Ética religiosa

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Ao abordar tal assunto (reconhecidamente polêmico), muitas são as questões que vêm em nossas mentes. Uma delas, no entanto, tem sido constantemente suscitada nos dias de hoje, haja vista seu caráter de “ruptura” com muitos dos dogmas instituídos pela Igreja Católica ao longo da história do Cristianismo.

Eis o dilema: Jesus foi realmente mal interpretado? Veja. Não estamos falando de conduta moral, nem tampouco do “batismo de fogo” que poucos ainda perscrutam… Estamos diante, outrossim, de uma questão de ordem teológica, ligada ao estudo das escrituras sagradas, mais propriamente da Bíblia.

Mas será o “verbo divino”?

Tal foi o ponto de partida de um artigo publicado na revista Galileu,  em que mostra o quanto foi mal interpretado o “verbo divino” durante séculos e mais séculos de transcrições e pregações.

Já dizia João, o apóstolo, em seu primeiro versículo: “no princípio era o verbo”. E hoje, complementando, já não é mais só o “verbo”. Tem também “pronome”, “aposto”, “adjunto” e muito mais… [hehe]

Foram estas, efetivamente, as constatações de um dos maiores estudiosos de crítica textual religiosa do mundo, o Prof. Bart Ehrman, da Universidade da Carolina do Norte (EUA). Ele lançou em 2006 um livro seminal que está causando verdadeiro furor na comunidade religiosa. Ao mesmo tempo, devido ao seu teor científico, tem despertado grande interesse do público em geral. Mas, afinal, o que ele diz de tão impactante?

O poder dos “copistas”

Antes de mais nada, necessário se faz compreender o porquê desta controvérsia. Só para se ter uma ideia, a versão original do Novo Testamento só foi compilada em grego no século II D.C. Sendo assim, como na época pouquíssimos cristãos sabiam ler e escrever, imaginem o privilégio e o poder que os “copistas” desfrutavam em suas comunidades…

Sem falar da possibilidade de adaptar o texto aos interesses de pregação e manipulação, o que acontecia voluntariamente em muitos trechos, conforme poderemos ver em alguns dos principais exemplos exaltados por Ehrman. Só para começar, são desmistificados irrefutavelmente três dos maiores dogmas da Igreja:

  1. Santíssima trindade;
  2. Virgindade de Maria;
  3. Divindade de Jesus.

Primeiramente, em vez de “pai, filho e espírito santo”, o autor mostra que nos manuscritos gregos havia somente “o espírito, a água e o sangue”. Já o segundo dogma, fica patente na mudança textual observada no evangelho de Lucas (2,33). Na versão original tem-se: “… e seu pai e sua mãe ficaram maravilhados com o que se dizia dele…”. Já na versão modificada: “…e José e sua mãe ficaram maravilhados com o que se dizia dele…”.

Por fim, o conceito da divindade de Jesus, fica logicamente equivocado, segundo o trecho do Evangelho de Lucas, em que diz: “Pai, perdoai-os, pois eles não sabem o que estão fazendo”. Detalhe: este trecho foi simplesmente subtraído em algumas versões da Bíblia…

Só com estes pouquíssimos exemplos, presumo eu, já se pode ter subsídios mais que suficientes para responder assertivamente ao questionamento levantado no início, muito embora cada um possa ter suas convicções pessoais irredutíveis, sustentáculos de suas crenças, impedindo-os que vejam a verdade por trás das escrituras originais.

Discutir religião: pra quê?

A ética, indubitavelmente presente nas escrituras sagradas, não foi perenizada ao longo do tempo, sendo, pelas mãos dos homens, no vislumbre do poder eclesiástico, profanada a verdadeira essência de muitos dos ensinamentos cristãos. Por isso, em verdade vos digo, certo está Ehrman ao afirmar que:

A fé em Deus não se baseia nas palavras espalhadas em um livro, mas sim na experiência pessoal que cada um tem com Deus.

Esta experiência pessoal pressupõe que não existe uma religião certa ou errada. Continuo afirmando que Jesus era judeu e em nenhum momento quis instituir uma nova religião. Sua intenção, pelos relatos que nos chegaram aos dias de hoje, era tacitamente a de promover uma reforma contundente, sem “criar novas leis e sim fazer com que fossem cumpridas”.

Passados dois milênios, por outro lado, é muito comum vermos um verdadeiro “mosaico” de crenças religiosas, misturando conceitos e princípios já existentes há muito tempo. Se ainda sim você duvida, vá beber na fonte da literatura védica hindu e verás!

Surge, como resultado dessas novas “roupagens”, o esoterismo e suas mais variadas formas: um movimento que encanta a fragilidade das pessoas pelo seu lado místico. Não menos preocupante são os extremistas religiosos que, ao interpretarem a “palavra” ao pé da letra, cometem erros brutais e atentam contra valores universais sem a menor consciência de seus atos.

§

Ser ético, portanto, quando se fala em religião, antes de mais nada, é respeitar a crença do próximo, mesmo que discorde profundamente da sua posição. Sem tal postura, não adianta de nada sair de casa com um “livro sagrado” debaixo do braço!

Aos olhos de Deus, ou melhor, o que mais nos aproxima de fato dele, são as nossas atitudes em benefício dos outros e não somente de si mesmos… Isto é o que prima a ética religiosa. O mais é nada.

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

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Saiba mais:
  1. Barreto, Ricardo de Lima, ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed. Editor-Autor, 2008.
  2. Franco, E. Revista Galileu, outubro de 2006, No 183, 35-43.
  3. Ehrman, Bart D. O que Jesus disse? O que Jesus não disse?: quem mudou a Bíblia e por quê, São Paulo: Prestígio, 2006.
  4. Ler o capítulo Minha Religião, em Livrovivo: 2000-2002, Editor-Autor, 43-45, 2003.

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