O perigo da subjugação dogmática

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TEMPO DE LEITURA: 00:03:31

Certamente você já sabe o que é um dogma: a “pedra fundamental” de qualquer crença, religiosa ou não. O dogma tem função vital na sociedade humana, visto que alguns preceitos fundamentais da organização ideológica se esvaeceriam sem ele…


Lembre-se: nenhuma teoria que se preze nasce do nada. É preciso passar por diversos “estágios de maturação” antes de galgar o status de comprovação científica! O “bom dogma” serve para sustentá-la nos primeiros estágios, os mais difíceis…


Mas então o que seria um “dogma ruim”? Veremos aqui que o problema não está nos dogmas religiosos, per se, e sim na religião como instituição humana que transformou-se, ou melhor, sempre foi uma fonte de poder e/ou ascensão social.

Doutrina ou religião?

Parece uma coisa. Não é a toa que bilhões de pessoas mundo afora têm Jesus Cristo como referência quando se trata de religião. Independente de “taxações”, para mim ser cristão é tê-lo como Mestre, uma Consciência-guia a nos iluminar o caminho…

Veja o que ele já falava sobre aqueles que viriam a ser chamados de “falsos profetas”:

Senhor, perdoe-os, pois não sabem o que fazem…

Considero um equívoco afirmar que Jesus Cristo tenha instituído qualquer tipo de religião. Ele era judeu e ponto. Nunca disse o contrário (pelo menos até onde alcançaram os relatos puramente históricos).

No máximo podemos dizer que ele se enquadraria como algum tipo de “reformista” com métodos nem um pouco ortodoxos para época. Quem rebaixou sua doutrina, o cristianismo, ao status de “religião” foi o imperador Constantino, mas esta é outra história…

O fato é que seus ensinamentos são indiscutíveis por serem embasados no exemplo de amor e caridade e não na subjugação dogmática a um conjunto de leis morais, ditas “divinas”, cujos fundamentos, apesar de louváveis, muitas vezes, acabam aprisionando a liberdade de pensamento.

Dogmas religiosos pra quê!

Pode-se dizer que é intrínseca a vontade do ser humano de  acreditar em algo que transcenda a existência no plano físico. Hoje existem inúmeros estudos psicológicos e científicos que comprovam que o ser humano se comporta melhor, de forma moralmente louvável ou pelo menos ética, ao ser confrontado com a presença de uma “deidade”, ou algo que a represente…

O “conceito de deidade”, portanto, sempre existiu. Algo que represente um Ser Supremo, a Fonte de tudo, responsável pela criação e o regimento do universo, bem como dos seres dotados de Consciência (seu “filhos”). Enfim, um Deus!

Acontece que a busca incessante de “sentido para vida”, independente da época, local e credo, é o grande “calcanhar de Aquiles” da raça humana!

Aí residem os principais fatores de ludibriação: o “alívio diante das aflições” e a “verdadeira felicidade perante as distrações” do mundo material ou carnal. Daí advém os dogmas religiosos. Em verdade, constituem um prato-cheio àqueles aproveitadores, travestidos de “pastores” que manipulam os “crentes” com o poder da oratória.

Jesus estava mais do que certo ao rogar pelo seu perdão!

Uma “rotulagem” desnecessária…

Penso que o simples fato de dizer: “sou desta ou daquela religião”, independente do contexto e/ou propósito, já representa um motivo para gerar o preconceito que é um dos maiores inimigo da nossa evolução!

Perceba então que, em essência, é errado nos rotularmos porque perdemos, em parte ou até mesmo integralmente, nossos dois mais preciosos bens: a “liberdade de pensamento” e a “individualidade existencial”.

Após muito refletir sobre estas questões, sou resoluto ao afirmar que não devemos nos rotular como seguidores de uma ou outra religião. Nosso sistema de crenças deve permanecer livre e dinâmico, adaptando suas “respostas” às características únicas da construção do conhecimento.

Não existe uma “verdade” dita religiosa! O que existe é a verdade relativa de cada um…

Evita-se, assim, as conotações tendenciosas, geradas pela “rotulagem religiosa”, preservando o caráter positivo de toda e qualquer discussão despretensiosa. O importante é que se valorize o crescimento interpessoal.

 

Lembremo-nos, por fim, que a nossa maior ferramenta evolutiva é a AÇÃO. Quando temos atitudes egoístas, ressaltando o orgulho, preocupados somente com as “quimeras da vida”, por mais coerentes que sejamos com os nossos ideais, as nossas crenças dinâmicas, não deixaremos de ser tão-somente hipócritas esclarecidos…

Voltemo-nos ao Mestre. É sempre bom lembrar que:

Mais será cobrado daqueles que muito receberam…

E, numa luta diuturna, sejamos “bons e prestativos” para com os nossos semelhantes. Isto quer dizer que a felicidade já habita em nossos corações. Quem sabe não sintas, assim, uma fração daquilo que o Dalai Lama nos apresenta através da meditação plena, o samadhi, o “estado de conexão” com Deus.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

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Saiba mais:

  1. Barreto, R. L. LIVROVIVO: 2000-2002, 1a ed., Editor-Autor, 2003.
  2. Cutler, H.C. A Arte da Felicidade, 2000, Martins Fontes, p. 17.

Ética evolucionista – parte I

#filosofia #ética #éticaevolucionista #ricardobarreto

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TEMPO DE LEITURA: 00:02:17

Quando tive a ideia de escrever sobre ética, imediatamente lembrei-me de um filme que havia assistido muito tempo atrás, cujo enredo, de alguma forma, tinha me influenciado sobremaneira no “turbilhão da adolescência” !

Este filme se chama Waytt Earp e foca na história da vida de um famoso delegado americano que vivia nos tempos do “velho-oeste”, uma época em que a justiça ainda era feita, em boa parte, pelas próprias mãos…

Fiquei muito impressionado não pelo roteiro em si, outrossim, pela mensagem de honra e bravura, por sinal muito bem protagonizada pelo ator Kevin Costner.

Recordo-me até hoje das palavras do seu pai, interpretado por ninguém menos que John Wayne, quando disse o seguinte para toda a família, num fatídico almoço de domingo e em tom de severidade:

Meus filhos, o mais importante na vida de um homem é estabelecer o quanto antes o que ele é para só depois decidir o que quer da vida…

Naquela época eu nem tinha a “maturidade intelectual” suficiente para refletir em profundidade sobre os ensinamentos de um Sócrates, através da preciosa apologia deixada por Platão, mas felizmente a mensagem estava dada.

Mais socrático: impossível! Só por isso, hoje, eu escrevo sobre ética…

Com certeza muito já se falou sobre este tema e, sem sombra de dúvidas, muito ainda se falará. Entre os inúmeros trabalhos já publicados, de diversas épocas e povos, pode-se citar, como exemplo basilar, a obra de Spinoza: Ética.

Este tratado foi escrito em latim, no final da sua vida, e publicado somente após a sua morte. Nele, o grande filósofo expõe seu primoroso “sistema metafísico”, procedendo através de axiomas, definições e demonstrações. Lindo, não é mesmo!?

Àqueles que quiserem se enveredar mais profundamente sobre o assunto, recomendo fortemente o seu trabalho como ponto de partida. Caso contrário, apenas sigam-me pelas reflexões que se seguem (na sequência de blog posts) e poderão ter ao menos uma amostra da sua relevância, contextualizada aos nossos dias…

Primeiramente, deve-se ressalvar que enquanto houver uma sociedade composta de indivíduos e instituições que se relacionam entre si, as mais variadas questões éticas estarão sempre em voga para delinear os limites morais dos relacionamentos humanos e institucionais.

Eis aí o seu importante e único propósito!


A concepção ética é uma experiência única, singular a cada indivíduo, resultante de todas as suas vivências pessoais e coletivas. São os pressupostos morais que determinarão o seu caráter, a razão dos seus juízos e das suas decisões.


Isto posto, urge aqui que se reflita sobre as seguintes indagações (nossos 2Qs e 3Cs):

  1. Qual é a natureza da ética?
  2. Qual é a sua ética pessoal?
  3. Como conceber um juízo moral?
  4. Como tomar uma decisão ética?
  5. Como levar uma vida socialmente ética?

Muito bem. São estas as questões cruciais à evolução do ser humano, na medida que o conduzem naturalmente ao AUTOCONHECIMENTO, permitindo-lhe traçar o seu próprio código de conduta ética e moral.

[na sequência de posts também versaremos sobre a distinção entre estes conceitos]

Enfim, mas não por último, cabe salientar que no convívio social torna-se mister a adequação dos seus princípios aos padrões éticos vigentes. É o que chamamos de “estado de coerência ética” ! Como anda a sua? Apenas para reflexão…

Só assim, o indivíduo estará apto a tomar decisões não-conflitantes e conceber “juízos morais” consoantes com a sua Consciência, o que é fundamental ao seu equilíbrio psico-social.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

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Saiba mais:

  1. Barreto, R. L. ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed., Editor-Autor, 2008.
  2. Platão, Diálogos: Apologia de Sócrates, 1996, 2a ed., Editora Nova Cultural, 63-97.
  3. Baruch, de Espinosa, Ética, 1973, 1a ed., Editora Abril, 79-307.

Uma crise de valores

#filosofia #ciência #valores #ricardobarreto

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TEMPO DE LEITURA: 00:02:33

Milhares de anos se passaram desde as primeiras discussões filosóficas, preconizadas por Sócrates, na famosa praça do conhecimento: Ágora. Mas será que as pessoas atingiram o estado de felicidade pelo qual têm lutado incessantemente desde os primórdios da existência?

Sem dúvida que não. Mas então no que conseguimos progredir ao longo de todo este tempo? É certo dizer que muito no âmbito das “coisas materiais”, no entanto, cabe ressaltar que estas conquistas somente nos proporcionaram conforto e nada mais…

Nos primeiros capítulos do terceiro milênio, a humanidade “engatinha” no que diz respeito à evolução intelecto-moral. O dinheiro ainda é sinônimo de poder e os ditames de Maquiavel nunca tiveram tamanha força!

São as grandes organizações empresariais que ditam as diretrizes político-econômicas dos países, enquanto que a desigualdade social é a “sombra” que assola o aparente desenvolvimento de alguns poucos que persistem nos mesmos erros…

Por outro lado, o progresso científico-tecnológico parece ter atingido seu ápice: a comunicação global instantânea, hoje, é uma realidade. A era da robótica e da engenharia genética saíram do campo da ficção e a economia pulsa na onda do “neoliberalismo” que, dentro de um contexto puramente capitalista, é mais do que natural…

Entretanto, apesar de todo este aparente desenvolvimento, o que se tem visto é uma crise existencial generalizada de valores.


As pessoas lutam com “unhas e dentes” por bens materiais, os quais depois de conquistados perdem o valor. A felicidade é efêmera e a chaga do século XXI contagia mais os ricos que os pobres, ela é a depressão e vem regada por muita ansiedade!


Muitos de nós, em virtude do ritmo acelerado da vida moderna, perdemos a paixão pela vida. Passamos a acordar e dormir sem agregar nada de bom, enfim, viramos autômatos! E o que é pior: somos totalmente conscientes disso…

O novo papel da filosofia, mais forte que nunca  (mesmo que não pareça para muitos), é o de resgatar os valores espirituais, ou melhor, os valores da Consciência, dando sentido ao conhecimento.

Certa vez, li uma frase (não me lembro ao certo onde) que de alguma forma mexeu muito comigo, lá no âmago mesmo… Ela dizia mais ou menos assim:

A maior qualidade de um filósofo é que ele pode possuir apenas um pequeno bem material, no entanto, sabe enriquecê-lo de valor.

Vê-se, portanto, que a verdadeira riqueza de um homem é a sua formação intelecto-moral, haja vista que esta é pessoal e imperdível. Lançamos mão aqui a uma sequência de citações que, ao meu ver, exprimem a epifania do ser pensante!

Em suma, ser filósofo, segundo Thoreau:

Não consiste meramente em ter sutis pensamentos, nem em fundar uma escola, mas em amar a sabedoria tanto quanto a própria existência, acomodada a seus ditames, uma vida simples, independente, magnânima e confiante.

Exorta-nos ainda Bacon o seguinte:

Devemos primeiro buscar as coisas do espírito, pois o resto será suprido, ou melhor, não sentiremos sua perda.

Fechando com esplendor, Will Durant nos lembra com propriedade que:

O que ficou foi o especialista científico que conhece mais e mais a respeito de menos e menos e também o especulador filosófico que conhece menos e menos a respeito de mais e mais.

Nossa missão, portanto, é buscar o equilíbrio dessas qualidades e despir a filosofia dos devaneios pseudo-sábios, lembrando-nos da simplicidade e eficiência de seu maior ícone: Sócrates. Mas fiquem tranquilos que o sacrifício com a cicuta não se faz mais necessário, não desta forma… É mais propriamente um suicídio intelectual!

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

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Saiba mais:

  1. Barreto, R. L. LIVROVIVO: 2000-2002, 1a ed., Editor-Autor, 2003.
  2. Durant, W. História da Filosofia, 1926, 2a ed., p. 1.

O design thinking e a mediação empresarial

#ricardobarreto #designthinking #mediaçãoempresarial

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TEMPO DE LEITURA: 00:19:47

Introdução

Toda empresa apresenta conflitos e o papel da medição empresarial é amenizá-los, evitando assim disputas jurídicas contraproducentes. Por sua vez, o design thinking já tem sido amplamente aplicado nas empresas como uma das principais metodologias para o desenvolvimento de produtos ou serviços centrada na solução de problemas ou no atendimento das necessidades dos clientes.

Ao propor neste artigo uma nova abordagem do design thinking na mediação empresarial, partiu-se da realidade inquestionável de que toda organização enfrenta inúmeros desafios na busca de diferentes formas de valor para os seus stakeholders. Tais desafios envolvem necessariamente conflitos nas mais variadas esferas de atuação da empresa, desde os mais simples no âmbito individual como os conflitos entre funcionários até os mais complexos entre áreas internas, unidades de negócios, parceiros estratégicos, clientes e fornecedores.

Urge que se faça, portanto, uma importante distinção do conceito de “desafio” que se trata neste contexto. Em realidade, foi esta uma proposição do Prof. Horst Rittel da Universidade da Califórnia e inspirada no filósofo Karl Popper, que define um “desafio” (chamado mais propriamente de wicked problem) no contexto das ciências sociais (Churchman, 1967) como:

Uma classe de problemas mal formulados do sistema social, em que a informação encontra-se confusa, em que existem muitos clientes e tomadores de decisão com valores conflitantes, bem como suas ramificações em todo sistema são completamente confusas.

Deve-se destacar ainda que Buchanan foi pioneiro em afirmar que o design thinking poderia ser aplicado para solucionar tais “desafios” em que há muitos clientes e tomadores de decisão com valores conflitantes. Ele afirma com propriedade que o design thinking poderia ser aplicado em qualquer área da experiência humana (Buchanan, 1992).

Esta teoria foi posteriormente desenvolvida e levou ao conceito da “criatividade abrasiva” (Leonard e Strauss, 1997) em que os conflitos interpessoais são vistos como uma maneira de gerar inovação através de diferentes abordagens cognitivas.

Por sua vez, Bauer e Eagan vislumbraram a influência do estilo cognitivo do design thinker para outros stakeholders que não somente os usuários ou clientes de um determinado produto ou serviço (Bauer e Eagan, 2008).

Apesar destes importantes esforços, a aplicação do design thinking no contexto da mediação empresarial ainda não foi tratada como uma nova estratégia de inovação do processo. As técnicas empregadas atualmente no Brasil, recomendadas no Manual de Mediação Judicial publicado em 2016 pelo Conselho Nacional de Justiça, como o conceito de rapport, bem como a Teoria do Conflito e a Teoria dos Jogos, poderiam ser complementadas e até mesmo substituídas pela aplicação do design thinking.

Seu papel seria o de prover mecanismos que favoreçam a emergência de insights por agentes externos ao processo, sem limitar a gama de soluções que poderiam ser apresentadas somente pelos participantes como alternativas à mediação em si.

A prática do design thinking na mediação abre assim a perspetiva da construção de soluções conjuntas através da observação etnográfica e a ideação contínua, lançando mão de modernas ferramentas de trabalho em grupo como o storytelling, brain-writing e o storyboard.

Do design ao design thinking

Ao focarmos no conceito mais amplo do design, pode-se identificar inúmeras formas de aplicação que fogem ao domínio exclusivo das tradicionais escolas de artes e ampliam o espetro de atuação para praticamente qualquer profissional, desde os campos da arquitetura, engenharia (produtos e serviços), moda, comunicação, pensamento filosófico, educação, medicina e, por que não dizer, nas sendas do direito jurídico.

A este respeito, Roger Martin afirmou com assertividade a seguinte frase que reflete exatamente toda esta amplitude de aplicações (Martin, 2006):

Os homens de negócios da atualidade não precisam de entender melhor os designers, eles precisam tornar-se designers.

Roger propôs ainda que o que distingue a maneira de pensar dos designers são os aspectos cognitivos, afetivos e interpessoais. No fundo, o elo de ligação entre estes aspectos é um só: a experiência. O design está centrado, portanto, na experiência do usuário, do cliente, das partes envolvidas, lembrando que o usuário pode ser literalmente qualquer um que utiliza, deseja, convive ou tem interesse por uma coisa, pessoa ou circunstância. O fato é que o design fica na interseção entre as ciências e as humanidades, o que lhe dá um posicionamento único como abordagem criativa.

Depois de chegar ao conceito mais amplo do design, possível o é começar a pensar em aplicações outrora inimagináveis aos campos do design puro. Sendo assim, um dos primeiros a citar o design thinking foi o aquiteto e urbanista Peter Rowe, argumentando que a natureza do processo de solução de problemas é a solução em si (Rowe, 1987).

Na sequência, generalizou-se este conceito ao afirmar que o mesmo poderia ser aplicado praticamente a qualquer coisa tangível ou intangível: sinais, objetos, ações e pensamentos (Buchanan, 1992).

No entanto, o conceito do design thinking somente ganhou notoriedade nos últimos 10 anos com os trabalhos desenvolvidos por Tim Brown em sua empresa de consultoria, a Ideo, que o aplica mundialmente nos seus clientes dentro do contexto específico da inovação de produto.

Apesar da sua importância inequívoca nas práticas de desenvolvimento de produtos (ou serviços), não se pode relegar o papel do design thinking também em questões sociais e políticas. Um exemplo é o MindLab que utiliza o design thinking para criar novas soluções para sociedade (Kimbel, 2011).

A lógica por trás dos “criativos inteligentes”

A emergência da classe dos “criativos inteligentes”, aqueles profissionais com elevada competência para inovar, é um fenômeno que muito tem a ver com o design thinking, mas o embasamento teórico reside na distinção dos conceitos de lógica, mais propriamente dos 3 tipos conhecidos de lógica: a dedutiva, a indutiva ou a abdutiva.

A problemática se dá porque o sistema de recompensas vigente nas organizações encoraja exclusivamente os resultados concretos, ou seja, aqueles fundamentados na lógica do que é ou do que deveria ser (a dedutiva e indutiva, respectivamente) e acaba por desprezar as possibilidades oriundas da lógica do que poderia ser (a abdutiva).

Num quadro de metas de desempenho, por exemplo, o pensamento analítico da lógica dedutiva e indutiva é perfeitamente natural dada a necessidade de se evitar quaisquer tipos de constrições. No entanto, a lógica abdutiva (do que poderia ser) encara as constrições como desafios motivadores do pensamento integrativo que busca soluções criativas justamente do conflito gerado pela tensão das constrições (Martin, 2002).

Ou seja, o que é desagradável e arriscado dentro de uma linha de raciocínio puramente analítico (pela lógica dedutiva ou indutiva), torna-se promissor e inspirador na lógica oposta (a menos conhecida lógica abdutiva) do pensamento integrativo que é justamente aquela aplicada pelo design thinking.

Trazendo-se para uma linguagem mais corriqueira, o design thinking foge das alternativas pre-determinadas e estimula a criação de novas alternativas, literalmente o que poderia se chamar de pensamento “fora da caixa”. Foi esta a grande mudança de paradigma observada nos últimos anos, primeiramente no campo da inovação de produtos e serviços.

A ruptura de Tim Brown

Ao agregar a forma de pensamento no design e aplicá-la nos processos empresarias de inovação, Tim Brow criou uma verdadeira ruptura com a visão “física” e analítica do mesmo, transpondo-a para o campo do “abstrato” através de um modelo de fluxo pautado pela experiência e iteração.

É, portanto, um processo “fluido” centrado no ser humano para solução de problemas ou necessidades na forma de desafios e não na tecnologia e nem na organização propriamente dita, sendo caracterizado pela autonomia, flexibilidade e criatividade.

Para estruturar a linha de pensamento deste artigo, decidiu-se extrair os elementos essenciais da sua definição mais aceita do design thinking e trazê-los para o contexto da mediação empresarial ilustrando-os com exemplos. Eis a proposição com cada um dos elementos essenciais em destaque (Brown, 2009):

Uma abordagem sistêmica e intrinsicamente holística para atacar desafios, a qual funciona através de ciclos iterativos e reside nos métodos empregados por designers para atender com sucesso as necessidades humanas, considerando tanto as restrições dos sistemas tecnológicos como as restrições das empresas.

Tim apregoa ainda que deve-se atender simultaneamente três critérios para que haja inovação: desejabilidade, viabilidade e praticidade (Brow, 2008). Em analogia, propõe-se aqui uma pequena adaptação para o caso específico do processo de mediação, tendo-se em vista que a “desejabilidade” não envolve mais somente os “clientes” e sim duas ou mais as partes envolvidas.

 

Fig. 1. Critérios para que haja mediação. Adaptado de Brown (2008).

 

Outra característica importante do design thinking, especialmente no âmbito dos processos de mediação empresarial, reside na maior segurança e confidencialidade das informações. Apesar de contar com uma fase “aberta” de consultas a terceiros para posterior extração de insights, ver-se-á que somente o facilitador/mediador tem acesso ao conjunto de informações veiculadas em todas as etapas de cada fase do processo.

Abordagem sistêmica

Talvez um do mais importantes elementos que permitem a aplicabilidade do design thinking nas organizações seja sua característica de ser um processo sistemático e reprodutível. Brown propôs que todo “projeto de design” deve passar necessariamente por três fases: a inspiração, a ideação e a implementação (Brown, 2008). Da mesma forma, no processo de mediação empresarial são seguidas exatamente as mesmas fases, com algumas alterações de escopo (fig. 2).

 

Fig. 2. Etapas do processo de design thinking na mediação.

 

Na primeira fase de inspiração o foco é “ouvir” as pessoas que de alguma forma participaram direta ou indiretamente do evento gerador de conflito. Importante observar que não se trata das partes envolvidas e sim das testemunhas ou especialistas em algum aspecto ligado ao evento. Se a mediação se dá, por exemplo, entre o lojista e a administradora de um shopping, deve-se ouvir a opinião de outros lojistas ou de um especialista em gestão de shoppings.

Parte-se então para a fase de ideação onde o foco move-se para a criação de oportunidades, soluções e protótipos baseados nos insights colhidos na fase anterior de pesquisas. Aqui sim a equipe de design é constituída pelas partes envolvidas no conflito (mantendo-se nosso exemplo, seriam o lojista e o gerente responsável pela admistração do shopping), bem como o mediador que pode atuar também como facilidador das atividades.

Por fim, na implementação, tomam-se todas as providências para garantir as entregas previstas no acordo desenhado em conjunto pelas partes na fase de ideação, o que envolve minimamente um cronograma de atividades, a capacitação dos evolvidos, quando for o caso, e eventuais comprometimentos financeiros (receitas ou despesas) de cada parte.

Necessidades humanas

O design thinker atua como um “intérprete” das pessoas, sejam elas apenas coadjuvantes do evento gerador de conflito na fase de inspiração ou realmente as partes envolvidas que compõem a equipe de design nas fases subsequentes de ideação e implementação.

Sendo o próprio ser humano seu maior “insumo”, fica difícil de imaginar o trabalho sem lançar mão de algumas ferramentas da antropologia e das ciências sociais. Utilizam-se assim de técnicas de pesquisa etnográfica que ajudam a entender suas perspectivas nas situações de vivência do cotidiano. As técnicas de pesquisa quantitativa e qualitativa apresentam limitantes significativos para aplicação no contexto iterativo do design thinking.

 

Tabela 1. Diferenças entre as técnicas de pesquisa indivividuais ou em grupo.

QUANTITATIVA QUALITATIVA ETNOGRÁFICA
baseada em números input de opiniões processadas captura de diferentes sentidos
não expressa opiniões subjetivas susceptível ao julgamento psicológico retrato mais fiel das opiniões
pode ser feita à distância feita em ambientes controlados cenário onde o evento acontece

 

No contexto da mediação empresarial, apesar de não ser possível reproduzir exatamente o cenário gerador do conflito, consegue-se ter uma boa aproximação inclusive com personagens reais eventualmente envolvidos como testemunhas.

Voltando-se ao exemplo do shopping, pode-se imaginar como cenário etnográfico ideal o próprio corredor em frente à loja onde ocorreu a discussão sobre os padrões de vitrine (evento gerador do conflito). Já os sujeitos da pesquisa poderiam ser os transeuntes ou vizinhos de loja que tenham presenciado ou não a discussão.

As técnicas de entrevista também são uma habilidade crucial para trazer à tona os insights de cada participante. Uma destas técnicas é a “entrevista apreciava”, cujo foco reside na busca de um melhor entendimento do que o outro está pensando (Cooperrider, 1999).

Funciona mais ou menos assim: se alguém lhe conta que o sol é azul, você se interessa prontamente em saber mais e pergunta: _ O que você vê? Conte-me exatamente o que você observa que o levou a esta conclusão. Ou seja, por mais absurda que pareça a afirmação do interlocutor, demonstre apreço pelo seu ponto de vista, de modo que o mesmo se sinta à vontade para revelar detalhes que de outra forma passariam ocultos. Esta é uma atitude humana que demostra curiosidade pelo assunto e gera empatia.

Pelo fato da mediação empresarial, através do design thinking, buscar ideias internas e externas para obetenção dos insights que então darão origem à solução do conflito, pode-se propor aqui, em analogia ao conceito da inovação aberta (Chesbrough, 2003), que trata-se de um modelo de mediação aberta.

Valores holísticos

Outra observação importante de uma metodologia baseada no design é que ela permite que a equipe tenha uma visão mais abrangente do processo como um todo, envolvendo interfaces de visualização mais atrativas e permitindo que as pessoas tenham percepções que não teriam de outra maneira (Chasanidou, 2014).

O tema central desta área são as conexões e suas consequências. Os design thinkers estão explorando uma gama progressivamente maior de experiências no dia-a-dia e como os diferentes tipos de conexão afetam a estrutura das ações das pessoas (Buchanan, 1992).

Ao enfrentar os desafios de uma mediação empresarial, em que existem várias partes envolvidas, torna-se ainda mais premente a necessidade de assumir uma visão integrativa de todos os aspectos do conflito gerador. Neste sentido, deve-se lembrar que Owen foi um dos primeiros a vislumbrar o design thinking como abordagem para propor soluções mais complexas (Owen, 2007).

O storytelling é uma das técnicas mais poderosas aplicadas pelo design thinking logo no início da fase de ideação. Lloyd foi um dos pioneiros no emprego da técnica como mecanismo de estudo das experiênciais sociais em equipes de design (Lloyd, 2000). Por sua vez, Garcia enriqueceu a técnica ao trazer elementos visuais de multimidia e filmagem para capturar as descrições textuais (Garcia, 2002).

A partir daí o storytelling foi incorporado amplamente no design thinking como ferramenta fundamental em diversas aplicações. No contexto específico da mediação empresarial, entende-se que será ainda mais atrativa por permitir a visualização de diferentes pontos de vista de terceiros sobre o evento gerador de conflito. Propõe-se, portanto, uma variante da técnica chamada aqui de storytelling cruzado. Nela cada uma das partes irá capturar e contar as estórias relacionadas à visão da outra parte. O intuito é gerar maior profundidade da visão da outra parte segundo a ótica de terceiros.

Numa mediação clássica de conflito setorial numa grande empresa, a da Produção versus a área de Garantia da Qualidade por exemplo, o Gerente de Produção irá trazer histórias dos clientes com quem conversou sobre a qualidade do produto, enquanto que o Gerente de Qualidade irá trazer as histórias dos operadores de máquina.

O importante é que, independente da aplicação, são três os principais objetivos do storytelling:

  1. Transformar as histórias que são ouvidas durante as pesquisas na fase anterior em dados e informações;
  2. Trazer detalhes concretos que ajudem a imaginar soluções para problemas específcos;
  3. Usar as impressões causadas pelas histórias para inspirar a criação de oportunidades, ideias e soluções.

Claro que dúvidas e novas percepções surgem durante o processo, o que ajuda a rever a situação de maneiras diferentes. A seguir, apresenta-se dicas de práticas que devem ser aplicadas ou evitadas numa sessão de storytelling voltada para mediação empresarial.

 

Tabela 2. As práticas recomendadas do storytelling na mediação empresarial.

RECOMENDAÇÕES ALERTAS
Seja específico. Fale sobre o que realmente aconteceu. Inicie histórias com: “uma vez…” ou “depois disso…” Evite generalizações. Elas podem ser não-aplicáveis e gerar tensões descabidas entre as partes envolvidas no conflito.
Seja descritivo. Use os cinco sentidos para ilustrar sua descrição. Abuse de gesticulações, post-its e objetos para torná-la mais visual. Prescrições e hipóteses também são contraproducentes. Evite falar “eles deveriam…” ou “eles poderiam…”. Voltar ao passado não muda o fato gerador do conflito.
Siga regras para contar. Certifique-se de ter cobrido os segunintes tópicos: quem, o que, quando, onde, por que e como. O facilitador da sessão de storytelling, assim como o mediador, não deve julgar, avaliar ou concluir nada sobre as histórias que são contadas.

Ciclos iterativos

Originalmente o design sempre seguiu o molelo linear em que o processo era dividido em duas fases distintas: a da definição do problema e a de solução do problema. Na fase de definição do problema o designer seguia uma sequência analítica de etapas visando determinar os elementos do problema e especificar os requisitos necessários para uma solução de design bem sucedida. Já na fase de solução do problema o designer seguia uma sequência sintética de etapas em que os vários requerimentos eram combinados e balanceados, resultando num plano final para entrar em produção (Buchanan, 1992).

Com o advento do design thinking houve uma quebra de paradigma deste modelo sequencial e, apesar do processo apresentar 3 fases bem definidas de inpiração, ideação e implementação, estas não necessariamente precisam ocorrer sequencialmente podendo haver sobreposições que são até mesmo desejáveis. Os praticantes avançam e retrocedem várias vezes ao longo destas fases, tomando um curso perfeitamente não linear (Gruber, 2015).

Com esta mudança o valor potencial do design thinking nas colaborações empresariais tem sido explorado cada vez mais nos últimos anos especialmente pelo fato de aplicar métodos e ferramentas capazes de reduzir as incertezas intrínsecas do processo de tomada de decisão, baseados em informações dos insights extraídos no storytelling e na prototipagem em ciclos iterativos (Curedale, 2013).

O processo de prototipagem, mais precisamente, é uma prática reflexiva que envolve a estruturação e avaliação de um desafio de design pelo trabalho de ação ao contrário do trabalho de pensamento, sendo que as ações físicas e cognitivas estão interconectadas (Klemmer, 2006).

Na prototipação a “conversa” se dá entre o designer e o meio meio físico de escolha para comunicação, a qual pode se dar por uma série de esboços num papel, também chamado de storyboard, ou uma modelagem em argila, em espuma, bem como plástico utilizando-se uma impressora 3D, uma peça teatral ou tão-somente um simples diagrama de mapeamento relacional.

Deve-se ter em mente que a produção epistêmica de protótipos concretos permite realizações de experiências inesperadas que um designer não poderia chegar se não fosse através de um artefato concreto (Kirsh, 1994).

No caso específico da mediação empresarial, recomenda-se a aplicação do storyboard que é a maneira mais direta e simples de se explorar o lado lúdico para solucionar um determinado conflito, muito embora outras técnicas como a encenação teatral também possam ser interessantes, dependendo do fato gerador de conflito e predisposição das partes envolvidas.

Imagine a experiência completa das partes envolvidas através de uma série de imagens e desenhos. Para exemplificar, pode-se imaginar o storyboard desenhado (fig. 3) de uma solução encontrada para uma grande empresa em que existia um conflito de disputa de resultados de projetos entre as áreas de inovação e planejamento estratégico.

 

Fig. 3. Storyboard da solução para o conflito entre as áreas de inovação e planejamento estratégico. Gerada através da ferramenta gratuita disponível em storyboardthat.com.

 

Nota-se no primeiro quadro a postura de insatisfação de Murilo em seu escritório no Centro de Inovação. Ele pediu para conversar com Roberta, a Diretora de Marketing, para explanar sua insatisfação com as disputas que vinham tendo com Fabio, o Gerente de Estratégia. Em sua sala, no segundo quadro, ela dá um sermão e diz que ambos passariam a trabalhar juntos porque os objetivos estratégicos da companhia são um só. Sem dúvida, uma bela solução. No último quadro eles aparecem bem mais motivados, trabalhando juntos no mesmo escritório (observar que os nomes e personagens são fictícios).

Hábitos de designers

Não há dúvidas de que a essência dos trabalhos dos designers está fortemente presente em todo o processo de design thinking, muito embora existam 3 características preponderantes: a busca do insight dos usuários, o brainstorming e a prototipação (Seidel, 2013).

O brainstorming especificamente é uma técnica de criatividade individual ou em grupo através da qual são feitos esforços para encontrar uma conclusão sobre um problema específico através da compilação de uma lista de ideias espontaneamente sugeridas pelos pasticipantes (Licanu, 2015). O termo foi popularizado por Faickney Osborn no livro Imaginação Aplicada, publicado em 1953. Sua tese central reside no fato de que o brainstorming é mais efetivo do que indivíduos trabalhando sozinhos para geração de ideias.

Com o intuito de minimizar as inibições dos participantes em grupo, foram desenvolvidas 4 regras gerais (Dimitru, 2005): foco na quantidade, nunca critique, estimule as ideias radicais e encoraje a melhoria e combinação de ideias.

Com relação à prática em si, recomenda-se o preparo de um ambiente de imersão no formato de seminário que facilite o foco nas apresentações e a interação entre os participantes. Toda sessão de brainstorming deve apresentar quatro estágios de progresso (fig. 4) com uma duração total de 20 a 45 minutos.

 

Fig. 4. Estágios da sessão de brainstorming.

 

Apesar de ser bem menos conhecida, a técnica de brain-writing pode gerar uma quantidade de ideias significativamente maior que uma sessão convencional de brainstorming (Ionescu, 1995). Além do mais, a formulação de ideias não é feita em voz alta, o que favorece que os participantes sejam mais criativos, dado que podem formular suas ideias em silêncio e com melhor nível de concentração, dando oportunidade para que pessoas com perfil menos comunicativo participem mais ativamente.

Existe um ponto ainda mais importante que torna a técnica de brain-writing ideal no contexto específico da mediação empresarial. Ela muda o foco da pessoa para o problema, ou mais propriamente para o “desafio”, permitindo assim o seu uso quando há conflito entre os próprios participantes da sessão.

A técnica que também é conhecida como método 6-3-5 é muito simples. São formados grupos de 6 participantes e cada pessoa deve escrever 3 ideias em 5 minutos numa folha de papel e transfere para outro participante do grupo. Ele lê as 3 ideias e as utiliza como inspiração para formular outras 3 ideias e assim sucessivamente até que todos tenham participado. Ao final do processo, poderão ter sido geradas até 108 ideias em 30 minutos. Importante a figura do mediador ou facilitador para supervisionar a sessão e que as regras fiquem claras para todos antes do início da sessão: não deve haver conversas durante a formulação das ideias; pode-se usar palavras-chave; expressões devem ser escritas claramente; ideias descritas sucintamente (Csikszentmihalyi, 1996).

Conclusão

Foi visto anteriormente que o design thinking, independente da aplicação, está centrado justamente na interface de três constrições: a desejabilidade, praticidade e viabilidade (fig. 1). Segundo Tim Brown, cada uma delas reflete um aspecto importante para que o processo seja bem sucedido (Brown, 2010).

Com relação às limitações financeiras, deve-se destacar que a realização de “mini-pilotos” antes da implementação da solução completa é uma estratégia fundamental para que a implementação do projeto seja bem sucedida. O intuito é identificar os próximos passos simples e de baixo investimento que ajudem a manter vivas as ideias.

Para cada mini-piloto, logo no início deve-se sempre responder a três perguntas elementares e direcionadoras:

  1. Que recursos precisarei para testar a ideia?
  2. Que questões-chave o mini-piloto deve responder?
  3. Como mediremos o sucesso do mini-piloto?

No exemplo de solução para o conflito entre a área de Inovação e de Planejamento Estratégico, visto no storyboard (fig. 3), podemos facilmente planejar um mini-piloto respondendo a estas questões de uma forma um pouco mais elaborada, fazendo-se uso da seguinte planilha de planejamento:

 

Fig. 5. Planejamento do mini-piloto da solução para o conflito entre as áreas de Inovação e Planejamento Estratégico.

 

Vimos, assim, que a conclusão prática da aplicação do design thinking é a realização de um mini-piloto. Somente assim ter-se-á a “prova de conceito” da solução desenhada, sem delongas para um desenvolvimento ágil e contínuo. E claro, caso não dê certo, parte-se para a próxima ideia da lista! Isto mesmo, como todo processo evolutivo, este não poderia deixar de ser iterativo ad eternum… Salve os designers e que seus métodos estejam cada vez mais presentes nas corporações e também nos escritórios de advocacia.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

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Saiba mais:

Bauer, R. and W. Eagan. 2008. “Design Thinking: Epistemic Plurality in Management and Organization.” Aesthesis, 2(3): 64–74.

Brown, T. 2008. “Design Thinking.” Harvard Business Review, June: 84–92.

Brown, T. 2009. Change by Design: How Design Thinking Transforms Organizations and Inspires Innovation. New York: HarperCollins Publishers.

Brown, Tim. Design thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias, Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

Buchanan, R. 1992. Wicked problems in design thinking. Design Issues, 8(2): Spring, 5–21.

Chasanidou, Dimitra & Gasparini, Andrea A. & Lee, Eunji. 2014. “Design Thinking Methods and Tools for Innovation in Multidisciplinary Teams”.  NordiCHI’14 Workshop Proceedings, 27-30.

Chesbrough, H. Open Innovation, Harvard Business Scholl Press, 2003.

Churchman, C. West, “Wicked Problems,” Management Science, (December   1967), vol. 4, no. 14, B-141-42.

Cooperrider, D. L., & Whitney, D. 1999. Collaborating for change: Appreciative inquiry. In P. Holman, & T. Devane, Eds.), Berrett-Koehler Publishers.

Csikszentmihalyi, M. (1996). Creativity, Flow and the Psychology of Discovery and Invention, New York: Harper Perennial.

Curedale, Robert A. 2013. Design Thinking: Process and Methods Manual. Design Community College Incorporated: Topanga.

Dimitru, I. & Ungureanu, C. (2005). Pedagogy and psychology education. Bucharest: Cartea Universitara Publishing House (in Romanian).

Garcia, A., Carretti, C., Ferraz, I., and Bentes, C., “Sharing design perspectives   through storytelling”, Artificial Intelligence for Engineering Design, Analysis and Manufacturing, Vol. 16, No. 33, 2002, pp. 229-241.

Gruber, Marc & de Leon, Nick & George, Gerard & Thompson, Paul. 2015. “From the Editors: Managing by Design”. Academy of Management Journal, 58(1): 1-7.

Ionescu, M. & Radu, I. (1995). Modern didactic, Dacia Publishing House, Cluj- Napoca (in Romanian).

Kimbell, Lucy (2011) Rethinking Design Thinking: Part I, Design and Culture, 3:3, 285-306.

Kirsh, D. and P. Maglio. On distinguishing epistemic from pragmatic action. Cognitive Science 18. pp. 513-49, 1994.

Klemmer, S. R., B. Hartmann, and L. Takayama. How Bodies Matter: Five Themes for Interaction Design. In Proceedings of Design of Interactive Systems, 2006.

Leonard, D., Straus, S. 1997. Putting your company’s whole brain to work. Harvard Business Review, July-August.

Licanu, M., Prostean, O., Oros, C., Mnerie, A. V. Procedia – Social and Behavioral Sciences 191 (2015) 387 – 390.

Lloyd, P., “Storytelling and the development of discourse in the engineering design process”, Design Studies, Vol. 21, 2000, pp. 357-373.

Martin, R. 2002. Integrative thinking: A model takes shape. RotmanManagement, Fall.

Martin, R. Dunne, D. Academy of Management Learning & Education, 2006, Vol. 5, No. 4, 512–523.

Owen, Charles. 2007. “Design Thinking: Notes on its Nature and Use”. Design Research Quarterly, 2(1): 16-27.

Rowe, P. [1987] 1998. Design Thinking. Cambridge, MA: MIT Press.

Seidel, Victor P. & Fixson, Sebastian K. 2013. “Adopting “Design Thinking” in Novice Multidisciplinary Teams: The Application and Limits of Design Methods and Reflexive Practices”. Journal of Product Innovation Management, 30(6): 19-33.

 

“Lelés Lalaus” da cuca

#ricardobarreto #crônicas #leléslalausdacuca

Recentemente tenho me deparado com episódios que, de tão esdrúxulos, levam-me a crer num homem tão irracional quanto o mais rudimentar dos primatas! Isto mesmo. Não me julguem mal, mas é a puríssima verdade…

Pior ainda seria admitir que, muitas das vezes, sinto-me em melhor companhia do meu cão (por certo uma Consciência menos evoluída, porém despretensiosa e pura) do que com certos seres humanos repugnantes, cujas pequenas ações cotidianas deflagram uma raça da pior estirpe possível!


São eles os “Lelés Lalaus” da cuca. E diga-se de passagem que não falo só de políticos! É o perfil de uma sociedade. É o típico anti-cidadão. É do tipo que pula a fila, vai pelo acostamento e tudo o mais…


Lembremo-nos de que num regime democrático, os políticos são tão-somente um “extrato social” eleito pelo povo para representá-los aqui mesmo, na Terra e não nos céus…  E por mais inverossímil que possa parecer, há de chegar o dia quando estes que se julgam “por cima da carne seca” irão comer do “pão que o Diabo amassou”!

Muitos religiosos acreditam que este dia virá só depois da morte, perante o “julgamento divino”. Não penso eu, entretanto, que funcione o universo tal como um “reloginho newtoniano”. Não acredito mais nestas coisas: sorte (ou azar), aquela coisa de destino… Eistein foi mais perspicaz ao “pintar um caos organizado”, probabilístico e cíclico.

Longe de mim, querer blasfemar contra a “ordem religiosa” e os seus dogmas tão atrativos… Só quero dizer que este bendito dia chega sim. E muitas vezes ainda em vida!

Vem cauteloso, quietinho, como um coceirinha que incomoda, mas não passa. E no Brasil, por Deus, chegou na forma de “Operação Lava Jato”! Benditos sejam, por outro lado, os “Ouros”, os “Nots”, os “Osas”… Rendo-lhes minha mais sincera admiração!

O fato é que, a cada conquista fadada, a ambição não sossega, qual “fofoqueira amordaçada”… Além da veleidade dos bens materiais (não consigo conceber prazer numa mansão repleta de luxo e tão pouca alegria), são eles ludibriados ainda pela sensação de poder, do qual se servem para manipular e atrair as pessoas, os sanguessugas modernos!

Confesso nunca ter visto tamanha estultícia. Constroem relacionamentos que são como castelos de cartas… Acolhidos por palácios que mais parecem o verdadeiro “Éden na Terra” !

Eis onde falham. Eis porque murmuram de dores na solidão. Eis o porquê de invejarem e abominarem ao mesmo tempo os “pobres de espírito”. Enfim, eis o motivo da estranha loucura (aqui não no sentido patológico e sim de “debilóide” mesmo…) que, mais cedo ou mais tarde, os arrebata!

Atenção seus “Lalaus”, seus “Ufs”, seus “Ércias” e, agora, com todas as pompas e honrarias de líder carismático, os seus “Ulas”… [rss] Meus mais sinceros pêsames.

Sinto lhes informar que suas “caraterografias” acusam estarem todos com os dias contados. Os senhores têm a mais temível espécie de neoplasia: o câncer d´alma!

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Autoria por Ricardo Barreto

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Saiba mais:

  1. Barreto, R. L. LIVROVIVO: 2000-2002, 1a ed., Editor-Autor, 2003.

Netica – parte II

#ricardobarreto #filosofia #netica

Vimos no primeiro post da série (vide Netica – parte I) que estão abertos, com todos estes avanços advindos da rede mundial de computadores, tempos altamente profícuos à disseminação da cultura.


Todavia, urge que estas questões passem pelo crivo da ética na internet, a qual chamamos aqui de netica, e que deve estar presente de forma ubíqua e sem distinções…


Este é um assunto altamente estratégico ao desenvolvimento das nações, sendo que a “inclusão digital” pode significar o acesso amplo e irrestrito à “educação autodidata”, rompendo os liames que ao longo de toda a história da humanidade separaram as classes sociais…

Alguns países mais avançados já estão inclusive dando para as crianças um laptop (ou tablet e, daqui a pouco, sei lá!) e oferecendo acesso gratuito à internet em praças e prédios públicos. Fica patente, portanto, a importância do momento social que estamos vivenciando, de modo que vamos procurar nos ater um pouco mais sobre um dos principais “agentes” destes novos tempos: os hackers.

 

Hackerismo

Segundo o próprio Linus Torvalds, prefaciador de um interessante livro de Pekka Himanen, um hacker é:

Uma pessoa para quem o computador já não é um meio de sobrevivência. 

Esta definição foge completamente ao sentido vulgar, empregado com tanta frequência nos meios de comunicação, segundo o qual o hacker seria uma espécie de “pirata da Internet” que se aproveita das suas habilidades em programação para invadir sistemas, roubar informações confidenciais e delas se beneficiar financeiramente, infringindo as leis vigentes ou não…

Este é um novo tipo de crime que vem ganhando proeminência nos últimos anos em nossa sociedade com o advento da internet e a sua popularização. Muitos países já até adaptaram suas leis de modo a incluir em seus códigos penais as infrações por falta de conduta ética no “mundo das relações virtuais”.

Muito embora todos estes esforços sejam louváveis e, até certo ponto, naturais, quero mover o objeto das nossas reflexões para o sentido mais amplo da palavra hacker… Vejamos.

A nova ética do trabalho

Fiquei surpreso ao descobrir que esta palavra também pode se referir a qualquer outra atividade e não somente ao “universo dos programadores de computador”… Seria, assim, muito melhor considerar o seu significado como sendo uma “postura de trabalho” e não uma atividade específica.

Segundo Pekka, o trabalho deve ser encarado como algo interessante e desafiador. Deste modo, ele se torna uma diversão, bem diferente da forma como era encarado por Max Weber no seu clássico A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Também não significa que as pessoas devam se tornar verdadeiros workaholics


Só se ganha “valor de verdade” ao minimizar o tempo que jogamos no “lixo” com coisas fúteis… E como tem coisa fútil hoje em dia! 


Esta nova “ética do trabalho” tem uma relação direta com o tempo livre, ou o chamado “Ócio Criativo” já mencionado anteriormente. O mais importante é saber que todo hacker assume, via de regra, uma postura de liberdade com relação ao tempo e dinheiro, o que lhe confere maior autonomia, motivação e criatividade.

Epa! Agora o famoso ditado que diz “tempo é dinheiro”, já não soa tão mal… Parece até contraditório falar de “tempo livre” numa sociedade tão dinâmica e imediatista quanto a nossa, em que as pessoas não têm tempo sequer para curtir a família! Isto porque a “cultura capitalista”, sem sombra de dúvidas, requer agilidade nas decisões.

O Taylorismo, como método clássico de otimização do tempo, nunca teve tamanha força, visto que a competição num mercado global, movido pelo desenvolvimento tecnológico e o marketing digital, é das mais acirradas em toda a história da civilização, mesmo que a emergência da “economia colaborativa” tenha mudado um pouco a sua cara… Salve o conceito de growth hacking!


O hacker, portanto, se tornou uma figura vital ao progresso da sociedade pós-moderna, praticamente seu ícone! Diriam alguns mais empolgados como eu… [rss]


Sem preocupar-se sobremaneira com a “questão do dinheiro” que para ele é uma simples ferramenta para o progresso e não o motivo das suas ações, o hacker se exime, em grande parte, de um dos maiores bloqueios do homem moderno: a ansiedade.

Livra-se, assim, da insegurança e ganha confiança para trabalhar sem amarras, livre das tensões reprobatórias, responsáveis diretas pelos estados depressivos que têm afligido cada vez mais vítimas na sociedade pós-moderna, abarrotando os consultórios psiquiátricos, quando não o consolo em terapias ilusórias de auto-ajuda…

 

Tudo isso nos remete a uma séria indagação: será que tanta informação contribui efetivamente para nossa felicidade?

Bem, esta é uma reflexão pessoal a que todos deveriam se submeter para melhor inserção na chamada “Era da Informação” que está repleta de oportunidades…

Mas, enquanto não temos estas respostas, nem tampouco apareça alguma outra grande revolução tecnológica (como foi a internet) que venham então mais Linux, Torvalds!

Créditos:

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Aprecie sem moderação

Saiba mais:

  1. Barreto, R. L. ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed., Editor-Autor, 2008.
  2. Pekka Himanen, A Ética dos Hackers e o Espírito da Era da Informação, 2001, Editora Campus.
  3. Weber, Max, A ética Protestante e o Espírito Capitalista, São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
  4. De Masi, D. O Ócio Criativo, Rio de Janeiro: Sextante, 328 p., 2000.

Ostracismo alienante

#ricardobarreto #crônicas #ostracismo

Uns se calam por saberem demais. Contrariamente, outros o fazem por saberem de menos. Como diria minha vozinha Marieta (a propósito, que saudades dela…):

_ Mas será o Benedito!

Não deveriam os primeiros, em prol da evolução, transmitir aos mais “desafortunados” ao menos um pouco do que sabem? O que freia este salutar intercâmbio informativo??? Já vimos que o mundo definitivamente é dos “cretinos” (em Manifesto ao “cretinismo”), estes que pensam que sabem e disseminam suas inverdades…

Afinal, por acaso existe esta tal de “verdade” ? Quem diabos inventou esta palavra??? Sem falar dos “efeitos estagnadores” desta chaga a qual chamo de “ostracismo alienante”, oh céus!

Oriunda do grego ostreon, a palavra ostra refere-se a um tipo de molusco marinho da família dos ostrídeos. Apesar de comestível, sua principal atração se dá pela potencialidade na geração de pérolas preciosas, mesmo que isto se dê segundo uma chance em um milhão!

Ademais, o termo “ostracismo” remonta à antiguidade grega, como uma espécie de julgamento do povo de Atenas, pelo qual se bania por dez anos um cidadão, cujo poder ou ambição fossem temidos. Muito embora o termo seja usado hoje vulgarmente como uma “ação de se excluir de um grupo”, tal acepção não deixa de fazer todo o sentido…

Assim como as ostras que se isolam do meio através de uma concha para proteger-se, também o fazem as pessoas, no cotidiano, só que através de “máscaras emocionais”, e com o mesmíssimo intento…

Temem ser devoradas pela ganância, inveja, cobiça, vaidade, orgulho e avareza dos seus convivas! E o que seria ainda pior, delas mesmas… Neste verdadeiro”jogo psicológico” de esconde-esconde, deixam frequentemente de tomar contato com muitas Consciências afins,  impedindo assim a troca de experiências profícuas à sua jornada evolutiva.

Gera-se fatalmente um quadro de “preconceitos mutualísticos” disfarçado, muitas das vezes, nos mais variados estereótipos (um exemplo clássico são os hippies nas décadas de 60 e 70). Estas reações que são consideradas como uma forma de escapismo pelos sociólogos, em realidade refletem um refúgio da solidão e são ocasionadas pela “sinergia degenerativa”, mesmo que inconsciente, da mais pura ignorância dos seus papéis perante o macrocosmo!

Como ostras, ao menos têm uma ínfima probabilidade de serem germinadas em sua essência por um “grãozinho” de sabedoria. E um dia, afinal, brilharão como uma linda e valiosa pérola. Portanto, não nos desesperemos em vão! Embora seja uma única chance em um milhão, aqueles que conhecem um pouco do efeito túnel (da mecânica quântica) sabem que todos vão chegar lá!

Claro, é só uma questão de tempo…

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Saiba mais:

  1. Barreto, R. L. LIVROVIVO: 2000-2002, 1a ed., Editor-Autor, 2003.
  2. Enciclopédia Larousse, 1988, Universo Editora, p. 4.330.

Netica – parte I

#ricardobarreto #filosofia #netica

Mais do que um neologismo, o nome não é por acaso! Muito ainda se falará sobre este assunto, mesmo porque estamos somente adentrando na chamada Era da Informação.

Quando chegou à sociedade civil, em meados da década de 80, a internet tinha o intuito de integrar as redes das universidades americanas. Contudo, em pouquíssimo tempo, ela ganhou o status de uma das maiores invenções da história da humanidade e seu impacto em todas as esferas sociais é indiscutível!

Até mesmo o renomado escritor italiano Umberto Eco (1932 – 2016), em entrevista concedida à revista Veja, deixou suas preciosas impressões sobre o assunto:

Pela primeira vez, a humanidade dispõe de uma enorme quantidade de informação a baixo custo. No passado, essa informação implicava comprar livros, explorar bibliotecas. Hoje, do centro da África, se você estiver conectado, poderá ter acesso a textos filosóficos em latim.

A facilidade de se obter qualquer tipo de informação, em tempo real e sem ter que sair de casa, é minimamente empolgante… Abre caminhos inusitados aos aficionados pelo saber!

A problemática das fake news

Na medida em que todos podem ter acesso a qualquer tipo de informação, urgem que sejam feitas certas ponderações quanto à “liberalização informacional” que recaem necessariamente sobre importantes questões éticas.

O ser humano não tem capacidade de processar tanta informação, nem discernimento para separar o que é realmente útil e confiável. Decerto que a democratização das informações é uma grande conquista, porém há um temor quanto àqueles que se põem a pesquisar na internet sem um prévio conhecimento do assunto, o que pode levar a uma desorientação generalizada.

Este fato deve culminar na disseminação de informações errôneas, conhecidas hoje como fake news, cujos reflexos já estão sendo deflagrados pela “cultura da superficialidade”.

Hoje em dia, é muito difícil ouvir falar de um jovem universitário que não tenha literalmente “copiado” sequer um trabalho da rede mundial de computadores!

Uma verdadeira castração da capacidade de raciocínio e criação, cujas consequências já estão sendo sentidas pelo despreparo dos jovens profissionais que ingressam ano após ano no mercado de trabalho (a tal da “geração Z” que tanto ouvimos falar).

Quantos terão o “cacife” de resolver as complicadas equações matemáticas aplicadas no teste seletivo mais almejado da atualidade, da Google Inc.?

A nova onda da economia compartilhada

Cabe salientar ainda o sério problema da pirataria que emergiu com força incontrolável no impulso da internet. A abertura  propiciada pelos sites de compartilhamento de arquivos como o Napster, por exemplo, abriu uma nova forma de acesso às músicas, textos e filmes.

Devido a este movimento irreversível, as gravadoras, editoras e produtoras foram obrigadas a investir pesadamente na tentativa de assegurar um controle mais rígido destes sites, pegando a “onda contrária” da democratização informacional… Resultado: foram praticamente dizimadas pelos novos modelos de negócios de negócios (iTunes, Spotify, Netflix, etc.) que surgiram da economia compartilhada!

O princípio do código aberto, instaurado por Linus Torvalds em seu sistema operacional (o Linux), que veio como opção ao império do Windows, agora se estende ao campo do conhecimento enciclopédico com aquela que pretendia ser a “Alexandria dos tempos modernos”: a Wikipedia.

Imaginem só: em menos de cinco anos, esta enciclopédia livre online alcançou o número de verbetes maior do que a secular Enciclopédia Britânica!

É bem verdade que nos últimos anos a Wikipedia tem perdido seu lugar de destaque entre os primeiros resultados do Google frente a um novo fenômeno reconhecido como o marketing de conteúdo. Ou seja, as empresas descobriram que precisam se relacionar com o seu público muito antes de vender e, para tal, precisariam tornar-se ou pelo menos aparentar que são “autoridades” em suas áreas de atuação!

Moral da história: os blogs se tornaram os veículos de mídia mais poderosos e até mesmo os direitos autorais podem agora ser preservados em publicações eletrônicas através de licenças públicas como o Creative Commons e a Science Commons, abrindo assim novos horizontes em termos de acessibilidade a livros, revistas, periódicos científicos e diversos formatos novos de conteúdos.

Não há mais limites para geração e propagação do conhecimento humano!

Limites aos avatares

Outro avanço que quando surgiu causou um verdadeiro furor na comunidade online foi o Second Life, uma espécie de “mundo virtual” na rede em que os internautas interagem entre si através de personagens virtuais chamados Avatares.

Este verdadeiro “universo paralelo” foi criado em 2003 pelo americano Philip Rosedale, tendo sua criação extrapolado os limites da brincadeira quando o guru da propriedade intelectual na internet, Lawrence Lessig, deu a ideia de fazer com que os usuários ganhassem a “posse real” de suas invenções e propriedades virtuais…

A partir daí, as possibilidades ficaram ilimitadas! Abriram-se as portas para o comércio eletrônico de “ativos irreais” através de uma moeda virtual: o Linden Dólar. Com isso, a “corretagem de terrenos e casas virtuais” fez os primeiros “milionários reais” e muitas empresas criaram até mesmo seus próprios espaços virtuais…

Entre as pioneiras nesta iniciativa, estava a gigante e tradicional IBM que logo no início (em 2007 mais precisamente) anunciou o investimento de 10 milhões de “dólares reais” no Second Life, justificando uma “economia real” do número de teleconferências entre os seu milhares de funcionários ao redor do mundo.

Hoje sabemos que o Linden Dólar não alcançaria tanta fama, mas deu origem às criptomoedas que sacudiram os tradicionais mercados de Wall Street!

O fato é que os especialistas estão projetando, com as tecnologias de inteligência artificial e realidade aumentada, uma “nova onda de desenvolvimentos web” com a mesma propulsão que a própria internet teve nos anos 90.

Num futuro bem próximo, não serão mais criadas somente websites e blogs, mas sim “espaços virtuais” onde as relações virtuais serão mais reais e em três dimensões, claro! Espero que você já tenha criado seu avatar!!!

Créditos:

Autoria por ricardobarreto.com

Incentivo ao BUZZ nas redes sociais

Aprecie sem moderação

Saiba mais:

  1. Barreto, R. L. ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed., Editor-Autor, 2008.
  2. Eco, U. Veja, 2003, 1821, 76-77.

Sobre a mnemônica: mais verdades do que mitos

#ricardobarreto #filosofia #mnemônica

O desenvolvimento da memória é crucial para o aprimoramento das nossas capacidades cognitivas. Isto ninguém pode negar! Mas me pergunto: como pode ela influenciar até mesmo na nossa personalidade? Comecemos nossa busca apreciando o seguinte excerto pioneiro do psicólogo Dunlop:

A memória é como Fanus, o Deus do ano novo. Ela olha o passado, liga-o ao presente e, a partir disso, determina nosso futuro. Somos o que somos, porque lembramos. A memória preserva a continuidade de nossas experiências e modela toda a nossa personalidade.

Noutra circunstância (vide A memória e o tempo) denominamo-la “memória integral”  e estabelecemos que ela deve representar o arcabouço de todas as nossas experiências pregressas. Entretanto, como tal, necessariamente precisava possuir uma estrutura física ou “armação” que a contivesse…

Segundo Geoffrey Dudley, é incerta a natureza exata do processo de retenção da recordações. As teorias mais plausíveis ligam os fenômenos da memória às bases fisiológicas cerebrais. Dentre estas teorias, talvez a mais aceita seja a do tal “fator químico” que propõe as já citadas mudanças conformacionais protéicas (em Genômica consciencial) como fonte do armazenamento da informação ao nível molecular.

O mecanismo de retenção

Se cada experiência pela qual passamos é registrada fisicamente em nosso cérebro, como então explicar a sua dinâmica de funcionamento e intercomunicação?

Existem fortes evidências científicas de que o nosso Sistema Nervoso Central – SNC, através das transmissões sinápticas, funcione de maneira análoga aos computadores, em que tanto o raciocínio, a imaginação e a memória seriam dependentes de milhões e milhões de conexões nervosas, formando-se assim uma espécie de “rede neural” capaz de elicitar seletivamente as lembranças retidas, dando sentido a elas dentro de novos contextos… Isto é simplesmente maravilhoso!

O conceito de “fluxo informativo” que também já foi explorado anteriormente, segundo uma analogia com o modelo do planeta Terra, estabelece que nada há de contraditório ao comparar-se estas duas teorias, tendo-se em vista que de uma exaure a outra…

Primordialmente, a mobilidade das informações registradas em nossa memória integral é função das possibilidades conectivas da nossa rede neural. Ou seja, quanto maior for o número de conexões necessárias para trazer a informação à tona, tanto mais difícil será nossa capacidade de evocá-la.

Seria mais ou menos como navegar na internet sem uma “bússola”, ou melhor, um bom mecanismo de busca chamado Google!

O que chamamos de Estado Alterado de Consciência – EAC, em realidade, nada mais é do que uma postura mental de “relaxamento consciencial”, em que se maximiza nosso potencial conectivo, possibilitando o fluxo informativo entre a Consciência e seus estados funcionais mais obscuros: o subconsciente e inconsciente.

A gênese do esquecimento

Urgem, assim, 2 questões cruciais ao desenvolvimento da nossa capacidade de aprendizagem: como lembramo-nos e por que nos esquecemos? Difícil responder precisamente, ou melhor, como toda boa teoria, desafiador mesmo o é aplicá-la!

Dudley mesmo sugeriu serem quatro os motivos do esquecimento:

  1. Fraca impressão;
  2. Desuso;
  3. Interferência;
  4. Repressão.

Deixo ao leitor, munido dos conceitos até aqui abordados, o ensejo de refletir e interpretar os conceitos por trás de cada um destes fatores. Preciso não o é dizer que todos estão intimamente ligados ao processo neural conectivo…

Façamos aqui somente uma “provocação sadia”:  quão simples não seria a fórmula mágica da mnemônica? Dudley mesmo já a teria revelado como sendo:

  1. Atenção;
  2. Repetição;
  3. Seleção;
  4. Despreocupação.

E olha que boa parte destes conhecimentos só vêm complementar o que Freud já dizia sinteticamente há um bom tempo:

A pessoa normal concentra-se naquilo que lhe parece importante.

Hoje podemos tão somente reforçar que a nossa memória é regida por duas fases completamente distintas: a gravação e a leitura. Toda informação deve ser armazenada fisicamente ao nível molecular, segundo as conformações protéicas.

Sua mobilidade se dá via conexões sinápticas dentro de uma rede neural extremamente complexa, formada por bilhões de neurônios, sendo o EAC tido como o ponto de conectividade máxima, ou seja, o desempenho mnemônico ideal!

Mais recentemente alguns estudiosos estão chamando o fenômeno de “estado de fluxo“. Como atingi-lo? Bem, isto já são outros quinhentos…

Créditos:

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Saiba mais:

  1. Dunlop, E. Psychology, 1954, 18, p. 3.
  2. Dudley, G.A. Como Aprender Mais, 1988, Círculo do Livro, 1a ed., p. 1.
  3. Byrne, W.L. Molecular Approaches to Learning and Memory, 1970, Academic Press, p. 2734.
  4. Freud, S. Inhibitions, Symptoms and Anxiety, 1936, Hogarth, 1st ed., p. 77.

Ética científica – parte II

#ricardobarreto #filosofia #éticacientífica

Um dos campos científicos que tem despertado grande interesse da comunidade, principalmente nas duas últimas décadas, é o da neurociência. Em termos comuns pode-se dizer que esta área do conhecimento envolve toda e qualquer informação concernente à compreensão dos mecanismos que regem o funcionamento do cérebro.

Por muito tempo os neurocientistas encararam o órgão mais complexo do corpo humano como uma “caixa preta”, donde seria muito difícil de se extrair qualquer tipo de informação que fosse além da sua neurofisiologia… O funcionamento dessa intrincada rede neuronal ao nível molecular constituía uma barreira que muitos acreditavam ser intransponível !

Tamanha descrença serviu como alicerce para o estabelecimento de mais um “dogma científico”: o da imutabilidade cerebral.

Há algum tempo ainda era muito comum no meio médico ouvir-se que uma lesão cerebral era irreparável. Atualmente não precisamos mais que um “super-homem” (o ator Christopher Reeve), com seu inigualável exemplo de perseverança e amor à vida, pudesse nos revelar o contrário…

O desenvolvimento da neuroquímica, genética e das novas técnicas de imageamento cerebral possibilitaram a eclosão de uma verdadeira revolução das neurociências nas décadas de 80 e 90. Tais progressos foram fundamentais para se antecipar diagnósticos e acompanhar tratamentos.

No caso do neuroimageamento a possibilidade de observação não-invasiva do cérebro em funcionamento permitiu que os médicos reconhecessem aspectos estruturais e padrões de atividade cerebral característicos de certos transtornos psíquicos como esquizofrenia, distúrbio bipolar e depressão.

No campo da genética, por sua vez, certas variações gênicas indicaram o risco de se desenvolver depressão ou distúrbio bipolar, bem como certas doenças neurodegenerativas tal como o mal de Alzheimer. As manifestações sintomáticas de diversos distúrbios mentais, desde a depressão até o mal de Parkinson são, assim, controláveis graças às fantásticas descobertas da neuroquímica!

O surgimento das “pílulas da inteligência”

Com o interesse das grandes indústrias farmacêuticas nas novas drogas neuroativas, descobriram-se  pílulas verdadeiramente “miraculosas”,  capazes de intervir nos mais complexos sistemas de neurotransmissores e estão causando um enorme furor   devido às suas implicações sociais…

Isto se deve ao surgimento de uma nova geração de drogas estimuladoras da memória, também chamadas de “Viagras para o cérebro” ou “pílulas da inteligência”, o que tem gerado um sério debate ético acerca do uso indiscriminado da melhoria cognitiva. Sobre este tema, o filósofo Leon Kass, chefe do Conselho de Bioética dos EUA, escreveu o seguinte:

“Nestas áreas da vida humana, onde a excelência tem sido obtida pela disciplina e o esforço, a conquista de resultados com o uso de drogas, engenharia genética ou implantes parece ardilosa”.

A possibilidade de um tipo de “ajuste” dos neurônios para se aprimorar a capacidade do cérebro pode constituir um sério problema ético, tendo-se em vista que deve acirrar ainda mais a desigualdade social. Diversas questões éticas foram suscitadas pelos recentes desenvolvimentos da neurociência, dentre as quais pode-se destacar 2 indagações:

  1. Seria realmente terrível se as técnicas usadas para se tratar o mal de Alzheimer possibilitassem modos de se aprimorar a memória normal ?
  2. Qual é a “imoralidade” de alterar o cérebro para aperfeiçoar o seu desempenho, dotando-o de melhores capacidades do que aquelas possuídas por nossos pais?

Penso eu que a moral e os bons princípios devem primar pelo discernimento, sem frear a evolução científica! Fica claro que a problemática se resume ao acesso às chamadas “pílulas da inteligência” porque os ricos teriam a possibilidade de aprimoramento dos seus cérebros em detrimento da população mais pobre…

Este fato rompe irreversivelmente os liames do dia-a-dia, ocasionando situações extremamente injustas como nos processos seletivos de emprego ou até mesmo em exames de vestibular. A questão reside no seguinte: como manter as condições de igualdade nestas circunstâncias?

Contudo, não se pode negar que faz parte da própria essência humana tentar aprimorar o mundo e a si mesma (a raça). Um melhor desempenho cognitivo seria providencial em certas profissões que requerem grande esforço intelectivo como a dos próprios cientistas…

Imaginem vocês o que um Einstein não o faria sobre os efeitos do Donepezil?

Caberá às instituições legais de cada país, portanto, a tarefa de rever seus códigos legais de modo a englobar os novos aspectos que surgem com o desenvolvimento das neurociências. Só assim a neuroética poderá regulamentar a vida social, propiciando o acesso justo às novas técnicas científicas e banindo os abusos delas advindos.

Afinal de contas, não seria tão difícil de se imaginar num futuro não muito distante os candidatos a uma vaga para trainee de uma grande empresa como a IBM passando por um exame antidoping antes do teste de seleção…

Desenvolvimento tecnológico da nações

Os avanços científicos implicam ainda numa questão social estratégica para o desenvolvimento tecnológico das nações, podendo significar grande “gargalo” para países em desenvolvimento como o Brasil…

A geração e gestão do conhecimento para tomada de decisão estratégica são a “força-motriz” da sociedade pós-industrial, representando o novo paradigma social.

Se nos dois últimos séculos a produção de bens de consumo e o acúmulo de capital constituíram a maior fonte de riquezas, hoje pode-se observar radical inversão de valores com os volumes massivos de dados (o tal do big data) e a informação deles advinda,  assumindo o papel de protagonistas dos nossos tempos!

Da mesma forma que o “direito de propriedade” regula as transações dos bens móveis e imóveis que usufruímos, as leis de propriedade intelectual asseguram o direito de exclusividade na exploração comercial do conhecimento aplicado, ou melhor, das tecnologias inovadoras.

O registro de marcas, modelos de utilidades, depósito de patentes e a reserva de direitos autorais são os mecanismos legais voltados para proteção da propriedade intelectual. Cada país possui uma legislação específica sobre o tema, entretanto, existe uma tendência no âmbito global de se uniformizar estas regras através de tratados internacionais.

Entretanto, pode-se vislumbrar nuances no respeito aos tratados internacionais, como exaltado pelo Brasil na OMC ao infringir as leis de patentes para poder produzir em seu território o coquetel de drogas anti-HIV que abriu caminho para estruturação da indústria de medicamentos genéricos, representando importante conquista da sociedade brasileira.

São medidas como estas que nos alertam para a importância da ética sobretudo nas relações estatais, servindo de exemplo em diversos campos da ciência, tecnologia e inovação, conquanto haja um órgão internacional regulador, imparcial e isento de interesses meramente regionais, políticos ou econômicos.

É exatamente aí que são suscitadas diversas questões éticas, em especial quanto aos limites de aplicação da legislação vigente dos países em desenvolvimento, como aconteceu na história recente do Brasil com a polêmica da clonagem humana e dos transgênicos…

Mais uma vez questiono o leitor: até que ponto se deve frear o desenvolvimento da ciência? A resposta fica para cada um, mas a consciência da coletividade é uma só!

Créditos:

Autoria por ricardobarreto.com

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Saiba mais:

  1. Hyman, S. E. Sci. Am. Bras. 2003, 17, 88-95.
  2. Hall, S. Sci. Am. Bras. 2003, 17, 48-57.
  3. Barreto, Henri B. F. Revista Internacional do Espiritismo, ano LXXIX, No 12, 2005, 648-650.