AMOR versus PAIXÃO 136 – 138

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§ 136

Amor é amar. Existe de fato uma “fórmula” para o amor? Os neurocientistas até já encontraram o hormônio do amor: a tal da ocitocina. Quando uma pessoa tem um orgasmo, a ocitocina é liberada e um dos efeitos é de nos fazer sentirmos ligados uns aos outros.1 Mas não se enganem porque este é meramente um efeito fisiológico deste valor tão sublime… Também não podemos simplificá-lo ao extremo com definições puramente espiritualistas do tipo “o amor é a manifestação mais pura da alma”, nem tampouco sentimentalistas do gênero poético como “o amor é fogo que arde sem se ver”. Seria muita inocência! Preciso é, outrossim, conciliar de um lado a verificação científica com os mecanismos mais complexos dos processos mentais originários da consciência que levam à experiência do amor. Aquele que se propaga, como todo valor, atingindo outras consciências. Agora, se tudo isso lhe soar uma perda de tempo, apenas vivencie a “verdade” por trás da idiossincrasia “ramalhiana”: amor é amar. Mais Zen impossível!

§ 137

Da impermanência da paixão. Acontece que o amor tem uma peculiaridade que o torna um valor único e singular em suas consequências. É aquele cujo “efeito de rede”, de reação em cadeia, de viralização, tem a maior intensidade. Talvez isto decorra, a priori, da sensação de prazer gerada pelos efeitos fisiológicos já mencionados. O fato é que são estes efeitos muito poderosos… Existem diversas manifestações do ato de amar. O amor a Deus, o amor filial, paternal e maternal, o amor à pátria, à natureza, à humanidade, aos animais, enfim, são inúmeras as formas de se amar! Vejamos o porquê através do exemplo do amor conjugal. Se minha esposa diz que me ama, suas ações devem confirmar este fato. Isto que torna o seu amor verdadeiro. O amor pode se manifestar num afago despretensioso, numa palavra de alento, num bom dia sincero ou no mais simples ato de cuidar. Quer dizer: colocar o leite na xícara sem pedir, trazer a água da noite ou até mesmo ao dividir o banheiro nas horas íntimas… Sim, se não for em hospital ou albergue, isto só se faz com quem se ama!! Já a paixão é o contrário disso. Não tem nada de estável. Inicia-se com intensidade desmesurada, regada de sentimento, porém totalmente descontrolada acaba rompendo com a racionalidade que é o que mantém o ser em equilíbrio. Aí se esvai e passa a perecer um pouquinho a cada instante. Vem primeiro o ciúme. O sentimento de possessão do outro. A vontade de querer mudar o outro e não olhar pra si. Vem ainda aquela vontade egoísta de perseguir somente os seus sonhos, passando por cima de tudo quanto o seu companheiro gosta e zela. E é exatamente por isso que não dura! A paixão é o mais puro reflexo daquilo que chamamos, no budismo, de “impermanência”. Ou seja, a finitude das coisas materiais, do “mundo da forma”, da realidade manifesta… Tão efêmera como a nossa vida perante a eternidade, o não-manifesto!

§ 138

Um valor de ação. O amor, tal como aqui o definimos, é o segundo estágio dos processos mentais geradores dos valores de ação. Para explicarmos, forçoso é lançar mão de uma categorização muito importante. Temos, essencialmente, dois tipos de valores sutis: os “valores de estado” e os “valores de ação”, com gradações conforme ilustrado a seguir:

Figura. Gradação dos valores sutis.

Os “valores de ação” se caracterizam pela capacidade de propagação, enquanto os “valores de estado” se caracterizam pela sua capacidade de introspecção.

Deve-se observar, no entanto, que esta gradação não é estanque. Ou seja, posso desenvolver a princípio o estado de paz e, ao mesmo tempo, elicitar, aos poucos, o estado de felicidade. O mesmo se aplica aos valores de ação e, portanto, a verdade só pode se manifestar depois de muita prática dos valores de poder e amor.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Da obra no prelo VALOR: desvendando conceitos e quebrando mitos

VOLUME II – CULTURA DE VALOR: aforismos para uma vida plena

Saiba mais:

1. Young, L. J., Wang Z. (2004). The neurobiology of pair bonding. Nature Neuroscience , 7(10), 1048-1054.

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