Sobre a mnemônica: mais verdades do que mitos

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O desenvolvimento da memória é crucial para o aprimoramento das nossas capacidades cognitivas. Isto ninguém pode negar! Mas me pergunto: como pode ela influenciar até mesmo na nossa personalidade? Comecemos nossa busca apreciando o seguinte excerto pioneiro do psicólogo Dunlop:

A memória é como Fanus, o Deus do ano novo. Ela olha o passado, liga-o ao presente e, a partir disso, determina nosso futuro. Somos o que somos, porque lembramos. A memória preserva a continuidade de nossas experiências e modela toda a nossa personalidade.

Noutra circunstância (vide A memória e o tempo) denominamo-la “memória integral”  e estabelecemos que ela deve representar o arcabouço de todas as nossas experiências pregressas. Entretanto, como tal, necessariamente precisava possuir uma estrutura física ou “armação” que a contivesse…

Segundo Geoffrey Dudley, é incerta a natureza exata do processo de retenção da recordações. As teorias mais plausíveis ligam os fenômenos da memória às bases fisiológicas cerebrais. Dentre estas teorias, talvez a mais aceita seja a do tal “fator químico” que propõe as já citadas mudanças conformacionais protéicas (em Genômica consciencial) como fonte do armazenamento da informação ao nível molecular.

O mecanismo de retenção

Se cada experiência pela qual passamos é registrada fisicamente em nosso cérebro, como então explicar a sua dinâmica de funcionamento e intercomunicação?

Existem fortes evidências científicas de que o nosso Sistema Nervoso Central – SNC, através das transmissões sinápticas, funcione de maneira análoga aos computadores, em que tanto o raciocínio, a imaginação e a memória seriam dependentes de milhões e milhões de conexões nervosas, formando-se assim uma espécie de “rede neural” capaz de elicitar seletivamente as lembranças retidas, dando sentido a elas dentro de novos contextos… Isto é simplesmente maravilhoso!

O conceito de “fluxo informativo” que também já foi explorado anteriormente, segundo uma analogia com o modelo do planeta Terra, estabelece que nada há de contraditório ao comparar-se estas duas teorias, tendo-se em vista que de uma exaure a outra…

Primordialmente, a mobilidade das informações registradas em nossa memória integral é função das possibilidades conectivas da nossa rede neural. Ou seja, quanto maior for o número de conexões necessárias para trazer a informação à tona, tanto mais difícil será nossa capacidade de evocá-la.

Seria mais ou menos como navegar na internet sem uma “bússola”, ou melhor, um bom mecanismo de busca chamado Google!

O que chamamos de Estado Alterado de Consciência – EAC, em realidade, nada mais é do que uma postura mental de “relaxamento consciencial”, em que se maximiza nosso potencial conectivo, possibilitando o fluxo informativo entre a Consciência e seus estados funcionais mais obscuros: o subconsciente e inconsciente.

A gênese do esquecimento

Urgem, assim, 2 questões cruciais ao desenvolvimento da nossa capacidade de aprendizagem: como lembramo-nos e por que nos esquecemos? Difícil responder precisamente, ou melhor, como toda boa teoria, desafiador mesmo o é aplicá-la!

Dudley mesmo sugeriu serem quatro os motivos do esquecimento:

  1. Fraca impressão;
  2. Desuso;
  3. Interferência;
  4. Repressão.

Deixo ao leitor, munido dos conceitos até aqui abordados, o ensejo de refletir e interpretar os conceitos por trás de cada um destes fatores. Preciso não o é dizer que todos estão intimamente ligados ao processo neural conectivo…

Façamos aqui somente uma “provocação sadia”:  quão simples não seria a fórmula mágica da mnemônica? Dudley mesmo já a teria revelado como sendo:

  1. Atenção;
  2. Repetição;
  3. Seleção;
  4. Despreocupação.

E olha que boa parte destes conhecimentos só vêm complementar o que Freud já dizia sinteticamente há um bom tempo:

A pessoa normal concentra-se naquilo que lhe parece importante.

Hoje podemos tão somente reforçar que a nossa memória é regida por duas fases completamente distintas: a gravação e a leitura. Toda informação deve ser armazenada fisicamente ao nível molecular, segundo as conformações protéicas.

Sua mobilidade se dá via conexões sinápticas dentro de uma rede neural extremamente complexa, formada por bilhões de neurônios, sendo o EAC tido como o ponto de conectividade máxima, ou seja, o desempenho mnemônico ideal!

Mais recentemente alguns estudiosos estão chamando o fenômeno de “estado de fluxo“. Como atingi-lo? Bem, isto já são outros quinhentos…

Créditos:

Autoria por ricardobarreto.com

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Saiba mais:

  1. Dunlop, E. Psychology, 1954, 18, p. 3.
  2. Dudley, G.A. Como Aprender Mais, 1988, Círculo do Livro, 1a ed., p. 1.
  3. Byrne, W.L. Molecular Approaches to Learning and Memory, 1970, Academic Press, p. 2734.
  4. Freud, S. Inhibitions, Symptoms and Anxiety, 1936, Hogarth, 1st ed., p. 77.

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