesia como medio de fomentar la tolerância religiosa” (Ibidem).

Sobre a ética religiosa

Todas as religiões tiveram, como preceito positivo, a prática do bem. O fanatismo, entretanto, destruiu, em quase todas, este preceito ético, desvirtuando-as.

Em um dos capítulos o autor desta obra exalta a caridade como sendo o maior legado do ser humano. Sempre professei uma filosofia contrária à caridade. Sobre o assunto escrevi:

“A caridade é a maneira pela qual compensamos nossas faltas, dando a algum mendigo as sobras de nosso prato. Se sonhamos com o céu, ela visa a compra de um passaporte para esse Paraíso após a morte. Se nele não acreditamos, nada mais representa do que uma descarga do peso de nossa consciência, porque a esmola é um vilipêndio, é um ultraje à honra de que foi vencido na luta pela vida por aquele que a natureza dotou com superior capacidade física e mental”.

Sobre a ética científica

Não poderemos afirmar que, neste trabalho, há o melhor e o pior capítulo porque o autor primou pela busca da perfeição em todos eles. Entretanto, eu, particularmente, prefiro o capítulo “Análise V – Ética Científica”, de inspiração Nietzschiana como de conteúdo mais profundo e sem qualquer afirmação discordante de meu entendimento.

No capítulo “Ética Científica”, o autor expõe as muitas iniqüidades cometidas contra aqueles que ousassem pensar além dos limites impingidos pela “Santa Igreja”. Taxados de bruxos, muitos cientistas foram considerados hereges pela Igreja Católica e queimados vivos nas fogueiras por causa de suas ideias tidas como revolucionárias.

A este respeito foi publicado, recentemente, um livro do Acadêmico Arnaldo Niskier, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, “Branca Dias – O Martírio”, muito ilustrativo que merece ser lido por todos que desejam conhecer a verdade histórica da Inquisição, mancha negra de um período do falso cristianismo que contrariou a pregação do próprio Cristo.

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O valor deste livro está na profundidade analítica dos temas que o autor, bem novo, avançou com coragem em busca de soluções, principalmente filosóficas e religiosas.

Finalizando o presente Posfácio, já muito longo, não poderei deixar de reconhecer a bem elaborada análise das duas principais proposições: A ÉTICA E A MORAL.

Acredito, piamente, no êxito desta publicação, sem entrar nas apreciações Kardecistas de um dos capítulos e do Prefaciador.

São Paulo, primavera de 2007

Por Silva Barreto, meu avô, procurador do estado de São Paulo, profundo intelectual e POETA aclamado, com mais de 20 livros publicados!

Créditos:

Autoria por Silva Barreto. Edição por Ricardo Barreto

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Saiba mais:
  1. Barreto, Ricardo de Lima, ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed. Editor-Autor, 2008.

Ética religiosa

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Ao abordar tal assunto (reconhecidamente polêmico), muitas são as questões que vêm em nossas mentes. Uma delas, no entanto, tem sido constantemente suscitada nos dias de hoje, haja vista seu caráter de “ruptura” com muitos dos dogmas instituídos pela Igreja Católica ao longo da história do Cristianismo.

Eis o dilema: Jesus foi realmente mal interpretado? Veja. Não estamos falando de conduta moral, nem tampouco do “batismo de fogo” que poucos ainda perscrutam… Estamos diante, outrossim, de uma questão de ordem teológica, ligada ao estudo das escrituras sagradas, mais propriamente da Bíblia.

Mas será o “verbo divino”?

Tal foi o ponto de partida de um artigo publicado na revista Galileu,  em que mostra o quanto foi mal interpretado o “verbo divino” durante séculos e mais séculos de transcrições e pregações.

Já dizia João, o apóstolo, em seu primeiro versículo: “no princípio era o verbo”. E hoje, complementando, já não é mais só o “verbo”. Tem também “pronome”, “aposto”, “adjunto” e muito mais… [hehe]

Foram estas, efetivamente, as constatações de um dos maiores estudiosos de crítica textual religiosa do mundo, o Prof. Bart Ehrman, da Universidade da Carolina do Norte (EUA). Ele lançou em 2006 um livro seminal que está causando verdadeiro furor na comunidade religiosa. Ao mesmo tempo, devido ao seu teor científico, tem despertado grande interesse do público em geral. Mas, afinal, o que ele diz de tão impactante?

O poder dos “copistas”

Antes de mais nada, necessário se faz compreender o porquê desta controvérsia. Só para se ter uma ideia, a versão original do Novo Testamento só foi compilada em grego no século II D.C. Sendo assim, como na época pouquíssimos cristãos sabiam ler e escrever, imaginem o privilégio e o poder que os “copistas” desfrutavam em suas comunidades…

Sem falar da possibilidade de adaptar o texto aos interesses de pregação e manipulação, o que acontecia voluntariamente em muitos trechos, conforme poderemos ver em alguns dos principais exemplos exaltados por Ehrman. Só para começar, são desmistificados irrefutavelmente três dos maiores dogmas da Igreja:

  1. Santíssima trindade;
  2. Virgindade de Maria;
  3. Divindade de Jesus.

Primeiramente, em vez de “pai, filho e espírito santo”, o autor mostra que nos manuscritos gregos havia somente “o espírito, a água e o sangue”. Já o segundo dogma, fica patente na mudança textual observada no evangelho de Lucas (2,33). Na versão original tem-se: “… e seu pai e sua mãe ficaram maravilhados com o que se dizia dele…”. Já na versão modificada: “…e José e sua mãe ficaram maravilhados com o que se dizia dele…”.

Por fim, o conceito da divindade de Jesus, fica logicamente equivocado, segundo o trecho do Evangelho de Lucas, em que diz: “Pai, perdoai-os, pois eles não sabem o que estão fazendo”. Detalhe: este trecho foi simplesmente subtraído em algumas versões da Bíblia…

Só com estes pouquíssimos exemplos, presumo eu, já se pode ter subsídios mais que suficientes para responder assertivamente ao questionamento levantado no início, muito embora cada um possa ter suas convicções pessoais irredutíveis, sustentáculos de suas crenças, impedindo-os que vejam a verdade por trás das escrituras originais.

Discutir religião: pra quê?

A ética, indubitavelmente presente nas escrituras sagradas, não foi perenizada ao longo do tempo, sendo, pelas mãos dos homens, no vislumbre do poder eclesiástico, profanada a verdadeira essência de muitos dos ensinamentos cristãos. Por isso, em verdade vos digo, certo está Ehrman ao afirmar que:

A fé em Deus não se baseia nas palavras espalhadas em um livro, mas sim na experiência pessoal que cada um tem com Deus.

Esta experiência pessoal pressupõe que não existe uma religião certa ou errada. Continuo afirmando que Jesus era judeu e em nenhum momento quis instituir uma nova religião. Sua intenção, pelos relatos que nos chegaram aos dias de hoje, era tacitamente a de promover uma reforma contundente, sem “criar novas leis e sim fazer com que fossem cumpridas”.

Passados dois milênios, por outro lado, é muito comum vermos um verdadeiro “mosaico” de crenças religiosas, misturando conceitos e princípios já existentes há muito tempo. Se ainda sim você duvida, vá beber na fonte da literatura védica hindu e verás!

Surge, como resultado dessas novas “roupagens”, o esoterismo e suas mais variadas formas: um movimento que encanta a fragilidade das pessoas pelo seu lado místico. Não menos preocupante são os extremistas religiosos que, ao interpretarem a “palavra” ao pé da letra, cometem erros brutais e atentam contra valores universais sem a menor consciência de seus atos.

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Ser ético, portanto, quando se fala em religião, antes de mais nada, é respeitar a crença do próximo, mesmo que discorde profundamente da sua posição. Sem tal postura, não adianta de nada sair de casa com um “livro sagrado” debaixo do braço!

Aos olhos de Deus, ou melhor, o que mais nos aproxima de fato dele, são as nossas atitudes em benefício dos outros e não somente de si mesmos… Isto é o que prima a ética religiosa. O mais é nada.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

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Saiba mais:
  1. Barreto, Ricardo de Lima, ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed. Editor-Autor, 2008.
  2. Franco, E. Revista Galileu, outubro de 2006, No 183, 35-43.
  3. Ehrman, Bart D. O que Jesus disse? O que Jesus não disse?: quem mudou a Bíblia e por quê, São Paulo: Prestígio, 2006.
  4. Ler o capítulo Minha Religião, em Livrovivo: 2000-2002, Editor-Autor, 43-45, 2003.