Uma atitude religiosa

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FORMATO DO CONTEÚDO: blog post

GÊNERO LITERÁRIO: ensaio

TEMPO DE LEITURA: 00:03:45

Finalizada nossa análise preliminar sobre ética e a moral (partes I e II), adentrando um pouco mais a fundo na natureza do ser humano, além da sua realidade material, o que o distingue dos outros seres da natureza é o fato dele ser consciente e racional que o caracteriza como uma “inteligência autônoma”.*

Isto significa, em última análise, que o ser humano tem consciência da sua existência (física e extrafísica) e ciência do mundo ao seu redor. Tal propriedade lhe confere uma “dualidade” característica, capacitando-o plenamente para tomada de decisão em sua vida, fundamental ao seu equilíbrio físico e mental tão necessários à sobrevivência.

Dualismo existencial

Pode-se dizer, assim, que somos compostos de uma natureza racional, que nos permite harmonizar nossa Consciência perante os diversos dilemas éticos advindos da convivência social, e de uma natureza científica, responsável pela percepção e compreensão dos fenômenos físicos e extrafísicos experimentados no cotidiano. Nesse sentido, nossa evolução está intimamente associada ao desenvolvimento contínuo e harmônico destas duas facetas humanas. Qualquer desequilíbrio pode gerar sérios problemas conscienciais…

Tanto o cientista mais consagrado, preocupado tão-somente com os seus cálculos e experimentos, assim como também o exímio filantropo, que não procura melhorar os seus conhecimentos, correm sérios riscos de perderem o controle psíquico e caírem em estados psicopatológicos, tais como a esquizofrenia, depressão ou até mesmo o pânico.

Logo, é de se esperar que, para atingir um ponto de equilíbrio nesta dualidade do “ser racional” e do “ser científico”, busquemos, de um lado, o aprimoramento filosófico, através da reflexão profunda num constante esforço pela atitude ética, e, concomitantemente, deve-se buscar a assimilação de novos conhecimentos, que nos permitam compreender melhor nossa realidade física e extrafísica, aguçando a “cosmovisão”!

Só daí, a harmonia reinará em todas as nossas interações com o meio no qual vivemos, possibilitando o gozo natural dos Estados Alterados de Consciência – EACs, um importante canal de transcendência para superConsciência e a chave para sanar todos os problemas conscienciais que arruinam as vidas de muitas pessoas.

Da psicologia analítica

De todas as ciências oriundas da filosofia, talvez a psicologia seja a que mais fortemente se liga aos seus princípios fundamentais. A compreensão da psique humana não é outra coisa senão uma profunda reflexão sobre os mecanismos que regem a mente humana e suas implicações comportamentais, coisa que os grandes filósofos gregos já o faziam desde Demócrito.

De qualquer forma, o que realmente nos interessa é analisar um pouco mais a fundo a tal “lei de função transcendente”, propalada por Carl Jung. Ela estabelece que, para os fatos inexplicáveis ao consciente pela razão, gera-se um “conflito consciencial” que só pode ser neutralizado pela concepção de um mundo à parte dos sentidos, mítico ou imaginário…

Muito embora seja este o pilar de toda a psicologia analítica, não fica clara a analogia e transposição do “mundo das ideias” de Platão? Friedrich Doucet, em suas perambulanças pelo universo das “ciências ocultas”, usa esta ideia para explicar a necessidade do ser humano criar um “mundo religioso”, de modo a restabelecer o seu equilíbrio psíquico e evitar o surgimento das graves neuroses do cotidiano.

A concepção religiosa

Segundo este ponto de vista, somente pela religião (ou, melhor dizendo, pela atitude religiosa), pode-se entender a grande saga do homem pela concepção de um Deus, Senhor do seu “mundo imaginário”, tão necessário à existência quanto o próprio ar!

Todavia, o que não se pode compreender são os inumeráveis desvios de conduta ética, em nome desse mesmo Deus, cometidos pelos “pseudo-religiosos” ao longo de toda história da humanidade.

Até quando ouviremos estes falsos profetas? São eles, como já dizia nosso grande Mestre Jesus, “cegos guiando cegos”. Se olharmos para trás, ver-se-á quantas atrocidades já cometeram nossos antepassados: os horrores da inquisição, as cruzadas sanguinolentas e tantos outros fanatismos que continuamos a assistir ainda hoje, como o inconcebível atentado suicida do 11 de setembro de 2001.

§

Finalmente, não é a extinção das religiões que devemos defender e sim o fim do seu enfoque como instituição humana. O vislumbre do “poder monástico” é inequívoco. Viu-se até recentemente a ascensão de um papa (Bento XVI) dizendo que rezava para não ser papa…

Certo estava Pestalozzi ao afirmar que “a verdadeira religião é a moralidade”. Por isso, tenho hoje a convicção plena de que o melhor é sermos os “pastores de nós mesmos”. O livre-pensamento pressupõe a ausência de qualquer arbitrariedade, o que possibilita a escolha das doutrinas e filosofias que melhor se enquadrem ao estágio evolutivo de cada um. Daí, para a auto-realização, tem-se outra jornada!

 

* Cabe salientar a outra categoria de “inteligência programada” que é totalmente controlada por algoritmos, sem verdadeira autonomia de ação. Via de regra, a autonomia é aparente e só a lógica da sua programação pode revelar as nuances.

 

Créditos:

Autoria por Ricardo Barreto

Conteúdo exclusivo de ricardobarreto.com

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Saiba mais:
  1. Barreto, Ricardo de Lima, ÉTICA EVOLUCIONISTA: a razão da moral, 1a ed. Editor-Autor, 2008.
  2. Para um maior entendimento sobre o termo EAC, vide A Loucura Benigna, publicado pelo autor em Livrovivo 2000-2002, 1a ed., Editor-Autor, 2003.
  3. Friedrich W. Doucet, O Livro de Ouro das Ciências Ocultas, 2002, Ediouro, 37.

One thought to “Uma atitude religiosa”

  1. Muito bom o texto Ri gostei da parte que cita a função transcendente de Jung e tb Platão. Penso que a questão não seriam apenas as instituições religiosas, pois elas tb tem um papel importante na so cidade e benéfico, mas sim a forma imatura que a maioria das pessoas vive sua religiosidade e/ou espiritualidade.

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